domingo, 2 de janeiro de 2011

Escapadela romântica a Monserrate


O Pai Natal foi generoso: depois da câmara fotográfica, foi a vez do GPS. Já podemos, pois, ser 100% amáveis com os nossos seguidores, guiando-lhes/vos os passos com precisão, para além de lhes/ vos ilustrar as palavras com as devidas imagens.
Para início de ano aqui vos deixo o final de 2010 deste viajantes, entre rastos amarelos de GPS recém-estreado e o verde romântico de Sintra (Cintra ainda no século XVIII). Não admira que Eça tanto a apreciasse e a elevasse em títulos e tramas (O Mistério da Estrada de Sintra) e em fugazes momentos de recreio na acção central amorosa entre Carlos da Maia e Maria Eduarda (em OS Maias). Também nós (apesar de em nada me poder comparar com o grande Mestre...) volta e meia não lhe resistimos. Como é possível, a escassos quilómetros do bulício de centros comerciais, auto-estradas e pontes, que Sintra ali continue parada no tempo, verdejante, fresca, intacta? A avaliar pelo número de turistas – alguns apeando-se na estação apeadeiro – não éramos os únicos a ter boas e salutares inspirações. Para quem vem de Lisboa há , pois, essa possibilidade de percorrer o caminho da grande cidade até ao verde, via linha férrea. Para quem, como nós, viaja de casa às costas, é mais confortável entrar em Sintra e poisar a casa, por exemplo, no Parque do Rio (“novas “ coordenadas: N 38º 47.796 W 9º 23.278) e fazer o percurso a pé ou de autocarro. Cultural e historicamente falando, os palácios são um dos grandes motivos de qualquer visita a Sintra: logo no centro da vila, o palácio da vila. Saindo da vila , logo ali à esquina, a Regaleira, depois Seteais, mais longe, (se for a pé ) a Pena e o Castelo dos Mouros. Mais longe ainda (4 km a pé), o parque e palácio de Monserrate, o eleito desta escapadela. Nós apanhámos o 435 (2€ por pessoa ida e volta) , de meia em meia hora, e lá fomos, curvas acima. O dia estava incerto, entre o sol tímido e a chuva densa e chata, mas mesmo assim conseguimos apreciar o denso verde.

À entrada de Monserrate, 17 € bilhete familiar (ou 5 € individual). Virando logo à esquerda, seguindo a seta “Cascata” ,
antes que chova e não se visite o exterior , a paisagem é tipicamente romântica: densa vegetação, espécimes botânicas exóticas e de vários pontos do mundo, cheiros distintos, lama a escorrer pelos trilhos escusos e sempre a descer... enfim, a perspectiva singular de um milionário megalómano e com gosto, Mr. Cook. Certamente, se fosse deste tempo, seria uma espécie da moda, um acérrimo defensor do meio ambiente, um aristocrata verde! Exemplos de exotismo são: o jardim do México, do Japão, o Arco Indiano, árvores e arbustos da Nova Zelândia, África, Austrália, ...e tudo com grande detalhe e rigor britânicos...


Ao que parece até o sistema de rega do grande relvado foi ímpar em Portugal, conseguindo a proeza de a manter verde todo o ano.



James Cook, 1º Visconde de Monserrate, adquiriu o espaço em 1856, já depois de um outro inglês (Wiliam Beckford) ter começado a criar o jardim. Cook desenvolveu-o e aplicou-se no palácio. Este, residência de verão da família Cook, é um misto de estilos, cantos e recantos, colunas, arcos, inspiração gótica, mudéjar, um estilo eclético só possível no espírito romântico. Esta excêntrica mansão passou a ser propriedade do governo português em 1949 (tempo depois de a família tudo ter vendido), para ficar ao abandono meio século, só em 2008 começaram as obras de reconstrução, ainda longe de concluídas. O espaço exterior, jardins e afins, já reluzem, mas o palácio vai andando, morosamente, até porque, o estuque em madeira trabalhado de tudo quanto é parede e tecto, deve demorar eternidades. Na cave, os azulejos azuis e brancos já reluzem e o fogão dos cozinhados da família Cook ainda lá está... No piso térreo, reluz a Biblioteca e a sala de Música com um piano de cauda. A sala de jantar, a de Bilhar ainda estão em fase de restauro. Do 1º andar apenas se olha cá debaixo até à cúpula imensa do átrio principal, imaginando-se os quartos e os aposentos de Mr. Cook... Das mobílias nada resta, a não ser um registo em vídeo e em fotografias.




Tudo o resto se imagina. O som da música no teclado do piano, o tilintar das porcelanas e o fru-fru das sedas, o sotaque cristalino do british accent (certamente igual ao da simpática senhora que por ora está na loja de souvenirs e vai falando orgulhosamente do palácio aos turistas ), o crepitar das lareiras (cada divisão possui uma) , até à pena ágil e leve do poeta Lord Byron que por ali também se inspirou. Futilidades que o Eça criticaria, mas, paradoxalmente, desfrutaria...
Cá fora o tempo não era o mais convidativo e o anoitecer prematuro e com maresia levou-nos a partir. A primavera será uma melhor ocasião para o passeio pelos recantos superficialmente explorados, os perfumes da natureza serão também mais apelativos.




Uma noite em paz no Parque do Rio, embalados pela cascata, seriam o idílio, não fossem as fortes chuvadas mesmo por cima do nosso frágil telhado, toda a noite.
Ficou a faltar o som gravado da cascata. Até ao uso e download das novas tecnologias, fiquem-se, como Lord Byron, pela imaginação... e deliciem-se com as estátuas de Sintra.






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