quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Irlandas - dia 6


Dia 6 ( praia Downhill - Mussenden Temple – Dunluce Castle – calçada dos Gigantes – estrada Dark Edges – Belfast).
  
Ainda na Irlanda do Norte, ou melhor, agora é que era mesmo o norte!

Seria o dia de percorrer alguns quilómetros na Causeway Coastal Route e deslumbrar os sentidos com paisagens de cortar a respiração. Basicamente, descidas vertiginosas de alcatifas verdes a cair até ao mar, de tons diferentes de azul, entrecortadas por misteriosos castelos em ruínas, estranhos templos de outrora, lugares místicos onde apetece estar. Por alguma razão a série Guerra dos tronos elegeu parte destas paisagens como cenário sobrenatural para alguns dos seus episódios e nós fomos à procura de uns, sendo que outros vieram ter connosco. 



Downhill Beach

O primeiro de todos, a praia de Downhill, a qual, como o nome indica, fica abaixo de um monte no qual se ergue o estranho Mussenden Temple.




Mussenden Temple

É costume fazerem-se ao longo do areal corridas de cavalos (e de facto estava lá um), mas o mais fascinante é a sensação de pequenez que nos acomete face à força do penhasco onde o templo assenta. Bizarro é ainda o seu historial, nascido de uma longa história de amor que fez com que um bispo mandasse erguer uma pequena rotunda com cúpula mesmo à beirinha do promontório varrido pelos ventos, como um memorial dedicado à sua prima. É caso para dizer “quanto mais prima, mais se lhe arrima”…




Mais uma vez, chegámos em “dia de festa”, o que não nos permitiu ver a sala/biblioteca redonda mas, por outro lado, poupou-nos o preço da visita, dando-nos direito a percorrer os campos verdes até à beira do promontório, a olhar de cima a praia anteriormente pisada e a ver de perto as ruínas do antigo castelo do bispo, Downhill Castle.


                Downhill beach vista de Mussenden Temple


                                              Downhill Castle

Continuando pela Causeway, os olhos extasiaram perante outra estranha construção, o Castelo de Dunluce, com a sua aparência assombrada, mais um cenário inspirador para soturnas personagens, como a família Greyjoy.



Mais à frente, novo cenário invulgar, o qual, segundo a tradição, seria um caminho construído sobre o mar, pelo gigante Finn MacCool para a sua amada, que vivia numa ilha da Escócia.









Versão menos poética adianta que os gigantescos penhascos formados por colunas hexagonais se devem a várias erupções vulcânicas ocorridas há mais de 61 milhões de anos atrás.
Hoje em dia o fenómeno batizado de Giant’s Causeway (Calçada do Gigante) atrai milhares de turistas, pelo que foi difícil fotografar (e pisar) o caminho das pedras, sem nos depararmos com centenas de pés…


Mesmo com as dicas do nosso colega e conterrâneo Luís Seco, no seu site de viagens, Fotoviajar, também não conseguimos evitar o pagamento para estacionar, pois a pista do hotel já não era válida. Fugimos ao estacionamento nos parques pagos para o efeito, 12.50£ por pessoa, para estacionarmos no parque da pequena estação ferroviária, onde, aí sim, pagámos 8£ por estacionamento do veículo.





Tivemos o descanso merecido com um almoço de saladas num pequeno bar entre a Calçada e a atração seguinte, Carrick-a-rede Rope Bridge. Aqui o estacionamento é grátis e calhou-nos a parte inferior, a qual tinha sido cenário para mais um momento de a Guerra dos tronos.



parque de estacionamento - viagem à Irlanda


parque de estacionamento - cenário de Game of Thrones

O caminho até à tão procurada ponte faz-se pelo meio dos campos onde a terra termina num penhasco, ligado a uma pequena ilha por uma ponte suspensa a baloiçar, com 20 metros de comprimento, que se ergue a 25 m. acima do nível do mar. Para a percorrer pagam-se 9 £ (o bilhete compra-se à entrada do parque de estacionamento, por isso, se chegar à ponte e não tiver coragem… demasiado tarde!).











A ponte é (ou era) retirada no inverno e está lá por arte e engenho de pescadores que a colocavam para ter acesso à pequena ilha, onde desciam ao mar (está lá a cabana e o barco) para pescar salmão.



