Devido a contingências familiares não houve outro remédio se não ir até ao Algarve. Digo remédio porque tal destino só se escolhe, no seio desta família, por questões climatéricas ou “profissionais”. Foi o caso do grande fim-de-semana de 10 de Junho. Se assim não fosse teríamos optado pelo Norte, sinónimo de fresco, verde e outros pontos de interesse histórico-cultural.
Assim, (e também porque nos foi impossível ir lá durante a Feira Islâmica) ainda tentámos mergulhar no branco mouro das paredes de Mértola, mas o calor exalado pelas pedras da calçada, pelas paredes e até pelo rio, não nos deixaram inspirar devidamente o ar mourisco.
Percorremos os pontos estratégicos: cine-teatro, ermida árabe, castelo, ruas sinuosas e os seus museus (destaque para o edifício da Câmara e o seu museu com exemplares da romanização), para termos de obrigatoriamente parar debaixo de uma esplanada bebendo sofregamente uma imperial, já agora acompanhada de um pratinho de caracóis… Se a zona para AC era aquele terreno debaixo do duro sol, do outro lado da ponte, então Mértola também está a necessitar de uma inspiraçãozinha mais digna de receber AC. Nós optámos pela zona central onde param os autocarros, mas certamente só o conseguimos porque era feriado.
(Ermida árabe)
( o espelho cálido do rio)
(o tempo parado)
Com tanto calor, as alternativas eram poucas, daí optarmos por arrepiar caminho e dar um salto até à praia fluvial das Minas de S. Domingos. O local estava apinhado de gente, uns no banho, outros na esplanada, outros ainda (AC portuguesas e estrangeiras) desfrutando de um campismo pasmaceiro e soalheiro. Alguns autocaravanistas abusavam da sorte do terreno paradisíaco, estacionando na horizontal com vista para as águas… na manhã seguinte, a GNR, de modo “polite”, lá foi pedindo para estacionarem de modo a ocupar apenas um lugar… será que daqui a um ano ainda poderão (poderei) estacionar por aquelas bandas? Não ficámos para obter resposta a tal questão tão retórica e rumámos até ao inevitável, incontornável Algarve.
Durante o grande fim-de-semana e pequenas mini-férias os poisos foram vários e sempre o mal foi o mesmo: muito calor e multidão.
Primeiro, Vila Real de S.to António para um almoço caseiro frente ao rio onde o ferry Espanha-Portugal desliza cima-abaixo, mas a modorra abrasadora fez-nos dormitar embalados pelas águas, veleiros, águas, veleiros… depois de ligeiramente acordados, lá houve tempo para um passeio escaldante na baixa pombalina e para mais uns gelados e sumos e gelos…
(Espanha ao fundo)
Guadiana viajante
Felizmente, ainda deu para um mergulhito nas águas geladas (??!!) da praia de Manta Rota. Estacionamento não é fácil e sinais portuguesmente incorrectos como este abundam:
Apesar deles as AC são muitas e lá vão ficando de dia e de noite. Nós também aproveitámos a boleia nocturna e no dia seguinte novo mergulho. Afinal o esforço não era grande, bastava percorrer a passadeira de madeira, atirarmo-nos para a areia quente e de vez em quando (ou não) mergulhar no mar de sargaços gélido de cortar a respiração.
Para o almoço não houve coragem de permanecer debaixo do sol tórrido e lá partimos para Tavira debaixo da primeira sombra encontrada. Contrariamente aos hábitos de férias de Verão, até partimos rumo a um centro comercial na demanda de ar condicionado, o que deu azo a uma ida ao cinema. Em foco “Anjos e Demónios” que não vi, porque optei por uma sesta suada ao lado do Pingo Doce de Tavira. À noite um passeio na busca da brisa perdida, para depois remarmos novamente até Manta Rota, já que os mosquitos de Tavira , no possível lugar de pernoita , ameaçavam roer-nos até a alma.
No dia seguinte, novo salto para dentro de águas, desta vez menos gélidas. Pudera, o ar pesado e doente de calor persistia.
À tarde, a vida “profissional” lá nos encaminhou até aos ares ainda mais quentes do interior algarvio: Loulé. Felizmente a piscina (naquele dia apenas para atletas) era uma visão refrescante, imagino para quem lá mergulhou... ao que parece com água aquecida…
O fim-de-semana continuava interminavelmente quente, mas promissor em novos destinos. De Loulé mais alguns quilómetros on the road até Portimão.
Ar: trovoada a sobrevoar, céu ameaçador, gotas promissoras, vento tipo furacão na marginal.
Jantar gordo de pizzas na La Gioconda.
O último dia acordava ainda mais ameaçador: um bafo cálido, um céu cinzento. Passeio afinal suado e quente pelo centro decadente de Portimão e almoço consolador com mais elementos da família numa “tasca” onde as sardinhas apaziguam almas.
Regresso a casa debaixo de ameaças escuras mas felizmente sem as receadas filas intermináveis pelo alcatrão afora.
All garve tem tudo a mais… sol, calor, pessoas, estrangeiros, anúncios luminosos, vendilhões… falta-lhe aquele toque pessoal que faria dele Único. A costa alentejana, apesar de, nalguns casos, maltratar os viajantes itinerantes apreciadores do que é mais selvagem e genuíno, é mais All.
All entejo, pois seja!
2 comentários:
É sempre um largo prazer ler as suas crónicas de viajem!
Felicito-a por isso.
Agradeço o seu comentário, ainda bem que posso contribuir para alguns pequenos prazeres de leitores apreciadores de viagens.
Pena é que a produção escrita não seja em maior quantidade...seria sinal de que as viagens eram muitas mais...
Paula Vidigal
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