De tudo sobressai o verde. E as hortênsias azuladas.
E a força brutal da Natureza que permitiu a criação de terra
em cima das águas, em cima de um dragão em chamas para sempre ou não
adormecido.
Começo pelas lagoas, desta que é conhecida por “Ilha Verde”,
isto é, S. Miguel, “in” Açores.
Debaixo dorme o dragão e à superfície são espelhos de água de
diferentes tonalidades. Novamente o verde, novamente o azul. Umas, trilhos
abaixo; outras vistas por trilhos acima. Elegantes, vaidosas, exuberantes.
Começo pela das “Furnas”, não por ser a mais bela ou a menos
atraente, simplesmente porque foi a primeira a surgir-nos à frente, depois de
termos concluído que a das Sete Cidades estaria banhada em nevoeiro. Felizmente
que os tempos modernos criaram aplicações como o “Spotazores”, que nos permite
aceder, através de uma inteligente webcam,
ao tempo real dos vários lugares mais turísticos dos Açores, nomeadamente das
lagoas.
A das Furnas é circundada por árvores de um verde luxuriante.
Não se pode tomar banho, mas é navegável em barquinhos de plástico. Todo o seu
perímetro pode ser percorrido a pé, passando-se ao lado da Capela de Nossa
Senhora das Vitórias, mais misteriosa e sedutora vista de longe do que de
perto. Ao longo do Centro de Interpretação, seres de madeira espreitam…
O plano mais alto para a pose fotográfica da lagoa é do alto
do Pico do Ferro, donde também se tem uma visão grandiosa das fumarolas (delas
falarei mais tarde) e da povoação.
A mais extensa de todas, a das Sete Cidades, é dividida por
um pequeno muro que curiosamente as separa num dueto de cores, a “Verde” e a
“Azul”.
O ponto inesquecível para a observar não é de modo algum o
Miradouro da Vista do Rei. Embora também o seja...
Lagoa das Sete Cidades, da Vista do Rei
Apesar da escassa sinalética, conseguimos encontrar o Miradouro da Boca do Inferno, nome de atribuição duvidosa, dado que o cenário toca o domínio dos Céus.
Há que entrar num espaço de zona protegida com um portão que
assinala apenas “Lagoa do Canário”. Percorre-se primeiro o trilho do lado
esquerdo da estrada e, sem de tal suspeitarmos, no interior de uma densa
floresta, deparamo-nos estupefactos com diferentes tons de verde. Os das águas
e os das árvores. É a Lagoa do Canário.
Retornando à estrada que fica para dentro do portão, pode
ir-se de carro até ao fundo, até se chegar perto do Miradouro que
é tudo menos infernal.
Após uma breve subida a pé, dir-se-ia que chegámos ao Céu,
abrindo-se à nossa frente o sublime conjunto de várias lagoas e cores, a Verde
e a Azul, a de Santiago, a Rasa… A respiração para, assim como o tempo. Para-se
e fica-se calado, vergado perante a Natureza.
Depois disto parecia que mais lagoas seriam mera estatística,
mas a visão da Lagoa do Congro também arrepia os sentidos. Especialmente
porque, para lá chegar, se vai descendo um trilho por entre folhas e troncos
rasteiros, escolhendo o chão que se pisa, para, sem estarmos à espera, depois
de sempre a descer, ela nos aparecer pintada de verde, mesclada com a vegetação.
Um enorme buraco verde e um enorme silêncio espaçado por leves trinados…
Precisamente por estar num buraco e não no topo de um cone,
as suas águas ressentem-se de alguma poluição, sobretudo dos fertilizantes dos
campos que para ali escorrem com a água das chuvas.
Ao contrário desta, no topo do cone vulcânico está a Lagoa do
Fogo, a segunda maior da ilha.
Nesta pode tomar-se banho e, para a admirar,
nada como subir até ao Miradouro da Serra da Barrosa.
São mais de uma vintena, por isso oito dias não chegam. Até
porque a ilha de S. Miguel não se resume a águas escondidas no meio do verde,
ainda há os trilhos escondidos para lá chegar, as águas do mar, as águas
quentes e borbulhantes, o verde dos campos, as eternas flores, as vacas que
sorriem, a simpatia dos ilhéus, os petiscos ao pôr do sol, o clima temperado e
ameno, a chuva… quem diz ainda que bastam os cinco dedos de uma mão para a
conhecer? Só quem não a conhece…
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