
Como filha da planície que sou, tenho sempre aquela necessidade romântica de inaugurar a praia no primeiro dia do ano. Estre ano foi excepção. A inauguração deste clássico evento ocorreu apenas a 5 de Fevereiro.
E, para falar verdade, só aconteceu por causa de outro motivo literalmente clássico. Refiro-me à tragédia de Sófocles, Antígona, em cena no Teatro Municipal de Almada, na noite anterior. Um banho, não de mar, mas de poesia pura pela boca do colectivo do Teatro S. João, Porto. Ali, envolta em sons, sonhos e mitos naquilo que me parecia a casca interior de um barco, fui desbravando águas para adormecer do outro lado da terra, na Costa da Caparica. Já passava bem da meia-noite e ali, no parque de estacionamento, frente ao “Barbas”, poderia estar tudo de molho, mas nem as águas se vislumbravam, tapadas pelas alturas pela mão do homem erguidas. Depois de sonhos com filhas e irmãs honradas, mortes e vinganças do Fatum, o dia acordou sem conflitos e presságios de má hora. Tirando aquele ambiente domingueiro e corriqueiro do fato de treino pela “marginal” e da excursão faminta ao “Barbas” (a crise , aliás, parecia não ter ali chegado)... Para alguns , outros comerão do que pescam...
Mais à frente, pisámos a praia pintada de um Mar de contrastes:
Um banho de luz e bailarinos surfistas

Versus uma areia de lixo

Ou ainda a vivacidade dos animais domésticos

Versus vidas idas que dão à costa

Assim como elementos naturais

versus elementos anormais

Gente vestida-a-fingir-que-toma-banho

versus gente exposta ao tacto frio das águas

Eis o baptismo de 2011, eis Portugal antes da época balnear. Caminhemos à espera de melhores dias...
