domingo, 20 de setembro de 2009

Mercados e mercaus


(Cangas de Onis, mercado de queijos)

Ou procurando (nos postos de Turismo locais), ou deparando-nos inesperadamente com eles, quem vai às Astúrias tem obrigatoriamente de deparar-se com os seus mercaus. De queijos, de presuntos, de produtos asturianos, de artesanato…mas, mais interessantes que esses, são os mercados medievais, ao que parece assim incorrectamente apelidados, já que a denominação correcta é “Mercau astur”. Um conceito mais colorido certamente e mais recheado de variedade do que um simples mercado local.

Há uns atrás, ainda longe de sonharmos com estas vidas itinerantes em quatro rodas e muito menos com a casa às costas, e porque estávamos “obrigatoriamente” confinados à vila de Infiesto (alugámos lá uma habitação de turismo rural), visitámos um desses mercados. As ruas vestiram-se de séculos recuados, as marcas da civilização apagaram-se com sinais de trânsito tapados de serapilheira e os pequenos larguitos da festa, atapetaram-se de palha e até de dejectos bem a três dimensões das vacas e outros animais de carne e osso. Os “feirantes” vestiram-se a rigor, os números circenses multiplicaram-se e lá recuámos no tempo, contemplando e cheirando alegremente.
Este ano, ao que parece. a festa em Infiesto era só a 15 de Agosto, data que fugia aos nossos planos de viagem, mas depressa descobrimos outras substitutas e mesmo ali ao lado. Em Cangas, de 31 de Julho a 2 de Agosto tivemos tempo de sobra para visitar um desses mercados coloridos e com um sabor a outros tempos.




Cangas de Onis, Mercado Astur

Mais tradicional e bem conseguido havia ainda que ver o mercau de Ceceda, uma pequena povoação asturiana, a uns 6 km de Infiesto. A festa é denominada de “interesse regional” e iria decorrer no fim-de-semana de 1 e 2 de Agosto.






Para estarmos lá logo de manhã, revisitámos Infiesto e pernoitámos num local que tínhamos ideia de ser tranquilo e provavelmente seguro: no parque ao lado da piscina e da cueva de Nossa Senhora de… A zona é de picnic e os espanhóis fazem-na render, praticando exercício e convivendo em família até o sol desaparecer por entre montanhas. Lá ficámos, sozinhos, de vez em quando visitados pelo carro patrulha da polícia local, qual anjo de companhia.
O dia 1 de Agosto acordou carregado de nuvens pouco amigáveis, depois de alguma chuva nocturna. Mesmo assim encaminhámo-nos para Ceceda. Uma outra AC estava parada na cortada para a povoação, à espera que uns amigos de carro lhes comunicassem se a estrada até lá era transitável para veículos como nós. Tudo ok segundo eles, mas mesmo assim a travessia da povoação, nalgumas ruelas com varandas quase cosidas ao capuccino, não era a mais tranquila. O parque de estacionamento era amplo, um campo ceifado, com os lugares mais largos para AC. O sol abriu, a esperança sorriu…





Ambiente de sol e festa


Não era caso para menos, a Festa era mesmo uma entrada numa outra dimensão. No meio de um pequeno terreiro, o ambiente medieval já estava instalado: cores, artesãos a trabalhar ao vivo, jogos tradicionais, saltimbancos, barracas bem trajadas e com belíssimas peças de artesanato, trajes regionais, animais e pessoas lado a lado, cheiro de petiscos no ar… o pior foi quando o céu se abriu em dois e uma tremenda borrasca caiu sobre o cenário idílico. Somente tivemos tempo de agarrar nos apetitosos “tortos de maiz” e correr para o telheiro da igreja, já completamente pintos.




O tempo que bem podia ter parado enquanto havia sol...


Bem trajados para a festa


Animação circense



Vai uma voltinha ?


Modelo 1

Modelo 2 - há que evitar dejectos de vacas e bois!


Brincadeiras de sempre

Que bem que se anda nas andas.



O final da festa com um belo petisco rexional.


O céu não deu tréguas e imagino que a festa tenha fechado portas, pois quase literalmente fugimos com receio que o caminho até à estrada se transformasse num lodaçal com direito a ficarmos atascados. Pelo que constatámos ao sair, o receio não era infundado, a pista já derrapava e a lama crescia. Em boa hora saímos. Astúrias é um paraíso se não contarmos estes dilúvios, mas o verde também precisa de beber, caso contrário não seria verde…
Outros mercados, com menos carisma, porque mais usuais, podem acontecer a dias fixos da semana, como o de sábado, em Cangas. Era o mercado de queijos, mas, como nem só de queijos vive o asturiano, presuntos e enchidos, pão e flores e até roupa, tudo se exibiu a nossos olhos, sem censuras de uma qualquer pidesca ASAE.





Cangas







Apetece ficar e mandar Portugal à “faba” (*)!
*Uma fabada asturiana não leva favas, mas uns bons e rechonchudos feijões brancos cuja receita postal em altura oportuna adaptaremos com direito a alterações alentejanas. A ASAE que se dane!





A receita astur


Pernoitas:
. Cangas de Onis ( N 43º 21’ 8’’ W 5º 7’ 29’’)
. Infiesto (na zona de picnic, ao lado da piscina). Água. Bar.





2 comentários:

João Morgado disse...

Que belos mercados! Só temos de imaginar o cheiro e o sabor de todos aqueles queijos e presuntos. Quando virá o dia em que a net também nos transmite isso?
Um abraço

Paula Vidigal disse...

Pois, é só o que falta, mas ainda bem que ainda falta porque continuo a achar que é preferível viajar ao vivo.

Boas viagens e obrigada pelas suas visitas e leituras .