Viena, a imperatriz austríaca,
esplendorosa na Renascença, no Barroco, na Modernidade.
Trono da música, berço de
inúmeros museus e palácios, é difícil em Viena escolher perante um leque tão
variado de pérolas, especialmente com um singelo pacote de três dias
incompletos.
Felizmente, a maioria do compacto
e monumental centro histórico concentra-se numa mesma área facilmente
explorável a pé.
Comecemos pelo seu ícone gótico, a
catedral Stephansdom (S. Estevão) , com as suas agulhas em filigrana e o famoso
teto axadrezado, situada no coração da cidade. A entrada é gratuita.
Ao seu redor, vale a pena andar
sem destino nas ruas limítrofes, calcorreando, por exemplo, a antiga judiaria,
agora zona de muitos pubs, e entrar na simpática livraria inglesa Shakespeare
& Co, também existente em Paris.
É igualmente sumptuosa, de
qualquer dos seus ângulos, o grande marco musical da cidade, a Ópera. O seu
estilo é neorrenascentista e, caso possam, assistam a um concerto, ópera ou
bailado. Na rua, em seu redor, a oferta fervilha por rapazes vestidos à época,
quais Mozart vendilhão.
Agosto presenteia-nos com
festivais como o Festival de dança, o Impulstanz . Uma espreitadela ao átrio do
teatro Burgtheater, deixou-nos de olhar cheio, apesar da sua simplicidade alva e
de chantilly contrastar com o seu exterior opulento e mais pesado.
No coração da cidade, é impossível evitar montanhas de turistas, sobretudo nas ruas que rodeiam o Hofburg, na chamada Viena imperial . Os cavalos e as charretes continuam a circular, como se a corte por ali permanecesse. A arquitetura é sumptuosa, enchendo o olhar com as suas colunas, dourados, cobres esverdeados pelo tempo, coroas e anjos, motivos florais…
No jardim do palácio, o Burggarten, ergue-se a estátua de Mozart, de frente a uma clave de flores e, vizinhas do mesmo, as airosas estufas do início do séc. XX, agora metamorfoseadas em museu de borboletas e elegante café-restaurante. O interior do complexo Hofburg é umas das opções a visitar, já que inclui os aposentos imperiais, a escola de equitação, museus vários e a Biblioteca Nacional.
Um dos Museus aí implantados é o Albertina,
no qual, no 1º andar, são visitáveis alguns salões nobres, onde lustres,
salamandras gigantes e mobílias convivem com algumas gravuras de Leonardo da
Vinci, Rubens, Rafael e a famosa Lebre de Albrecht Dürer, entre outros.
No 2º andar, viaja-se no tempo desde
Monet aos surrealistas, passando por alguns quadros de Klimt, o pintor vienense
mais afamado da História da Pintura.
Quase paredes meias a este
complexo, encontram -se os jardins Burggarten
- palco refrescante de muitos turistas - e o Volksgarten, com o seu elegante roseiral.
Em maré de jardins e museus,
realça-se ainda o percurso até ao Quarteirão dos museus. Todo o conjunto merece
uma visita obrigatória, mesmo que não se visite o interior de cada um deles,
uma vez que a arquitetura dos mesmos é já de si um passeio cultural e
artístico, desde o barroco a um estilo mais contemporâneo. Outra forma de
entrar na sua energia é aproveitar a relva, piquenicar ou até mesmo praticar
técnicas de relaxe em grande grupo.
Ao final da tarde, no mês de Agosto,
é ainda possível ouvir concertos e respirar a onda fresca e jovem no largo do
MQ.
Outra hipótese para final de
tarde, neste caso envolvendo um Biergarten a céu aberto tão ao gosto de alemães
como de austríacos , é beber uma cerveja e degustar um petisco internacional na
feira de petiscos frente à Câmara (Rauthauss). Esta é mais um ícone rendilhado
e faustoso da cidade.
