domingo, 14 de fevereiro de 2016

Estrada romântica com muito barroco e rococó



8  e e 9 de agosto de 2015

Iniciemos pois o capítulo II das férias de 2015: a Romantischestrasse   (adoro o som), traduzido, “Estrada Romântica”, um percurso que envolve vinte e sete cidades (ou vilas) , desde o Main até aos Alpes, quase 400 quilómetros.
O objetivo era iniciar o percurso em Würzburg e chegar a Füssen (local já conhecido e muito apreciado em 2010), passando por algumas das vilas e cidades mais sonantes, não obstante termos já percebido, por outros relatos e reportagens fotográficas, que visitar todos os  vinte e tal pontos assinalados na rota seria de todo impensável e monótono.
Würzburg, a “cidade barroca”, afigurava-se-nos ponto de partida obrigatório. O GPS atirou-nos logo para a ASA ( N  49º 48´13´´  E 9º 55´07´´, 8 € dia) , paredes meias com o rio Main, um largo e navegável curso de água, por onde circulavam navios e  cruzeiros, até mesmo em frente da nossa zona de conforto, ou seja , do “nosso quintal”.



O Main : com e sem cruzeiros



No "quintal" ao lado, infelizmente, uns vizinhos alemães pouco hospitaleiros queriam que, contrariamente aos limites normais da distância de estacionamento entre autocaravanas, nos posicionássemos bem mais afastados, tudo porque a cadela quase lhes saltou para cima ( para cumprimentá-los, registe-se!) quando eles nem se dignaram contornar o espaço para passarem. Logo ali nasceu uma conversa de surdos, uns em alemão outros em português, entrecortada por algumas interjeições e imprecações menos simpáticas, que para bom entendedor meia palavra basta, mesmo que as línguas sejam tão díspares. Para início de conversa e de rota a coisa não foi muito romântica …
Apartes linguísticos e afetivos de lado, demos um salto ao território circundante para percebermos que o centro ainda ficava a uns bons   quilómetros. No entanto, logo depois da grande ponte do lado esquerdo do Main, entrava-se já em território antigo: a grande muralha de uma  fortaleza, dominada por centenas de jovens ao fresco, descontraidamente, juvenilmente . Ao longo do muro virado para o rio, todos se banqueteavam com largas pizzas ou cervejas. No terraço da fortaleza havia um imenso Biergarten e uma imensa Pizzaria à qual iríamos buscar inspiração no dia seguinte... Percebia-se porquê tanta juventude : do outro lado do rio estalava a música , soubemos depois que era um festival de música de verão, pelo cartaz bastante alternativo e bem internacional, no entanto sem um único artista português.


Biergarten por perto !!!

Mas não foi devido ao barulho que mal dormimos na famosa ASA à beira Main. Se de um lado corriam as águas do rio, sobranceira à ASA deslizava, na linha de caminho de ferro, uma infinitude de comboios. Estes circularam todo o dia e madrugaram, pelo que, o som estrépito dos carris e travões foi tudo menos música para os ouvidos.
No dia seguinte deixámos cedo o sítio e passámo-nos para o lado de lá do rio, onde havia um parque de estacionamento misto repleto de AC ( N 49º47´49´´  E 9º 55´23´´)! Duas razões certamente: mais barato e o barulho era apenas dos concertos que aliás terminavam bem cedo, as festas alemãs não são como as portuguesas…
Hora portanto de visitar a capital do barroco ! Aconselho a entrada pela ponte velha (Alte Mainbrücke), precisamente do lado do parque de estacionamento e bem perto, elegantemente empedrada e decorada, de ambos os lados, por um total de doze santos. 



No lado extremo a Rasthaus, edifício do século XIV, de cores garridas; na praça, a pequena e ornamentada  fonte barroca.



Rasthaus 


Ao longo das ruas alguns contrastes entre modernidade e passado…




e, na praça principal , um exemplar único (apesar de reconstruído) , a casa mais rica da cidade, de fachada rococó, a casa Falken. Ao lado a capela Marien.





A Nova Catedral, reconstruída em 1945 (também calhou aos alemães perderem muito do seu património artístico durante a 2ª Grande Guerra) é um exemplo do Barroco-Rococó. A alvura do seu interior, a contrastar com a inexpressividade da sua fachada exterior, transmite leveza e paz de espírito, sobretudo quando decorria a missa de domingo com cânticos barrocos, órgão e uma nuvem de incenso. O Barroco no seu mais puro esplendor!





Contudo , a grande atração da cidade é o seu castelo barroco , a Residenz, construída em 1720 e 1744, com esse nome por ser o “lar doce lar” do imperador e hoje monumento classificado pela UNESCO.



 Acompanhados pela cadelita decidimos fazer a visita aos pares: enquanto o primeiro par visitava o seu interior, o outro refrescava-se ao longo dos jardins do castelo, não vedados a animais de quatro patas. 






Porém, o segundo par acabou por não entrar quando, afogueados pelo calor e fome, fomos informados pelo primeiro duo que o calor no interior do Castelo era insuportável e que todas as peças de mobiliário e decoração eram uma réplica, uma vez que todo o seu recheio original havia sido queimado durante os ataques na 2ª Guerra. Provavelmente não foi boa ideia tomar como certa a opinião de outros (que aliás acrescentaram “ O palácio de Mafra é muito superior!), mas na altura pareceu-nos o mais sensato.
Arrastámo-nos ao longo das ruas quase desertas (era domingo e provavelmente hora da siesta, porque o calor a nada convidava), passando pela catedral St. Kilian e a praça onde almoçámos salmão da Noruega.



Catedral de St. Kilian



Ao longo do Main saboreámos as sombras, pasmando para os barcos de cruzeiro e terminámos a tarde deitados na relva, frente à AC, com mantas e almofadas… 




... ressonando (sim, naquele sítio todos os autocaravanistas estavam ao fresco com mesas e cadeiras e mantas, …. e quem não era autocaravanista fazia o mesmo). 




Só à noite, tal como no Alentejo, voltámos a ser nós próprios, circulando pela zona do Festival . O público estava corretamente sentadinho em bancadas e no exterior do recinto outro público assistia – só ao som -  nas suas mantas, na relva. Em “Roma, sê romano”, portanto, já adivinham como fizemos , certo? Por pouco tempo, porque as noitadas alemãs não são como as portuguesas. 

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