Faz hoje oito dias que regressámos do breve fim-de-semana à costa alentejana. Nesse dia, à medida que conduzíamos atravessando o Baixo Alentejo, o calor era um fogo sem chamas. A metereologia falava em 40 e poucos, a voz popular elevou-se até aos 50 e creio que tinha razão.
Mas, falar do tempo é conversa de quem não tem assunto e o assunto nesta crónica tem pano para mangas: fez ontem oito dias que decidimos inaugurar o tão publicitado parque ZMar, este é, pois, o cantinho para fazer justiça ao ecológico camping, como a crónica anterior já deixava adivinhar.
O espaço é vasto, de preferência a percorrer de bicicleta, ou, na filosofia ZMar, de carrinho movido a energia solar. Aparcámos num alvéolo perto dos sanitários e logo ali constatámos que separar o lixo ecologicamente é palavra de ordem.
A ida à piscina, com o calor que se fazia sentir, era uma prioridade emergente.
Até lá, as poucas sombras fazem com que a famosa piscina de 100 metros de comprimento seja uma miragem ansiada e realizada. Um mergulho no comprido tapete azul é tudo quanto basta para nos sentirmos revigorados, logo seguido de um relax na chaisse-longue ao longo da esplanada de madeira, novamente seguido de novo mergulho ou intervalado por uma corridinha à piscina das ondas... neste percurso de ida e volta e repetição poderíamos estar durante horas, não fora a vontade de conhecer mais e de enganar o estômago.
Perto da zona para campistas, chamava-nos um parque de diversões alternativo e divertido, um chamariz para o final da tarde quando a brisa corre do mar até aos sobreiros, porque as sombras recém-semeadas ainda não se fazem anunciar.
A “Casa da Criança” é também um agradável espaço, para quem lá joga e certamente para quem lá trabalha. Vista de longe parece uma casa de madeira nos Alpes suiços... sem a montanha atrás e muito menos a neve, mas ainda assim com um verde circundante e um cheiro motivador a cera de abelhas e a madeira.
Aliás , o cheiro a madeira é uma constante neste novo mundo natural: para além da dita casa, os sanitários, as cozinhas (na zona camping existem, estrategicamente colocadas, cozinhas equipadas com fogões e micro-ondas, um gesto simpático para campistas com menos meios), a zona principal constituída pela recepção, sala de convívio, supermercado e restaurante, bar, piscina interior , ginásio, sauna, o chão que se pisa: tudo é madeira. Nas esplanadas o material usado em cadeiras, sombreiros e mesas é reciclado. A energia é sempre solar, o fresco é produzido por múltiplas e enormes ventoinhas.
Ao longo do parque também os apartamentos são de madeira, ao que parece bem equipados e arejados , estes já com ares condicionados disfarçados por gradeamentos de madeira.
À excepção da madeira, a paisagem é cortada por duas enormes tendas brancas quais chapéus circenses. Uma sala de banquetes, a outra alberga campos de ténis. Ao redor desta última, múltiplas hipóteses de praticar exercício físico: matraquilhos humanos, campo de basquetebol/andebol / futebol, circuito de manutenção...
Em cantos estratégicos, ainda uma estação Etar e outra de tratamento de lixo.
Depois de tanto admirar, dormimos com os anjos.
A parte menos agradável seria, inevitavelmente, a conta: alveólo para a casinha e quatro pessoas= 40 €!
Menos mal: no dia seguinte, aquando do check out foi-nos dito que podíamos ficar ainda esse dia até às 23.00. Senão final: podiam ter avisado antes, escusava de perder uma manhã de piscina na azáfama de “arrumar a Casa” até à hora do check out!
Aproveitámos até depois de almoço e depois – lá vem a conversa do tempo... – fizemo-nos à estrada porque outros valores se levantavam.
Foi nesse momento que a chapada de calor a subir até aos 50 nos bateu de frente e nos engoliu. A AC devorava asfalto e, à medida que as localidades se sucediam – Chaminés de Baixo, Chaminés de Cima, Bicos (do fogão?), Fornalhas Velhas, Fornalhas Novas – iludíamo-nos no fogo sem chamas acreditando que o mesmo era fruto da toponímia.
Daí a pouco, a ilusão pegava-se ao corpo e aos assentos, o que nos levou a mergulhar nas margens da Barragem de Odivelas, com a esperança de podermos respirar.
Desde miúda que ouço dizer, pela boca das gerações mais experientes, que “o que tapa o frio, tapa o calor”, em Porto Côvo ainda há quem leve o ditado à letra, eu é que não sou capaz...
"O que tapa o frio, tapa o calor".
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