domingo, 22 de agosto de 2010

Desventuras em autocaravana I


Não foi só o assalto da mochila que constituiu a desventura destas férias.

(É esta a mochila, alguém a viu?)

Outras aconteceram que podiam ainda ter sido muito piores, mas acabaram por se resolver, ou melhor dizendo, por não se desenvolverem para lá do intolerável.

Pensei em falar de todas atempadamente , aproveitando a embalagem cronológica, mas parece que muitos companheiros e amigos, solidários e curiosos (no bom sentido da expressão), têm vindo a pedir mais pormenores, o que me levou a pensar dedicar um artigo às desventuras.

Aliás, as desventuras em autocaravana constituem, nesta família, com esta “casinha”, quase um livro que eu tenho vindo a adiar. Por pudor, por irritação, superstição, mas agora vem a propósito e creio ser a ocasião de vos revelar, provavelmente em tom caricatural para não chorar com autopiedade, os vários capítulos de desventuras que têm acontecido ao longo destes oito anos. Até para desafiar os meus leitores, assim numa espécie de concurso de infortúnios, a ver quem tem mais, o que acham?

Começo pois pelo fim: as desgraças destas férias, que, como já referi , não se resumiram ao assalto final.

A 1ª de todas chegou-nos literalmente aos ouvidos, a meio de Agosto, durante a noite, numa localidade alemã pacífica e idílica. Eu já quase dormia, quando o telemóvel tocou. Uma voz masculina teve então a delicadeza de nos avisar que o nosso cartão multibanco havia sido clonado, uma vez que tendo nós feito um levantamento na Áustria numa bomba de gasolina, no dia seguinte outra transacção (de 311 doláres) havia sido realizada no México. Como é óbvio muito dificilmente estaríamos em menos de 24 horas em dois locais tão distantes... O golpe foi detectado a tempo, o cartão anulado, a pretensa compra desfeita. Podia ter sido grave, mas resolveu-se, afinal havia outro cartão para podermos continuar a viver (não somos tão burros que só viajássemos com um, para burrice já bastou a da chave...)!

A 2ª sucedeu já no regresso, a meio da travessia francesa. Desta vez o carro decidiu pregar das suas , deixando-nos sem a 5ª . Imaginam então o que é percorrer as estradas francesas, Espanha inteira e o bocadinho português até casa, sempre a 80-90-95 , utilizando quatro mudanças? Podia ter sido pior, claro, assim foi só como se tivessemos um carro antigo.

No meio da odisseia das mudanças, aconteceu então o golpe final. Descansadinhos, acampámos num camping perto de Barcelona e fomos ver a grande cidade cosmopolita. As ruas fervilhavam de gente, as Ramblas escorriam turistas e homens-estátua, lembro-me de passar logo a minha mochila para a frente... mas depois entrámos num bar de tapas, éramos 4, 3 mochilas e uma grande fome! E, não sei como , uma mochila ao canto , ao lado do banco, as outras duas no banco, os miúdos a tomar conta, ou um adulto, a escolha das tapas, e quando estávamos os 4 já a preparar-nos para garfar, digo eu:”passa aí a máquina fotográfica para eu tirar uma foto ao momento”. E zás! A mochila grande não estava aos nossos pés, nem ao lado , nem em parte nenhuma. O murro no estômago é brutal, especialmente quando um se lembra: ” as chaves e os documentos da AC estão lá!”

O resto do tempo é um sufoco de correria à rua, descer ao metro (havia um mesmo em frente), chatear os empregados do bar, que por sinal não foram nada simpáticos. Mais tarde ainda ficamos a pensar se não estariam envolvidos, se é mesmo assim, se só estariam incomodados... depois é a ida à Polícia, papéis, questões e a sensação que tudo é em vão. O GPS também lá estava, descobre-se a seguir.

Depois é a sensação arrepiante que o ladrão(ou ladrões) pode chegar à Ac, sabemos lá nós, já tem a chave, os documentos, porque não?

Barcelona de repente deixa de atrair , de fazer sentido, só queremos é sair dali, como se o tudo nos perseguisse.

Destroçados chegamos ao parque, a AC está lá, sem saber de nada. Como era um parque tinha uma janela semi aberta, o mais novo lá pulou , “roubando” a sua própria casa, lá dentro tínhamos todos od jogos de chave... excepto a da ignição, como aliás já sabíamos.

Nestes casos o seguro nada pode fazer, contempla acidentes na AC, nada que tenha a ver com o roubo da chave, contrariamente à sugestão da polícia de nada valia chamar um serralheiro , mudar de fechadura, até porque, sem o seguro envolvido seria super-caro e ainda por cima era Agosto.