A Rathauss situa-se entre o
Parlamento e a igreja Votiv, no centro do jardim Sigmund Freud. O primeiro é colossal e o segundo não inveja
as cúpulas da catedral.
Votiv
Outra alternativa para a degustação
regional e internacional é o mercado Brunnenmarkt, aberto todo o dia e perto da
Neubau, zona de bares restaurantes e
galerias. Junto a ela, a rua comercial Mariahilfe Strasse, igual a muitas
outras de múltiplas cidades europeias.
Entrelaçando arquitetura
monumental e paladar não podem ficar de parte os famosos cafés vienenses, como
o Central ou o Demel. Qualquer um destes ilustram a importância do café
enquanto centro social e político, assim
como o ato de beber o tão secular líquido escuro e viciante, ainda hoje servido
com o acompanhamento de um copo de água.
Ambos também se relacionam com doçaria,
nomeadamente o típico bolo vienense de chocolate e damasco, a sachertorte.
O Demel remonta a 1786, tendo
sido frequentado pela Imperatriz Sissi. Já o Central teve como clientes
habituais Sigmund Freud, Trotsky e o senhor baixinho e de bigodinho ridículo
cujo nome não me atrevo a pronunciar.
Mais atual e publicitada em todos
os cantos, sobretudo no metro, é a gelataria Ticky, no distrito Favoriten, que
encontrámos logo à chegada porque a nossa zona de habitação era por aquelas
bandas.
Depois de, na zona central, ter
ouvido as badaladas do meio-dia no relógio Ankeruhr e admirado, em cada segundo,
a dança das doze figurinhas, não se esqueça que ainda convém dedicar parte do
seu dia a visitar alguns palácios, Schönbrunn (palácio
de verão da romanceada imperatriz) ou o Belvedere.
Aquele , mais grandioso e afastado
do centro exige mais tempo , por isso optámos pelo segundo, igualmente
esplendoroso . Divide-se em Upper e Down Belvedere ligados por um jardim
francês de três níveis com cascatas e estatuária variada. É numa das galerias
do Upper Belverede que se encontra uma coleção de obras de Klimt, nas quais o
mais comercializável Beijo do mundo.
No distrito de Favoriten, outrora uma zona de caça imperial, situa-se o parque
Prater que se estende por muitos e
muitos kms. Numa das suas extremidades, anima ainda turistas e nativos o mais
antigo parque de diversões do mundo, com a sua Grande Roda (1897) – testemunho
ocular das duas guerras – e outras diversões mais desafiadoras e modernas,
respirando adrenalina.
Mais afastadas da zona imperial
vienense, erguem-se duas construções extremamente
originais, que elevam a arquitetura a outro nível, num registo alegre, teatral
e sustentável , desenhado pelo arquiteto austríaco Hundertwasser. O prédio
ganhou o seu nome e é uma área residencial e o outro, também casa-museu e
restaurante, intitula-se KunstHaus.
Qualquer um deles extasia o olhar
e traz à tona a infantilidade de qualquer um, até dos mais sisudos.
E foi assim que nos despedimos de
Viena - não sem antes darmos uma olhada rápida ao famoso Danúbio - com um
sorriso infantil, mesmo sem termos conhecido todas as pinturas, esculturas ;
sem termos ouvido concertos; sem termos ouvido as gargalhadas de Amadeus…
Saltámos para o Flixbus verde , e
rumámos até Praga, apenas a quatro horas de distância. O mesmo não terá
sucedido a Mozart que no seu tempo saltitou de uma cidade para a outra, noutras
carruagens mais lentas…
(A chegada a Viena deu-se num voo
da Ryanair, com partida da cidade do Porto. Viajantes: este casal agora de
mochila às costas – a casa fica para outras andanças - e duas amigas especiais,
uma do século passado, a outra no seu papel de afilhada especial que teve a
paciência de guiar três idosos ainda (só um POUQUINHO) inaptos nas
tecnologias)!
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