sábado, 7 de abril de 2018

Fechada no tempo numa bola de vidro





Estão a ver aquelas bolinhas de vidro que se agitam e a neve dança por entre telhados e casinhas? Ou por entre um qualquer conteúdo dançante dentro da bolinha?
Esta é a imagem que se associa à aldeia sobre a qual vos quero falar. Porquê?
Em primeiro lugar, porque, erroneamente,  a tradução não é “rossio”. Pensava eu que fosse, pois tinha toda a lógica: um espaço amplo onde muita gente (e cavalos!) podiam caminhar livremente, mas em espanhol o termo “rossio” não existe.
Em segundo lugar, só poderia não se traduzir e permanecer “Rocío” o que, nas duas línguas, significa “orvalho”; no entanto, a sua proximidade com o mar e a existência da sua luz intensa, própria da Andaluzia , não me transportaram para as gotas líquidas e frescas mais propícias a um cenário de verde luxuriante.
Assim, resta a terceira possibilidade: a de um gota maior, feita de vidro, até porque a aldeia – já devem ter percebido que me refiro a El Rocío, na Andaluzia – parece parada no tempo, um tempo digno de um longínquo faroeste, sem luzes nem semáforos quanto mais redes sociais…


Ainda havia uma outra possibilidade, que se relacionaria com o seu ar místico, associado ao culto mariano que a carateriza, mas isso seria outra história e já muito badalada…




Fiquemo-nos pela imagem da aldeia sem neve e sem orvalho, mas com muita luz e sol, a aldeia que fica no fim do caminho (antes de se chegar ao Atlântico) e às portas de um outro local único ( o parque Natural Doñana), com a particularidade de se fechar numa bola de vidro temporal. Asfalto e macadame não existem, nativos de todos os dias são raros, veículos variados também, a Plaza Mayor não tem esplanadas nem arcos… o que tem então?








A impressão espiritual de centenas de irmandades ( Pesquisei! Só filiadas são 121 “hermandades”); 





etc...


a impressão arquitetónica de estarmos no México ou a impressão física de vermos sair repentinamente de uma taberna um cowboy de pistola em punho, e montar-se num ápice num cavalo e partir a galope rua afora… 



as ruas lá estão , de “albero”, a terra com que se cobrem as praças de touros, os cavalos também, são aliás o meio de transporte mais usado, ou por ali à solta, ou com seus cavaleiros ou puxando uma caleche de outros tempos.





E os habitantes? Segundo o “Google” são mais de mil, mas não se nota, especialmente à noite. Numa noite de semana santa deste ano de 2018, as luzes interiores eram escassas, as ruas quase desertas, a iluminação pública quase inexistente. Para quando as pessoas? Só lá para o domingo de Pentecostes, aí será um banho de multidões, até lá a aldeia tem quase 360 dias para viver fechada numa bola de vidro.



(Para AC: toda a sinalética anuncia proibida a pernoita de autocaravanas, no entanto, ficámos nas traseiras da Polícia Local , num “rossio” de relva sem ninguém nos incomodar, nem polícia, nem nativos, nem cowboys. De manhã um cavalo tentou abordar-me – a mim e à cadela…)

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