O mais fácil foi pedir a 2ª chave, apelando a um pai zeloso, que a enviaria por DHL. Sim, porque eu, como co-piloto, às vezes funciono mal e deixei-a em casa . Porquê? Porque já noutra viagem a Espanha (mais uma desventura que ficará para outro capítulo ...) também me roubaram a MINHA mochila na qual estava a minha chave e jurei nunca mais andar com ela. Somos reicindentes e parvos, não há nada a fazer.

Conselhos contra roubos deste género? Eu por mim, creio que não sei dá-los, apesar da experiência me dizer que ainda temos de ter mais cuidado. Se calhar somos mesmo descuidados , como diz o meu pai, que se vê depois nos stresses de resolver as coisas cá de longe..

Chegámos a casa inteiros depois de termos esperado dia e meio pela 2ª chave. Ao entrar em casa constatámos que a chave de casa também tinha ido na mochila. Somos parvos ou não?

7 comentários:

Maria Melo disse...

Companheira Paula Vidigal:
Não se atormente com o que lhe aconteceu. Nós temos quinze anos de experiência e também já tivémos várias situações, das quais oitenta por cento em Espanha e uma delas em Barcelona, há já muitos anos. Não aconselho a ter chaves ou documentos importantes numa mochila ou num bolso de acesso fácil. Se os empregados do bar sabiam? Quase garantia que sim. Hoje encontrei um blog muito interessante acerca deste assunto, que recomendo. Até no Facebook há uma conta que se chama "I know someone who got robbed in Barcelona", com fotos ilustrativas.
A táctica que nós adoptámos (por experiência própria) é não parar em Espanha. Estou a iniciar um blog onde conto as diversas situações que nos têm acontecido. Quando o abrir, mandar-lhe-ei o link.
Saudações autocaravanistas e retenha as coisas boas que aconteceram na viagem.
Maria Melo
http://www.facebook.com/#!/RobbedInBarcelona?v=photos&ref=ts
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/04/100414_barcelonaroubo_ai.shtml

DeCarvalho disse...

1º um abraçao solidario
2º grato pela partilha de situações que a todos acontecem
3º Tudo para tras das costas....para ficar espçao para seguir em frente com a casa as costas... outra vez e uma vez mais, e outra inada, posi quem corre por gosto não cansa.
Nem descansa.

Ate um dia na estrada ou a volta de uma mesa sem mochila.

Unknown disse...

bem! foi mesmo preciso terem azar! no meio dos contratempos a felicidade de terem chegado bem e com fotos que sobreviveram ao assalto final e que testemunham os bons momentos.
(essa do cartão nunca me tinha ocorrido. comigo estava feita: tenho dois que guardo exactamente no mesmo sitio!! não tem nada a ver com clonagem, bem sei, mas se me roubam a carteira levam os dois... lição aprendida. nunca pensamos a possibilidade destas coisas acontecerem.)

João Morgado disse...

Olá Paula!
Sei que não serve de nada, mas quero que saiba que desventuras dessas podem sempre acontecer a qualquer um de nós, muito principalmente em Espanha (cuidado com Madrid e Sevilha), sul de França (Marselha) e tantos outros locais. O melhor mesmo é ter o máximo de cuidado e nunca trazer o dinheiro todo junto ou dividi-lo por mais que uma pessoa, assim como os cartões de crédito. E como diz o companheiro DeCarvalho, é deitar tudo para trás das costas e esperar que na próxima viagem tudo corra bem. E a "casinha" já tem uma "quinta"?
Abraços

Paula Vidigal disse...

Obrigada Maria pela solidariedade, já consultei os sítios que me indicou e já falei "mal" do bar. Também não parece que repita Barcelona nos tempos mais próximos, quanto a Espanha já será pior. Mesmo aqui ao lado às vezes até de fim-de-semana lá damos um salto...

bjs

DeCarvalho : enquanto não arranjar a 5ª já não vou à estrada e depois acho que me vou ficando por "cá dentro".

Sara: pois , quando passeamos nem nos apetece pensar nessas coisas, mas andar com 2 cartões na mesma bolsa não é boa ideia. Aliás, eu já tinha assaltada uma vez (também em Espanha) e aprendi a viajar com a documentação essencial , porque dessa vez andava com tudo e mais alguma coisa atrás. Somos muito ingénuas...

bjs

Joaõ, olá: pois, ainda me flata Madrid e Sevilha eh eh he...

por é que pergunta se a casinha tem uma "quinta"?

Alexandrina Areias disse...

Realmente foi muito azar junto... mas, nada que não tivesse solução... por isso, há que pensar nas coisas boas dessas férias e 'tentar' esquecer as menos boas...
Beijos,
AA

João Morgado disse...

Olá Paula!
Quando perguntei se a casinha já tinha uma quinta, referia-me á 5ª velocidade. A língua portuguesa sempre é muito traiçoeira.
Abraços