sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Florença, uma dama de ouro quer faça chuva ou sol

Dias 8 e 9 (sem sabermos ainda que lá regressaríamos no 12º dia)


Que dizer de Florença que mil livros e séculos de palavras não tivessem já dito?
E, no entanto, quando se lá chega o normal é ficarmos sem palavras, tanta é a beleza que emana de qualquer canto, de qualquer rua, de qualquer praça, do Rio, da paisagem envolvente.

Lembrei-me agora que a propósito da Toscana não referi um dos seus traços mais caraterísticos e digo traços porque vi, em Florença, os pintores de rua pintarem num só traço, a verde, a árvore que mais respira na paisagem toscana: o cipreste. Florença não é exceção uma vez que esta Dama da Toscana se encontra rodeada de colinas onde os ciprestes se perfilam por estradas e carreirinhos verdejantes.

Este magnífico cenário pode ser contemplado de vários pontos altos em Florença. Centremo-nos já no seu expoente máximo, o ponto para o qual todos os olhares e máquinas fotográficas convergem, a Piazza dell Duomo, onde se situa a catedral Santa Maria del Fiore, o campanário, o baptistério e o Museu dell’ Opera.


 A Duomo é um dos maiores edifícios do mundo cristão, abarcá-la aqui ou em qualquer fotografia só mesmo numa perspetiva aérea. É obra de mais um artista do Renascimento, Brunelleschi, não tivesse sido Florença o berço e centro daquele movimento.





O ingresso para estes 4 pontos artísticos custa 10 € e as filas, apesar de serem sempre assustadoras, quer faça chuva ou sol, têm um tempo de espera razoável.
O interior da Duomo é magnificente, sobretudo o fresco que decora a cúpula, representando o Juízo Final. Pode ser contornado e admirado ao longo de uma varanda com vistas vertiginosas. Ao domingo está fechado (adivinhem o dia que nos calhou?).


Juízo Final

Subindo ao campanário, (obra de Giotto, 82 m de altura, 400 e tal degraus), igualmente de vistas e subidas de perder literalmente a respiração, atingimos uma visão de 360º graus da bela Florença. 


Fila para visitar Campanário


Tudo ali respira arte: os telhados, os terraços, jardins, ruas, a praça, lá em baixo, com as suas formiguinhas em fila… Conhecedor de telhados, o nosso viajante mais jovem, pôde , qual Ezzio Audittore da Firenze, redescobrir ao vivo a cidade berço dos Médici, dos Pitti, de Leonardo, de Dante…


As vistas do topo:





O Baptistério começa logo por chamar a atenção assim que contemplamos as suas portas de bronze, sobretudo a Porta do Paraíso, assim intitulada por Miguel Ângelo. Também o interior é grandioso e vale uma atenta visita, de pescoço no ar, “lendo” as cenas representadas nos mosaicos da cúpula em cinco painéis (de cima para baixo: as Hierarquias celestiais, o Genesis, vida de S. José, cenas da vida da Virgem e Jesus e vida de S. João Baptista).


Porta do Baptistério


Cúpula interior  Baptistério


Percorrendo a Via del Calzaiuoli chega-se em poucos minutos a outro ponto desta Dama de ouro, onde tudo parece saído de um livro, no caso um livro de arquitetura e de escultura, uma vez que nesta praça, della Signoria, os edifícios principais são geniais ( Palazzo Vecchio e Loggia della Signoria) e esculturalmente somos cercados de obras dos mais importantes nomes dos génios renascentistas.  


Loggia:




Palazzo Vecchio:





É certo que são apenas réplicas, os originais encontram-se noutro ponto de Florença, mesmo ali ao lado, que exige visita obrigatória. Refiro-me à Galeria degli Uffizi, museu de pintura e escultura que alberga um acervo artístico riquíssimo, como por exemplo, uma sala inteira dedicada a Boticelli, lembro só o Nascimento de Vénus.
Quantos dias para visitar esta dama luminosa e bordada a ouro? O mínimo certamente 4 dias, só para visitar a Galeria mais de meio dia (numa visita pouco exigente), não é que o centro de Florença seja extenso, tudo se percorre a pé e tudo se liga entre si, mas precisamos  de tempo para admirar tanta qualidade artística.

