Às vezes até para passear é preciso inspiração, pois não vale a ideia de que qualquer sítio serve. Às vezes depende do estado de espírito, de com quem se vai, da aura, sei lá…
Certo é que desta vez não havia um sítio especial, tanto podia ser a norte como a sul, e nem tanto, porque à partida seria sempre acima de Lisboa e provavelmente só até ao Porto.
Lisboa, por contingências familiares, foi o primeiro pouso. Umas horas de convívio com um velho amigo e tudo a propósito de um certo jogo que, contrariamente ao futebol, levou à derrota do Sporting, o que é sempre bom de se ver.
Por falar em maré de amigos, optámos por fazer a ronda indo até à Figueira da Foz, pescando uns para o resto dos dias de passeio e apanhando, por tabela, um Carnaval nada português e muito menos brasileiro. É assim como que “um metade em um”, já que não deixando de se ser português (com pouca vivacidade e alegria) se tenta imitar o Brasil do lado de fora (nos trajes – ou melhor, poucos trajes – e na música de fundo. Para compensar a falta de qualquer coisinha, havia sol. Havia ainda um Parque das Gaivotas repleto de dezenas e dezenas de AC, o que me fez interrogar os meus botões: “Com tanta depósito e sanita química, e sem torneiras ou despejos perto, onde vão tantas despejar o que não pode ser ali despejado?”
(Parque das Gaivotas, Fig. da Foz)
Quanto a nós, optámos não pelo norte, mas pelo sul, porque os dias disponíveis já estavam em contagem decrescente. Assim, despejámos na zona para AC na Batalha, já que o propósito era histórico e cultural: Santa Maria da Vitória.
Antes porém, porque a hora e as barrigas o ditavam, com ovos e espargos, ali mesmo celebrámos um belo e verde petisco. Ficou-nos a dúvida: será por alguns considerado acampar ou pic-nic ilegal? Assim, para que não haja melindres, deixo à escolha duas opções:
Opção a)
Opção b)
Feita a visita histórica às paredes do passado, umas perfeitas outras ainda imperfeitas, continuámos na mesma onda, num desviozito a Porto de Mós, ao altaneiro castelo que, no topo da colina, mais parece de fadas ou de ilusão. A subida não nos valeu a entrada, já que em Portugal se fecham as portas em vez de se aproveitar os poucos recursos turísticos que possuímos. O castelo “da lego” pousou para a foto e, depois de um refrigerante na esplanada ao lado do rio Lena, lá partimos, para passar a noite, em direcção à Nazaré.
Mosteiro da Batalha
(Porto de Mós)
Do alto da estrada logo vimos algumas dezenas de AC em parques de estacionamento (perto dos Bombeiros) e estacionámos para ir ver o pôr-do-sol no mar. Nazaré animava-se com outras vestimentas: rapazes e raparigas, homens, mulheres e até idosos, em esplanadas, pela marginal, nas ruelas labirínticas do povoado festejavam o Carnaval, de modo natural, todos envergando outras peles. Regra geral, o sexo masculino alegremente vestindo-se do belo sexo, com saias e rendas da Nazaré. Outros com máscaras mais para o veneziano, outros com um chapéu ou uma veste longa, ou um casaco mais extravagante, ou até de Nazareno, só lhe faltando arrastar a cruz pelas ruelas íngremes.
O espírito era pois de alegria generalizada e como se estivessem todos a preparar-se para qualquer coisa. Nada programado, mais espontâneo do que uma hora marcada de desfile, totalmente diferente de escolas de samba ou dos nus de collants entre o frio português e o quente do Brasil.
Turistas e sem máscara preferimos rendermo-nos à boa mesa do restaurante Ti’ Adélia, saboreando o bom pescado nazareno.
Depois de uma noite dormida aos soluços, graças ao alarido das noitadas festivas dos mascarados, lá nos dispusemos a ver de perto, via teleférico, o sítio que deu nome ao dito cujo. Já que o castelo fechado de Porto de Mós, do qual foi alcaide D. Fuas Roupinho, tinha sido vislumbrado na véspera, havia que ir quase ao desfecho da história do herói lendário, quando esteve prestes a despenhar-se no vazio azul, não fora o milagre da Santa.
Dali saímos reconfortados, depois da descida a pé até à vila, para nos reencontrarmos com o resto do grupo (que viajava em carro), em S. Martinho do Porto. Só depois de almoçados e já em Óbidos, é que nos apercebemos que, só por uma unha negra, é que não havíamos sido assaltados. A fechadura do lado do condutor estava forçada, algum amigo do alheio havia tentado entrar na casa que não lhe pertencia. Feitas contas e análises quase que chegámos a uma conclusão, sendo o balanço muito feio já que pintava de negro o estacionamento na Nazaré. Felizmente que o epílogo se ficou por uma fechadura… fechada, mas que leva a pensar e a temer, leva…
Em Óbidos a vila preparava-se para o Festival de Chocolate, e como sempre, as ruas enchiam-se de turistas. Breve espreitadela à muralha e partida para as Caldas, onde não resistimos ao apelo da Sétima Arte. Em boa hora vimos o nomeado “O Estranho Caso de Benjamim Button”, uma adaptação de um pequeno conto de Fitzgerald, que vai mais longe que o livro. www.benjaminbutton.com
O argumento prende e a estranheza do tema leva-nos a questionar o que é isto da vida, do passar do tempo, do caminhar para a morte. Os efeitos da caracterização também dão que pensar, ver o Brad Pitt mais jovem ficou-me a martelar durante uns dias…
Apetecia ficar mais uns dias… para despedida, soube bem o descanso nocturno na Foz do Arelho e o passeio matinal até à beira-mar… apetecia mesmo ficar mais uns dias.
(Foz do Arelho)
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