sábado, 17 de agosto de 2019

Combarro, um “pueblo precioso”, mesmo aqui ao lado




Entre as Irlandas e Portugal voltámos à mão de Deus. Um dos dedos, pelo menos, aquele que fica na ria de Pontevedra, Galiza. Tudo na mesma onda… a celta.
Curiosamente, e estas são as melhores descobertas, demos de caras com um “Pueblo precioso”, não porque o Michelin o referisse ou alguma placa da estrada o anunciasse. Caiu assim do longe, exagero, estávamos a 1.100 metros, admirando as águas da ria, quando o perfil daquela povoação ali à beira da linha curvilínea da costa, nos chamou a atenção.
Ao entardecer dirigimo-nos para lá depois de, confesso, termos folheado imagens do “Dr. Google”.
O nome, Combarro, diz-vos alguma coisa? Se calhar sim, e só nós não conhecíamos…
Estão a ver Monsanto, em Portugal, ou Medelim? A comparação pode parecer idiota, a Beira Baixa não tem mar, mas há ali um toque divino com certas semelhanças. O toque forte e rude das pesadas pedras e a arquitetura fria das casas em granito com os seus balcões quase térreos.







casas marinheiras de Combarro


Em Combarro a ligação é por via marítima, já que o mar é o seu ponto de referência, mas há sempre o lado telúrico, como o comprovam os seus cruzeiros (dizem que três em sete), de um lado Jesus, virado para o mar, do outro a Virgem a olhar para terra. Característica igualmente singular nalguns destes cruzeiros é o facto de terem uma mesa-altar à sua frente.




A aldeia é pedra, ruas estreitas ( a sua toponímia é clara e simplista: “A rua”, “O Campo”….) , caminhos de burros onde os carros jamais passarão, e muitos e muitos espigueiros (dizem que sessenta), uns a olhar para as marés, outros dentro de quintais, umas vezes particulares, outros atuais esplanadas, contíguos a restaurantes que apregoam o bom “pescado”. Os espigueiros, tal como no nosso Minho, eram uma espécie de armazém ou despensa, onde se armazenavam os produtos colhidos da terra, aqui, a sua construção data sobretudo do séc. XVIII. 










A terra vive do turismo e as suas gentes por lá estão a convidar turistas, a falar com eles das janelas, porque os galegos são assim, faladores e espontâneos, com muitos “xes” a lembrar música, tradições celtas, bruxas a voar em vassouras… dizem as lendas que as bruxas de Combarro, as “meigas” pululavam por ali, daí a presença forte dos cruzeiros, uma espécie de veneno para as afugentar.



De mãos dadas com o paganismo, espreitam os santos. A igreja de S. Roque, no centro da aldeia, é um testemunho desse convívio, assim como as festas em sua honra, no calor do mês de agosto.



interior igreja de S. Roque


O fim da tarde em Combarro tem um toque especial, especialmente se a visita ocorrer com a maré vazia, percorrendo a areia e olhando os espigueiros. 



entardecer

De dia, muito do mistério esvai-se pelas pedras, mas ganha com o sol e o azul das águas a brilhar por entre as estreitas ruelas sempre a espreitar a ria.


meio-dia

Um brinde às bruxas com um Alvariño para finalizar o passeio!




(Conselho a autocaravanistas, uma vez que este passeio se fez viajando com a casa sobre rodas: pernoitar, a 1.100 metros de Combarro – fazer a pé o percurso entre as duas povoações - na Asa frente ao parque da Memória, concelho de Poio, N 42º 26´18´´ W 8º 41´36´´).
O desenho do parque foi obra de um argentino, Adolfo Esquivel, prémio Nobel da Paz em 1980, cujo pai, emigrante, era filho de Combarro.




Monumento assente numa grande rosa dos ventos.



Pedras alusivas a premiados do Nobel.

A paisagem é singular, o local tranquilo e bonito, e de manhã tem-se direito à azáfama dos apanhadores de ameijoas – exceto se não gostar de ser acordado com a energia sonora, típica de “nuestros hermanos”!).








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