Desta vez ficámos quase três dias, mas já havíamos em tempos, ficado mais três, um dos quais dedicado à Galeria que este ano ficou para trás. Volto, portanto, ao museu situado em pleno ar livre, destacando a fonte de Neptuno, o leão de Florença (obra de Donatello) e o David de Miguel Ângelo.



David, Miguel Ângelo



Fonte de Neptuno

Protegida pela arcada da Loggia della Signoria mais estátuas se atropelam, cada uma a chamar por si, cada uma a fazer-nos girar a cabeça e a ficar tontos: O rapto das Sabinas, Hércules e o Centauro, Perseu e a sua cabeça de Medusa.





Passando pela arcaria da Galeria degli Uffizi apetece entrar, claro está, mas continuamos, até porque as filas são longas e se bem me recordo o bilhete exige reserva. O corredor  Vasariano “uma passagem secreta nas alturas”, une o palazzo Vecchio ao Palazzo Pitti. Foi uma obra engenhosa de Vasari, construída em tempo record, por ordem de Cosme I de Médici, para poder caminhar livremente entre o seu palácio e a sede do governo, no Palazzo Vecchio, sem se misturar com a populaça e possíveis inimigos. Visitar tal passagem é privilégio de poucos, uma vez que para tal é necessária uma autorização especial e um número específico de visitantes.

 (Imagem retirada do google images)

Da ponte que, como o nome sugere, é a mais antiga da cidade, temos primeiro uma visão exterior porque contornámos o edifício para poder admirar o Arno.  


Depois temos duas visões distinta: exteriormente uma cor suave, uma ponte estranhamente fechada, com janelas e arcos e no topo um conjunto simétrico de janelas, a passagem aérea secreta. No seu interior,  um rico corredor de lojas de ourivesaria, nem sempre assim, aliás.  O mesmo Médici conseguiu ali reunir lojas desta profissão mais nobre para se livrar do mercado de carnes que ali funcionava em 1500.




Mais à frente o Palazzo Pitti, outrora também  residência dos Médici, um estranha “muralha” com pedras que parecem almofadas, com o seu ar severo e forte, na praça com o mesmo nome.



S. Marco, Santa Croce, Igreja de S. Lorenzo, Galleria della Accademia… são outros pontos estratégicos por onde passámos, ora procurando-os no mapa, ora deixando-nos levar pela maré, às vezes vogando ao acaso pelas ruas, percorrendo a História, mas também a modernidade ( o grande comércio Fiorentino feito de Gucci, Armani e outros que tais apenas para milionários) , a atualidade,  ou simples ruas com vendedores de peles, ou o inevitável Hard Rock Café ou a agradável surpresa de encontrar um antigo mercado renovado e com novas energias (curiosamente um local onde se pode comer comida italiana a preços bastante razoáveis) ou o encontro com animação, gentes dali, do mundo, de toda a parte.


Animação ao lado degli Uffizi


A arte sai à rua: os temas de hoje


A celebração do amor:


Campainhas tão italianas...


Hard Rock Café:



Mercado:



Gentes de todo o mundo:



Santa Croce:



 Tudo isto em 2 dias, um com chuva, outro com sol.
Para pernoitar calhou-nos um parque misto, (12 € as 24 horas) não especialmente atraente, no meio de uma zona habitacional, que também alberga uma piscina e uma pizzaria com wi-fi (N 43.75173 E 011. 24392). A paragem de autocarro é a um passo e o bilhete comprado ao motorista custa 2 € . Chegados à cidade (a 15 min.) vale a pena comprar bilhetes na Estação de comboio, paragem terminal do bus


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Viagem ao passado

Dia 7


O roteiro “Audittore” no seu auge, desta vez na sombra de Leonardo da Vinci.


