quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Festival Sudoeste: a cantar de galo com o galo Timóteo


Era eu um pinto (o Timzinho) quando a coisa estalou lá para baixo, pró Sudoeste alentejano, numa terriola pouco conhecida, chamada Zambujeira do Mar. Era assim nesses primórdios quando eu ainda ficava na capoeira sem cantar de galo: os moços (adolescentes de ganga e mochilas às costas, punks com cristas como eu tenho agora, hippies com os seus cães rafeiros e molengões) eram largados no largo da igreja e depois iam a pé até ao Festival. Quase 4 km. Pelo caminho iam comendo o que apanhavam, ao que parece milho (ainda dizem que o milho é só para as galinhas!). O certo é que o milheiral ficava depenado e eles prosseguiam viagem até ao sítio. Lá chegados, abrasados e consumidos pelo calor, banhavam-se todos os dias no canal com gel e shampoo. Estes corriam por ali abaixo até Zambujeira e saíam depois nas torneiras da população. Para escorraçar os vómitos e a caganeira, a população muniu-se de comprimidos contra o flagelo. Mesmo assim, nos restaurantes e afins tudo se esgotou. Ninguém estava preparado para tamanha enchente. No ano seguinte a população ameaçou fechar o comércio caso a coisa não tivesse mais condições.

Hoje, passados catorze anos, já a cantar de galo e com direito ao nome por inteiro (Timóteo), fui ao Sudoeste. Os moços – de ganga, com calções de marca, hippies, punks e para todos os gostos - têm autocarro com 1º andar descapotável e já não vão a pé. Se ainda comem o milho, desconheço, é provável que sim, porque alguns mostram sinais de fome. Os banhos já não são todos no canal, há uns duches improvisados e os tanques das enguias.
Eu cá, fui mais fino. Fiquei numa autocaravana cor-de-rosa com a malta, às portas do recinto, sem me meter nas confusões, a ver as filas para o autocarro.


(Eu e a "malta")


(Por falar em filas, ainda me meti na fila do Intermarché, em S. Teotónio, e tive de desistir e ir ao “talho Simpatia -aberto todo o dia” onde vi o espectáculo degradante de galinhas depenadas em atitudes menos próprias.) Bem, da minha “esplanada” ouvia os concertos, enquanto depenicava melancia banhada em whisky! Lá dentro ninguém me revistou e devo ter sido o único a não pagar bilhete (afinal já tinha a pulseira lá da capoeira…).


(As filas)


(Eu e a"malta" na Pinkie)

Também fui à praia. Enquanto os outros procuravam um rectângulo para estender a toalha, a mim bastava-me o poleiro das varetas do chapéu de sol. Ainda por cima à sombra!


(Zambujeira sem espaço)


(Zambujeira a fingir que tem espaço)


Só não fui à praia dos Alteirinhos, o espaço oficial da coisa, muito mais confortável e legalmente aprovada como praia naturista. A avaliar pela experiência do talho Simpatia, o melhor foi não ter lá ido. Eu cá sou um galo moderno, mas sobre nudez (e sexo, por exemplo) ainda penso como o meu avô, que adulterava provérbios, ” cada galo no seu galho”.

(Alteirinhos)


Bom, pode dizer -se que a minha estadia foi “5 estrelas”, à excepção da madrugada, quando eu simpaticamente anunciava o novo dia e o pessoal se punha a insultar-me e até mesmo a ameaçar-me de me torcer o papo. Se os outros cantavam até de madrugada, por que razão eu não podia continuar o concerto? Essa é que eu não percebi e confesso que me pareceu mal.

Vistas bem as coisas, agora que a coisa já arrefeceu, não sei se volto para o ano. Se calhar já ‘tou velho para estas andanças e nunca se sabe quando me passarão a tratar por “cabidela”…


P.S. Esta crónica não é inteiramente ficção. Caso seja lida pela “malta”, espero que nela revejam o seu protagonista e não levem à letra a última palavra.

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