sábado, 18 de julho de 2009

As viagens também são como as cerejas






As conversas são como as cerejas, umas levam às outras e falar de França de há uns anos atrás, levou-me a outra cereja ainda mais recuada no tempo. No tempo em que ainda nem sonhávamos com casinhas andantes, as férias eram muitas vezes passadas num iglo de 2/3 lugares, transportado por um Opel Corsa. A cozinha, essa, era uma caixa de papelão com algumas iguarias, um fogão “camping gás” de uma boca e loiça q.b. para os viajantes envolvidos.
Foi assim em 1997. Dois adultos e uma criança de 5 anos decidiram conhecer La France, munidos do dito voiture e de uma casa de pano.
O prato forte era percorrer o Loire e alguns castelos, dar um salto a Paris e Eurodisney e depois um pouco de Normandia e Bretanha.
Logo no segundo dia pisávamos a fronteira francesa, ficando deslumbrados com o Pays basque. Não fora as filas dos veraneantes e os campings esgotados, e a estreia teria sido cinco estrelas. Logo nessa noite, depois da dificuldade de encontrar lugar num camping, o céu abriu-se numa forte trovoada que nos fez pensar que os raios e a chuva nos transformariam em Noé sem barco.
No dia seguinte, o sol brilhava e a casa de pano foi dobrada molhada para que percebêssemos para todo o sempre o romantismo da vida de pé descalço.
Antes de entrarmos no país dos castelos, decidimo-nos por Poitiers, e, mais uma vez, o céu pregou-nos a partida da véspera, o que nos fez procurar um Hotel. A cidade abarrotava de gente, e foi no Turismo que negociámos um quarto de Hotel , logo ali junto ao Hotel de Ville, 311 francos para dois e meio.
A cidade revelou-se simpática e acolhedora, com alguns pontos de interesse artísticos: Notre-Dame-la-Grande (só de nome…) e os seus vitrais, o Baptistere Saint-Jean, o Palais de Justice.

Poitiers, Notre-Dame-la-Grande (?!!!)





Depois entrámos no reino dos castelos ao longo do Loire.
Loches - onde ficámos naquele camping familiar que durante anos nos enviou um cartão de Boas Festas ( o tal que voltámos a repetir o ano passado). Como não podíamos ver todos os castelos, limitámo-nos a passear pela vila saboreando as vistas exteriores, o que não foi mau, porque assim, o ano passado, tivemos a oportunidade de visitar o interior do castelo. Aproveitámos dois dias em Loches de sol e tempo ameno, cozinhando bifes de cócoras e sopa de pacote para mimar o “petit” fã de sopas. A piscina da Câmara, mesmo ao lado do camping e de acesso gratuito, foi outra alternativa de sucesso, deu também para perceber como os franceses, até em pequenas localidades, têm condições que suplantam o cantinho pouco desenvolvido onde nascemos…
A seguir a Loches elegemos dois dos grandes castelos que merecem parar e entrar: Chenonceau e Chambord. O primeiro assenta por cima das águas do largo rio, deixando-o passar por entre as suas arcadas de espelho. Nesse dia chovia e tivemos de puxar das capas amarelas, o que nos fez agradecer a quem no-las tinha sugerido, pois Agosto em França não é o mesmo que o Agosto alentejano…





(Chenonceau)




Contrariamente a Chenonceau, Chambord aterra, altivamente, sobre uma farta coberta verde e lá dentro as suas escadarias em caracol e as grandes salas, muitas delas vazias, ecoam de passado e mistérios.




(Chambord)




Ao longo das estradas outros castelos espreitavam, uns privados, outros com grandes portões de bicos dourados, outros ainda ao longo das florestas cerradas. Muitas vezes até para entrar no parque da floresta há que puxar dos cordões à bolsa e pagar “le billet”, o que implica saber resistir a tanta beleza e comercialização.
Fora dos campos verdejantes e das florestas, percorremos ainda outras pequenas / grandes cidades, como Blois (com um camping completamente primitivo de sujidade) e Chartres, onde parámos propositadamente para admirar a grande “floresta do gótico”.