Entre Pisa e Florença fica a pequena localidade de Vinci, afinal cidade, berço do génio, do Grande Leonardo. A sua casa natal fica a 2 quilómetros e pouco, apesar de, de acordo com muitas fontes, não se ter a certeza de tal facto. Ainda assim, Leonardo terá pisado aquelas ruelas, aquele chão empedrado, e aquelas vinhas e paisagem tão tipicamente toscanas, imutáveis ao tempo, terão sido também, certamente, o seu verde contemplativo nos dias de muitos sonhos e devaneios. Mesmo que só lá tivesse estado enquanto criança, não interessa, um génio como o seu, teria de inventar passarolas voadoras e outras invenções que tais já em criança, de pequenino é que se torce o pepino.
Chegados à primeira rotunda antes da povoação, uns jovens de colete encaminharam-nos para um parque de estacionamento vedado, no meio da relva. Distraídos como íamos, pensámos que nos estavam a receber muito bem, para depois nos darmos conta de que a terra natal de Leonardo era anfitriã de uma festa especial. Era cedo, pouco movimento ainda, mas fomos vendo as tendas e as ruas enfeitadas com ar de festa medieval. Até aí tudo bem, tudo se encaixava no nosso tour temático. O pior foi quando nos disseram, no Turismo, que a casa de Leonardo ficava a 2 quilómetros e, como a cidade estava vedada ao trânsito, teríamos de fazer o percurso a pé. Seria agradável, se a Toscana daquele dia anunciasse uma qualquer brisa suave, mas naquela tarde o céu estava limpo e o calor sufocante e abrasador, qual terriola alentejana debaixo dos 40º .

Mais de meia hora a subir por entre vinhas e oliveiras, travando igualmente conhecimento com as espécies animais, até vermos, numa pequena colina, uma casa de pedra, num jardim onde só as cigarras cantavam. Um cenário bucólico, duas pequenas divisões, uma lareira, um vídeo e poucos documentos, e eis-nos com a visita terminada depois de tanto tempo para lá chegar. 


a meio do percurso...





A descer todos os santos ajudam e ainda havia um jardim sui generis a fundir-se com os vinhedos e a torre da igreja matriz, e do Castelo Dei Conti Guidi, espreitando, lá em baixo.



A nossa assinatura também lá ficou registada






Vinci, ao fundo



Toda a cidade se aperaltava para a festa, afinal (coisa que não reparámos à chegada, tínhamos chegado cedo) paga. Ao entrarmos do lado contrário, já oficialmente dentro dos muros da festa, pediram-nos 24 € que depois perdoarem porque éramos os turistas que procurávamos Leonardo. É claro que para chegar ao estacionamento  tínhamos de atravessar a povoação, por isso passámos a ver a festa, que era medieval, renascentista e tudo aquilo que um homem quisesse, chamava-se “Festa dell´Unicorno” e já ia na Xª edição.
Rodeados de seres de outros mundos e eras, sobretudo elfos, gente de Nárnia, do “Senhor do Anéis “ e sobretudo da “Guerra dos Tronos” deixámo-nos embalar e pouco restou do mundo leonardiano. Fotografámos o Homem Vitruviano, refrescando-nos com uma cerveja e deixámos de lado o Museu de Leonardo que certamente, pelo acervo que contém, seria mais interessante do que a suposta casa natal. 








Entre tantas a varinha do Harry Potter

A animação era variada, desde teatralizações com princesas e cavaleiros em luta, falcões amestrados, a poses de seres mitológicos.


Pena os italianos abusarem nos preços dos petiscos, o que nos fez voltar a casa para a janta.
Descobrimos entretanto que afinal não tínhamos tido sorte com as indicações para estacionar dos jovens, uma vez que havia uma área própria para autocaravanas (N 43, 7808   E 10, 9283). À noite estava esgotada e tivemos de esperar pelo fim da festa para conseguir um lugar. Às escuras, não nos apercebemos como era, para no dia seguinte, através da janela da cozinha tivemos uma visão de filme, seria leonardiano ou do Unicorno?




Fotos da área para AC , grátis: