domingo, 15 de janeiro de 2017

Astúrias; “paraíso natural”: “pueblos” com história e tradição (Cangas, Covadonga, Lhanes, Andrín)


Cangas de Onis é, sem dúvida, o ponto central para qualquer partida e chegada: para partir para os lagos – Enol e Ercina (aconselho a visita até lá no autocarro da Alsa, com partida da estação rodoviária de Cangas, mesmo ao lado da ASA); para partir para o Sella; para partir para a rota del Cares ou ir até Potes e dali ao cimo da montanha no teleférico, em Fonte Dé.

(Varanda em Cangas)

Um senão em Cangas: como ponto de partida e de chegada para os Picos da Europa e todos os outros aqui mencionados , merecia , ou seja, os turistas autocaravanistas mereciam, um outro tipo de receção. A exígua e parca ASA (4 lugares de estacionamento num mero parque de estacionamento estilo mix, apenas com os serviços básicos. Para tal contornar,  neste ano (2016) não lutavam por estacionar à noite no parque envolvente (onde aliás diz ser proibido) e constituíam um bairro no terreno de terra batida adjacente à estação de autocarros. Um sítio feio e que desconfio vir a levar outro rumo, mas que nos facilitou a vida e a bolsa porque era grátis e seguro.

Mas Cangas é  também um belo local para estar. Foi o berço das Astúrias com a conquista do território aos árabes por Pelágio, coroado como o primeiro rei de Espanha e capital das Astúrias até ao ano de 774. Por aqui andou e tem direito a estátua, bem em frente da curiosa igreja de Nossa Senhora da Assunção, no centro de Cangas.




 Cangas é atravessada pelo rio Sella e pelo Gueña , onde muitos aproveitam os rochedos quase romanos para deles fazer prancha de saltos. Digo quase romanos porque ali estão certamente desde a romanização acompanhando os passos de quem sobe tão íngreme e ogival ponte.








Mais a norte a capela de S. António e também “aula del Reino das Astúrias” onde a lição é sobre História feita de reis lutadores e conquistadores.

Outro ponto de peregrinação é a capela de Santa Cruz, primeiro templo cristão neste território, onde se encontra sepultado o rei Fávila, filho de Pelágio e onde se contempla o altar da Vitória, no qual Pelágio celebrou a vitória de Covadonga.

Hora, pois, de ir até Covadonga. Faz parte da peregrinação mesmo que seja pela enésima vez… 


Desta feita fizemos a viagem de autocarro. A cova onde está sepultado Pelágio e onde hoje muitos crentes, peregrinos e turistas se amontoam, foi batizada de “Cueva de Santa Vitoria”, mas eu sempre li em Eurico, o Presbítero que fora ali que Pelágio e o seu bando se havia escondido dos árabes e dali os vencera.








 Ficção ou não, imagino sempre os cavalos e heróis escondidos na gruta e Eurico a partir dali para se encontrar com a sua Hermengarda na Basílica que hoje domina o monte. Lá chegámos e, de facto, havia um casamento , seria o par amoroso a dar o laço que outrora lhes foi proibido? Deixámo-nos estar a contemplar e a ouvir as gaitas de foles que tão bem soavam por entre montes e escarpas. Pelágio assistia, a noiva e seu “Eurico” sorriam.



Basílica






Esperava-se que o reino das Astúrias, verde e de águas frescas, transpirasse brisa e fresquidão , mas aquele dia era de verão, um  verão seco e abrasador , como se fora Alentejo, como se fosse casa. A solução era voltar atrás às praias ou prosseguir para outras, abrindo alcatrão dentro de ar condicionado. Prosseguimos pois, perseguindo o oceano , tentando na costa de Lhanes fazer as “rondas del buffones”, mas sempre sem êxito.

Ainda ficámos em Lhanes, onde as páginas web indicam que existe uma ASA. Ainda longe da vila, lá as encontrámos, estacionadas numa zona urbanizada, a ASA seria eventualmente um parque ainda por inaugurar onde ao lado havia um circo.


Lhanes é sempre agradável, especialmente percorrer o relvado sobre o mar para depois descer à vila medieval, pequena mas simpática, onde o turismo reina, com as suas lojinhas, os seus bares e restaurantes com pescado e a famosa sidra asturiana.




Depois de Lhanes, mesmo com calor, não procurámos o banho do mar. Continuámos pela costa e o périplo fez-nos atravessar mais um “pueblo” castiço, com história e tradição, dando de caras com as festas locais. Chamava-se Andrín e ali decorria uma alegre procissão com andores feitos de pão e bolos e um grupo de folclore ao som das tão simpáticas gaiatas de foles. Em procissão iam até à capela matriz, e nós juntámo-nos ao grupo. 








Todos vestidos de domingo, exceto nós, de ténis e roupa casual de turista “pé descalço”. 



Apercebemo-nos então do calendário, era o 15 de agosto, e nós, para variar, sem víveres. Já vos aconteceu? Connosco é recorrente… Parecia mal roubar um pão do altar, mas foi ele que nos recordou que nem uma migalha tínhamos. Sorte a nossa, passou na estrada a carrinha do padeiro… com um pouco de imaginação, uns ovos comprados num camping na estrada, e um bacalhau ainda português no congelador, e lá nasceu um típico e salutar bacalhau à bráz,  terrivelmente  cobiçado por neutros hermanos se naquele momento entrassem na casinha estacionada algures entre o campo e uma estação de comboios, entre o histórico reino das Astúrias e a vizinha Cantábria.

A partir dali a viagem continuaria por outros campos e montanhas verdes. Cantábria, buenos dias , aqui vamos nós !

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