Blois, Hotel de Ville



Chartres, Notre-Dame


Em Paris outras aventuras nos esperavam: íamos dormir num apartamento de uns alentejanos emigrantes que não conhecíamos pessoalmente. O apartamento da concierge (a alentejana em questão) ficava em pleno coração da capital, mesmo ali a roçar o Arco do Triunfo e no prédio, imagine-se, da companhia de aviação de Antoine St. Exupéry!
Chegámos em bom dia: o casal era contemplado com o seu segundo rebento, o Brian, que tivemos o prazer de conhecer uns dias depois, regressado da maternidade.
Fizemos, pois, o papel de concierge, recebendo o correio matinal, ficando a sós num T0 minimalista.
No mês de Agosto os carros não pagam estacionamento e assim deixámos o Corsa em frente à porta e partimos a pé e de metro à descoberta de Paris:
Jardins das Tulherias, Louvre, Notre-Dame, Orsay, Invalides, e o imprescindível passeio de bateau-mouge ao final do dia. Ainda Centre Georges Pompidou e as performances de alto valor artístico durante todo o dia. E, claro, Place du Tertre para umas lições de pintura e um mergulho no século do Impressionismo.



Os pombos de Notre-Dame, Paris


Animação em Charles Pompidou



Louvre


Tertre e os artistas impressionistas


Pont des Invalides



Depois a ida até à Eurodisney, num dia esgotante de emoções mesmo, mesmo até ao seu fecho. Durante o espectáculo nocturno o jovem de 5 anos apagou-se por completo e por mais que o chamássemos e lhe abríssemos literalmente as pálpebras, o véu era só negro e certamente estrelado de sonhos. Nem o céu estrelado do fogo de artifício foi capaz de o abanar dos braços de Morfeu.





Depois de termos conhecido o recém-nascido em terras francesas, lá partimos rumo Norte até Rouen, não sem uma paragem obrigatória em Giverny para conhecermos outro reino encantado: os jardins japoneses de Monet e a sua casa-museu. Quanto mim o grande momento mágico da viagem e por isso decidimos logo ali abrilhantá-lo ainda mais, dormindo numa pequena casa de turismo rural verdadeiramente romântica (24, rue du Moulin, Fourges) . O pequeno-almoço matinal servido no pequeno jardim colorido, ficou registado no top das memórias.



A casinha onde dormimos



Casa de Monet


Jardins japoneses




Até Rouen, alguns pontos de interesse: Vernon e abadia Fontaine-Guérard.



Rouen



O sol voltou a brilhar por aquelas bandas e, de caminho até Mont St. Michel, presenteámo-nos com um camping de piscina para refrescar corpos e almas. Ao fim da tarde a aparição do Monte produziu um embate de cortar a respiração. Na realidade, essa sensação repete-se sempre em qualquer altura do dia, o monumento a St. Michel existe mesmo para nos deixar deslumbrados e boquiabertos.




Saint-Malo é outro ponto para maravilhar: o seu ar marítimo, piscatório, a língua azul aqui e o outro mundo lá longe encantam…




Completamente diferente, por ser mais elemento Terra, Dinan não lhe fica atrás. São outras cores, mais flores e menos azul, mais Bretanha e outra tradição, outros costumes e afinal é ali tão perto.
Por ali nos ficámos, conscientes que tínhamos de lá voltar. Fizemo-lo mais de 10 anos depois e valeu a pena.





Afinal as viagens também são como as cerejas!

domingo, 5 de julho de 2009

Os nossos vizinhos do lado



Os nossos vizinhos do lado, igualmente autocaravanistas, vão-se estrear além, além-fronteiras até terras de gauleses, franceses, nativos daquela língua que todos nós (nascidos no século passado) aprendíamos como 2ª língua e que agora, coitada, se vê preterida até por a de nuestros hermanos.
Ver o mapa gigante estendido na mesa destes estreantes de casinha às costas, partilhar roteiros e aventuras, aguçou-me o apetite de relembrar e eternizar uma viagem que já ficou lá tão para trás…
Com dois putos criados a ouvir as histórias de sempre adaptadas depois pela Disney, o parque temático francês do mesmo nome era algo que fazia parte dos seus sonhos. Ainda para mais quando os pais, quais criancinhas, o haviam conhecido antes deles e papagueavam, encantados, as delícias que por lá tinham provado.
Não havia pois outra alternativa: quando o mais novo ia comemorar os quatro anos, nada como presenteá-lo com uma viagem inesquecível. Durante dez dias, durante umas férias da Páscoa, ainda também estreantes (foi uma das nossas 1ªs grande viagens além-fronteiras), lá abraçámos França deslizando na nova vivenda.
Lembro-me que o primeiro dia foi uma directa até França para pernoitar em Hendaye, num parque de estacionamento repleto de Ac onde, anos mais tarde, já não era possível a mesma hospedagem.
Havia que devorar muitos quilómetros porque Paris é lá bem em cima, mas muitas horas de viagem não são um aperitivo doce, daí que antes disso parámos perto de Poitiers, num parque baptizado de Saint-Cyr, onde nos instalámos num camping simpático, junto a um lago com “praia” e desportos aquáticos, porque na época éramos tão, tão maçaricos que nem tínhamos percebido que França é o paraíso das zonas para AC! Daí ficou registado na memória gustativa um magnífico crepe au chocolat, num envolvente verde campestre.





