terça-feira, 9 de agosto de 2011

Conquista o Alentejo, Capítulo I

Alguém viu este Verão o controverso anúncio “Conquistaelalentejo”? Ao que consta a paisagem nem tão pouco é alentejana, mas o verbo e a bandeira hasteada levaram à revolta verbal.
Se falo de tal não é para alimentar mais nada, é apenas um pretexto para dizer que este verão me tornei espanhola em terras portuguesas, no Alentejo mesmo, apesar de até ter percorrido alguns quilómetros de praias da linha ao sul de Setúbal, “around” Troia, portanto.
Certo é que quando vi o anúncio já lá estava, certo é que as razões desta minha conquista se prenderam ao foro ( e forro) da bolsa assaltada pela Troika ( e não Troia), certo é que senti saudades dos velhos tempos em que a Casinha rolava por essas estradas europeias afora, certo é que … mesmo assim foi bom. Não são só searas e planícies que forram o Alentejo, o Alentejo é também mar a perder de vista, praias em recantos quase virgens, vacas a pastar quase dentro dos mares, rochas, dunas…merece pois ser conquistado, seja por árabes ou espanhóis ou quem vier por bem, alentejanos por exemplo. E pronto, o Alentejo conquistou-me, cai na rede qual sardinha, voltei atrás no tempo em que as viagens eram de casa às costas mas feita de pano e ferrinhos. Agora, um pouco mais burguesa, mas nem tanto assim, há vivendas maiores e melhores; a Casinha desta vez portou-se bem, até agora nem um furo, nem uma avaria, nem uma raspadela… mas isto é só o Verão I… veremos quando a conquista nos levar ao norte.
Mas chega de preâmbulos, este é o Verão I, capítulo I, por terras do Além tejo com mar. Antes de tudo a volta São Torpes – Sines – Porto Côvo, com destaque para São Torpes. Ali onde a paisagem ao entardecer é assim lunar …


São Torpes lunar...

ali onde as feias chaminés e tubos e fábricas não fazem dela uma homónima da francesa Saint-Tropez, mas ainda assim, para esta família, é mais homónima do que a recém galardoada Praia do Pego. Na francesa não há fábricas como pano de fundo, mas as areias também não são finas e brancas como as artificiais do Pego. O que é igual, nesta bem alentejana, é a tepidez da água , claro que por factores diversos, mas a temperatura é que conta, cada um vê o que quer ver. Neste caso, mergulha-se por aquela água tépida, assim mesmo a dar para o caldo verde que é como lhe chamamos entre família, não tivéssemos tido entre nós um extremoso bracarense emprestado.
São Torpes ficção
E foi no caldo verde que iniciámos este verão I, de 2011, às vezes com uma bola de Berlim com creme à mistura e de sotaque do Nordeste ! , e também com um café do bar azul Trinca-Espinhas, alternando ainda com as falésias de Porto Côvo, as investidas para mais um sabor no Marquês ou uma pizza Dolce Vita. Como se pode ver/ler, consumimos em Porto Côvo e arredores, e friso o verbo, porque o que poderia ter gasto em Espanha ou França ou Alemanha ou ou ou , foi-se gastando em terras portuguesas, nas quais , o autocaravanista continua a ser mal recebido e acusado de actos pouco cívicos, quiçá bárbaros. A imprensa local e nacional voltou a bater na mesma tecla, o que já cansa todos os verões. Por que não mudam o disco e empreendem novas visões onde incluam o autocaravanista com infraestruturas adequadas?
Falésia
Certo é que estive no rol dos indesejados, quando também lá estive, quando também conquistei, quando também consumi… não digo que fui conquistada porque a conquista já se havia dado há mais de 20 anos atrás quando a população, os comerciantes, os dirigentes, enfim, as gentes do Além Tejo como eu, agradeciam qualquer tipo de turismo itinerante, selvagem, doméstico; com muito ou pouco dinheiro nos forros dos bolsos; mesmo sem multibanco na praça,
Pombo crente
mesmo sem filas, mesmo sem animação nocturna a imitar cidades europeias, mesmo sem casa para alugar, mesmo sem tantas casas, mesmo sem autocaravanas a ocupar tanto espaço.




2 comentários:

António Resende disse...

Quem fala (escreve) assim... não é ''gago''!...
Há que resistir e aproveitar este terreninho à beira-mar plantado.
Saúdações Minhotas.
A R

Maria Melo disse...

Também cá em Portugal se viaja bem e se descobrem recantos muito acolhedores, não fora a crónica má vontade contra os autocaravanistas, que afinal também contribuem para o desenvolvimento dos locais. Há males que vêm por bem e a crise está a levar muitos portugueses a conhecerem melhor a sua terra. Eu sou um deles, embora como a Paula Vidigal, tenha saudades dos tempos em que corria por essa Europa fora. Agora não pode ser.
Gostei de ler a sua descrição, como sempre, com ou sem fotos.
Maria Melo