Para matar a curiosidade do lema referente a Guerra dos tronos, tínhamos de seguir o caminho até à misteriosa estrada Dark Edges, local onde os braços das árvores formam um túnel misterioso. Para-se um pouco antes, para que se possa percorrer a pé, até porque o trânsito automóvel é proibido.
É claro que estaria repleta de turistas… o primeiro disparo da objetiva conseguiu a longa avenida e o túnel de ramos, no segundo já havia cabeças, no terceiro troncos e dezenas de corpos andantes. Seriam “caminhantes brancos”?






Sãos e salvos chegámos a Belfast, tendo como lar uma simpática e colorida vivenda vitoriana.




À noite, aproveitámos o facto de termos carro para dar uma espreitadela a um dos ícones da cidade, o Titanic Museum, uma estrutura de aparência naval, erguida no local dos estaleiros onde foi construído o lendário navio.


Titanic Museum 

Tempo para percorrer a pé alguns locais, e encontrar as famosas “Entries”, ruelas estreitas onde ficam os pubs; Albert Memorial Clock Tower, uma versão miniatura do Big Ben, em Londres; o Big Fish, escultura icónica da cidade e muitos murais artísticos.



The Big Fish ou The Salmon of Knowledge


 O dia seguinte seria o momento de vermos outro tipo de murais, penetrando na versão política de Belfast, uma lição que nos tocaria fortemente.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Irlandas - "sunday , bloody sunday"


Dia 5 (Cong – Donegal – Londonderry / Derry)

Mais um dia que se avizinhava longo de estradas, e o primeiro em solo de uma outra Irlanda, a bem dizer a mesma, mas no entanto regida por outros nomes e outros governos.

Seria dia para furar um pouco o desenho do trajeto e parar em Cong, um pequeno lugarejo por onde havíamos passado na véspera e nos pareceu atraente. E era. Foi cenário de um filme, o antigo “Quiet Man”, com John Wayne e revelava um jardim frondoso, quase bosque, com as ruínas de uma abadia, Cong Abbey, outrora lar agostiniano, fundada por rei irlandês.



Museu de Cong




Cong Abbey


Já quase na fronteira para a Irlanda do Norte (geográfica, porque a física por hora não existe, sabe deus o que ocorrerá depois do Brexit…), pausa para almoço em Donegal. 


 pub - Donegal


castelo de Donegal


Sempre pensei que a cidade fosse maior, na realidade pouco havia para ver, a sua larga praça e o seu castelo. Bisámos a sopa de peixe, e ainda bem que o fizemos, a sua qualidade era muito superior à de Doolin.


Também foi em Donegal que não nos esqueceremos de mais um pequeno episódio relacionado com o carro alugado, o mencionado Adblue. Uma luz acendeu ou acendia desde há muito, e foi em Donegal que decidimos investigar. O sinal de falta de óleo piscava, o livro de instruções sugeria a necessidade de adicionar Adblue, produto desconhecido para os seis portugueses desta comitiva, na realidade trata-se de um fluido adicional para carros diesel. Afinal resolveu-se facilmente, um telefonema para a Europcar que nos aconselhou a comprar o dito, pedir assistência no local, guardar fatura para futuro reembolso. Ainda ficámos um pouco perplexos porque o livro falava que sem o “precioso” líquido, o veículo podia deixar de trabalhar. Na realidade, foi estranho a empresa não ter cuidado devidamente do assunto, antes de nos entregar o carro…

Quando chegámos a Londonderry (nome oficial desde o reinado de James I)/ Derry (nome oriundo de “Doire”, que significa “bosque de carvalhos” e denominação mais vulgar) já nos tínhamos esquecido da questão, era hora de passeio pelas suas ruas quase desertas. Talvez por ser domingo, o certo é que o novo apartamento ficava mesmo no centro, na Shipquay Street, e os poucos transeuntes eram turistas como nós. 



Arquitetura inglesa na Shipquay Street


Circundámos a muralha que rodeia o centro antigo ( ergue-se a uma altura de 8 metros e foi palco do grande cerco de 1689, quando 7000 pessoas morreram de fome e doença).



Do alto do Butcher´s Gate, uma das suas portas, perscrutámos o verdadeiro motivo da visita: o Bogside, ou seja, o bairro católico impregnado de murais alusivos à luta histórica entre católicos e protestantes.



Descemos a rua e no meio da avenida, avistámos o mural que anuncia “Está a entrar na Derry livre”.



Nas vizinhanças, o monumento alusivo ao “Bloody Sunday”, o domingo sangrento de 30 de janeiro de 1972, no qual, nos confrontos entre católicos, protestantes e exército inglês, morreram 14 pessoas (entre eles crianças) e mais de uma vintena sofreu ferimentos. 