Ao terceiro dia chegávamos a Paris preparadinhos para nos instalarmos no camping Bois de Bologne, mas não contávamos com a forte afluência que nos levou a mudar de planos e ter de procurar outro camping, do lado oposto de Paris, numa localidade chamada Tremblay. O camping era ladeado pelo rio Marne e estava infestado de AC italianas. Aproveitámos para um percurso de bicicleta ao longo do rio, deitando olhadelas para os barcos-casinhas ancorados ao longo do passeio.
De Tremblay até Paris ainda são uns gordos, mas fáceis 45 minutos. Fomos no dia seguinte, de comboio, numa visita relâmpago. É claro que Paris não merece que a contemplem apenas num só dia, mas outros dias virão e outras visitas já lhe haviam sido mais dedicadas.
Desta vez ficámo-nos por alguns pontos centrais só para que os mais jovens ficassem com umas luzes da cidade que se veste de Luz: arredores do Centre Georges Pompidou para que penetrassem no ambiente de animação, cor e ecletismo de gentes; Notre Dame da igreja até aos sinos porque o Corcunda era um mito real para o mais novo; Torre Eiffel para que o ex-libris se materializasse. Pelo meio, Quartier Latin para cheirar odores de várias cozinhas, o Seine sempre a luzir e uma chuva miudinha sempre a acompanhar-nos.




Lembro-me sempre que foi em Paris que vi pela primeira vez homens-estátua


E fontes que brincam



E uma livraria com o nome de do Grande Inglês




Seria esta a gárgula que tanto ajudou o Corcunda?






A visita foi breve, daquela vez não havia tempo para mais. Nada de Louvre, nem Orsay ou museu Picasso; nada de Montmartre e Place du Tertre, Moulin Rouge; nada de Champs Elysées; nada de galerias comerciais; apenas uma pincelada de luz ainda assim impressionista.
Finalmente era chegado o grande dia dedicado à infância de todos nós.




Eurodisney, claro!


A lenda do Rei Artur com novos protagonistas.



Espectáculo ao vivo: Pocahontas


Desfile pelas ruas




"-Quero um autógrafo!"


A noite, essa, foi passada tranquilamente no parque próprio para AC da própria Eurodisney.
E como a loucura aniversariante era contagiosa, depois da estrada até Marne la Valée, voltámos em sentido contrário e apanhámos outro monumento à infância e adolescência: parque Astérix, um mundo igualmente delirante de magia e encantamento, sobretudo para o mais novo, claro, para o qual, conhecer o Astérix e Obélix em carne e osso foi um prazer a dobrar.






O enquadramento também é artístico



E também há animações ao vivo



Carros que voam


A aldeia gaulesa


Romanos perdidos



Astérix não é, contudo, muito amigo das AC e depois de um dia esgotante de tropelias e correrias em veículos de 4 rodas, voadores e deslizantes, começámos o percurso de retorno, parando no Loire, em Chateâudun. Às 21,30 o simpático e hospitaleiro guarda-nocturno do camping, abriu-nos a porta e recebeu-nos mastigando. No dia seguinte, um camping caseiro e verdejante sorria-nos, assim como les baguettes debaixo do braço e um paqueno chatêau mesmo ao lado do muro da quintarola.
Era o dia do aniversário e foi passado aos saltos entre verde, pássaros tenores, burros, rios e castelos… com uma espada e capecete iguais aos do Astérix!!!
Chatêaudun é uma vila antiga e o seu Castelo (para nós palácio) é dos mais antigos do Loire. Um pouco de História para finalizar não era uma má prenda.






Para assinalar o dia eternamente nada com um “pic-nic sur l´herbe”sendo o protagonista da toalha um bolo com velas. Os meios eram os que estavam ali à mão de semear, ou seja, um bolo de Páscoa (com sabor a plástico!!!) de chocolate e ovos, do Intermarché mais próximo.





Estrada e costa abaixo, acabámos por entrar quase no mar, curvando pela zona da Baía de Arcachon até pararmos em Pyla sur Mer. Soubemos também na pele que em França as bombas de gasolina fecham ao Domingo e que, sem cartão francês para colocar gasóleo no sistema 24 horas, o melhor é parar e esperar… por segunda-feira.
Pyla são dunas gigantes, pára-pentes, mar azul e bons quilómetros para pedalar bicicletas




Dali a Portugal só para doidos varridos que não têm outro remédio, porque os dias de férias terminaram.