Aqui há uns anos atrás fomos ao nosso
primeiro encontro de autocaravanistas. Eram mais de 50 autocaravanas Sky e a fila
de "casinhas" brancas com motivos azuis , numa estrada entre Tomar e a barragem
Póvoa e Meadas, foi a imagem que me ficou na cabeça.
No fim de semana passado fomos ao
nosso segundo encontro, desta vez já sem Sky e sem rolar por estradas em fila,
porém com o objetivo de inaugurar a área de serviço de Mafra e de estarmos com os nossos conterrâneos, também eles amantes de viagens em AC. Iniciativas desta
são sempre de louvar, principalmente porque a resistência de certas freguesias
e câmaras a esta forma de turismo continua a ser grande, assim, cada área que se consegue é mais uma batalha
ganha.

A área de Mafra fica no antigo
espaço de uma escola primária centenária, por isso, no pátio onde outrora crianças
corriam, agora há uma zona de despejos e 3 ou 4 lugares para AC. A escola é
a sede do Clube Autocaravanista Saloio.

É claro que o encontro não
albergou na área todos os participantes, nem metade lá cabia, o espaço onde ”
morámos” estendeu-se pelo parque de estacionamento do Continente, assim à
partida uma coisa impessoal e sem beleza especial.
O almoço, no dia da inauguração
da área, foi brindado com discursos e um moscatel de honra e , claro, não
faltaram os grelhados, por conta de cada um.
Ao final do dia, a rimar com o
ambiente e cenário saloios, um passeio salutar, a pé, até à aldeia típica de
José Franco. Esta aldeia é fruto do
trabalho e sonho de um oleiro da terra, que aqui ergueu nos anos 50 este museu
ao vivo com figurinhas de barro e profissões do seu tempo; uma aldeia em forma
de presépio, um retrato em miniatura do Portugal daquele tempo. Pena que, uma
visita que é gratuita não mereça a consideração por parte de muitos visitantes
que em pequenos gestos, como beatas no chão, não pagam da mesma moeda a quem
tão dignamente os acolhe. Merecia haver um preço fixo em vez da “garrafinha” de
esmolas à saída, até porque, dessa forma, talvez se pudesse contribuir para uma reforma
no espaço que já vai sendo necessária.
A ida à aldeia era perto e bom
caminho, já o mesmo não sucedia com a histórica vila de Mafra. Uns bons três
quilómetros fizeram-nos desistir de ver de perto o grande bloco de pedra branca,
ex-libris e cartão de visita da vila, o Palácio Nacional de Mafra. Além disso,
a visita não seria novidade, noutras andanças que não estas viagens de casa às costas,
a mesma já se realizou e bisou. Deixámos, portanto, de parte, o grande
monumento mandado erguer por D. João V para pagar a promessa da gravidez de D.
Maria Ana de Áustria , sua esposa e rainha, e dedicámo-nos a um espaço mais
aberto, igualmente fruto caprichoso de sua magnânima Majestade. Refiro-me ao
seu espaço particular de caça e de veraneio, as dezenas de quilómetros de terra
intitulada “Tapada de Mafra”.
Flora e fauna constituem uma
riqueza tremenda, tudo visitável e podendo ser usufruído por qualquer cidadão,
em todo o tipo de visitas: pedestres, em comboizito, em carro elétrico, com
guia ,sem guia.
Logo à entrada, no parque de
estacionamento, uma hospitaleira receção com um farto javali habituado a
conviver com seres de duas patas. O nosso serzinho de quatro patas teve de
ficar encerrado na casinha, o instinto de caça é mais forte e ainda por cima o
javali chamava-se Bacon…
Optámos pela visita mais rápida –
de carro elétrico – e tivemos o privilégio de uma visita VIP… éramos os
únicos clientes àquela hora…
Os habitantes do parque são várias espécies : aves de rapina (e espetáculo que não vimos, há horas
específicas para o efeito e não coincidia com a nossa) , muitos e muitos
javalis , sobretudo crias fofinhas vestidas de pijama às riscas; veados e gamos
(infelizmente vimos apenas três , um deles que se deixou afagar, coisa rara
segundo o guia… é o meu jeito especial
para animais…), texugos e cobras que felizmente não vimos.
O meu amigo gamo.
Ao lado do pavilhão de caça real , uma olaia
gigante com as suas folhas roxas, também conhecidas por árvore do amor (as suas
folhas são em forma de coração) ou de
Judas ( diz a lenda que, ao enforcar-se numa olaia por ter traído Jesus, as
folhas teriam chorado lágrimas de sangue).
Pavilhão de caça do rei.
Outras espécies decidiram
esconder-se , nem mesmo o grande sapo que habita no tanque-piscina deu o ar de
sua graça.
Atraídos pela proximidade do mar,
e porque apesar de querermos inaugurar a área não o podíamos fazer, só depois
da atuação do rancho folclórico, partimos em busca de outras paragens rente ao
mar. Em Ericeira foi passar ao largo , já que são pouco simpáticos com
autocaravanas , não nos dignámos parar , esvaziámos na área de serviço de Santana
Susana /S. João das Lampas e fomos almoçar a ver o rio e o mar. Logo após a
praia de Ericeira, entre duas encostas, lá muito a descer, brilha um pequeno e simpático recanto: a foz do rio
Lizandro.
As casas de pescadores estão
agora a começar a ser recuperadas e à beira da praia ergue-se um conjunto de
cafés e lojas para surfistas, num passadiço agradável. À beira rio já se tomava
banho, tépido por sinal e a nossa Ária inaugurou a época balnear em rio.
Depois de almoço continuou o
périplo pelas praias: da Maçã e Azenhas do Mar; mais um recanto saloio, uma
aldeia em socalcos qual presépio, por onde se semearam azenhas e poemas e por
onde corre um riozito em cascata que cai no Atlântico. Lá em baixo, na praia,
uma piscina de hotel e antes uma outra oceânica, agora creio que a ser
transformada em esplanada (???).
Casas ao estilo Estado Novo com
azulejos azuis e brancos , airosas e elegantes a olhar o mar…
Para dormir, praia Grande , num
parque de estacionamento, acima do hotel da piscina. Passeio noturno e matinal
pelas areias longas da praia. Para fechar o fim de semana, uma chuva traiçoeira
bateu nos telhados toda a noite e o domingo nasceu choramingão e sem sol.
Retornámos a casa sempre
percorrendo a costa até Lisboa, num almoço rápido ao lado de outro marco
histórico, aquele onde foi assassinado o general Gomes Feire de Andrade , o Forte
de S. Julião da Barra.
Almoço a ver o mar , para a despedida...