Os nomes estão lá gravados, o ambiente em volta nada deixa transparecer, mas no ar paira a sensação que estamos a ser apenas “voyeurs” intrometidos numa luta que ainda dói e que ainda é. A música dos U2 ecoa nos ouvidos, deslizamos incomodados.

I can't believe the news today
Oh, I can't close my eyes
And make it go away
How long?
How long must we sing this song?
How long, how long?
'Cause tonight, we can be as one
Tonight
(…)




Sunday, Bloody Sunday
Sunday, Bloody Sunday
Sunday, Bloody Sunday, Sunday, Bloody Sunday (alright)
And the battle's just begun
There's many lost, but tell me who has won
The trench is dug within our hearts
And mothers, children, brothers, sisters torn apart
(…)



Apesar da dor, ou por causa dela, apesar da recente liberdade, ou falta dela, o ambiente da cidade à noite era estranho. Magotes de gente do outro lado da ponte, numa área apelidada de Ebrington, em tudo com ar de ter sido zona de fábricas e estar agora a ser modernizada. 



Realizava-se um festival de música, e nas redondezas, adolescentes, homens e mulheres, desde os 20 aos 60, entornavam álcool e caminhavam meio embriagados, gritando e expandindo os corpos, invariavelmente pesados e gordos.
A festa ouviu-se pela noite dentro, quem tinha vidros duplos conseguiu dormir. Era noite de domingo em Derry, mas não eram os U2 a cantar.


sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Irlandas



Dia 4
Travessia de ferry a partir de Tarbet – Cliffs of Moher – Doolin – castelo de Dunghaire - Galway- “Clos na feirme” (quinta a olhar o lago Corrib, a 50 km de Galway).

Desde a quinta em Killarney, uns bons setenta e tal quilómetros até Tarbet para apanhar o ferry que nos pouparia uns bons quilómetros, em vez de fazermos a volta por Limerick, e nos deixaria já perto de um dos altos momentos da nossa visita, os famosos Cliffs of Moher.






Ferry ( em Tarbet)

É indecente como empregados da empresa nos encaminham quase policialmente para o local pago -  8 euros por pessoa , nem sequer por carro!!!! - para irmos ver penhascos que são Património da Unesco situados no meio de… penhascos. A fama do local teve ainda outro preço: uma peregrinação infernal ao longo das escadas e trilhos que ladeiam os ditos Cliffs.






Cliffs of Moher


O poder da natureza revelou-se soberbo, mas o esforço para fingir que somos nós e ela, a natureza, também. A partir desse momento, soube que até Dublin e ao longo do percurso que nos faltava, sobretudo Irlanda do Norte, não estaríamos sós, por qualquer motivo, o mês de agosto não era o ideal para percorrer terras celtas. Enfim, é o que se pode, deixemo-nos de queixas e vamos ao famoso guisado (“stew”) irlandês, até porque era dia de aniversário de um dos seis excursionistas.




Parabéns, O.!

Para o efeito parámos na pequena e simpática povoação de Doolin, no condado de Clare, capital da música tradicional irlandesa. Não apanhámos o festival, mas o “Gus O´Connoll” proporcionou-nos o esperado guisado e, melhor ainda, a famosa sopa de peixe (“seafood chowder”), servida com pão escuro e manteiga.





Casa em Doolin

A caminho de Galway, ainda houve tempo para espreitar o castelo de Dunguaire. Estava fechado para realização de banquete (cerimónia usual nos castelos irlandeses). Fica por detrás de umas simpáticas casas de telhado de colmo e de uma ponte. A corte do rei que lhe deu o nome, Guaire, era conhecida pelo refúgio de poetas e de cantores de baladas. O local é, de facto, poético.






Castelo de Dunguaire

A música, essa, tivemos direito a ela pelas ruas do centro de Galway onde a animação era variada. Basicamente, percorremos apenas as três ruas centrais, a Eyre, a William e a Shop Street até ao Latin Quartier e admirámos o cais. 








Galway

Para chegar à nova quinta ainda faltavam uns bons 50 km por entre estradas estreitas, uma ida ao supermercado para comprar o jantar e a sua confeção.
A quinta foi uma agradável surpresa: uma vivenda de pedra de dois andares e uma vista agradável para um lago tranquilo, o Corrib.




lago Corrib