Há viagens que são mesmo aqui ao lado, que apesar de
curtas são longas e não necessariamente menos boas.
Esta foi ao longo da ecopista de Évora, a pé, pois
claro, durante 13 quilómetros, no passado domingo de maio, naquele que está a
ser, por estas bandas, um verão antecipado.
Os pretextos envolvidos eram as ervas, a meta final
umas sopas à boa moda do Alentejo… com algumas das ditas. Os padrinhos (freguesia
do Bacelo) batizaram-na (à viagem) de “passeio das ervas aromáticas.
Partindo da dita ecopista direção Sr. dos Aflitos, a
nossa guia foi-nos apresentando, através de três sentidos, ervas como:
- a soagem, mais conhecida por língua de vaca;
- o funcho, com o seu cheiro a anis e altamente
digestivo (não confundir com a férula, se uma é o bem a outra o mal).
Chegados a um cruzamento embrenhámo-nos por uma
paisagem mais escondida, direitos ao “secreto” aqueduto da Água de Prata, por
terras da Quinta de S. Pedro adentro.
O aqueduto, por D. João III “erguido”, está paredes
meias com a floresta autóctone, de veia mediterrânica, qual bosque de druidas.
Apesar de não os ver, aos druidas, pareceu-me vislumbrar o horizonte do mar.
Visões à parte, as árvores e arbustos – carvalhos, medronheiros, sobreiros,
loureiros, gilbardeira – eram, pelo contrário, bem palpáveis.
Aqueduto da Água de Prata
Floresta com mar ao fundo...
Mais à frente, a ponte sobre o ribeiro de Pombal. O
pobre corria num fio de água, inaudível, quase invisível, apesar do musgo e da
frescura do ambiente.
Vulgar e abundante é no entanto a giesta brava,
intrusa marroquina que por aqui se instalou e foi ficando.
o ribeiro lá ao fundo...
A humanização começa a seguir, uma quintinha escondida
aqui, outra acolá.
E eis que surge uma hortinha biológica na verdadeira
aceção do termo: um “camalho”, lá dentro destroços de madeira, pedras, água,
rede, terra; e de lá brotam, sem rega e pesticidas, favas, tremoceiros, tomates,
couves….
Qual a fava, qual o tremoço?
O sol esconde-se entretanto, o calor torna-se mais
sufocante. É o caminho de regresso, pelo menos mais 4 ou 5 kms. P’lo caminho
espreitam cores naturais, civilizacionais e olhares curiosos.
As ervas de cheiro, dos herbários e das fotografias
ficam para trás, falta dar uso ao 4º sentido, saboreando-as no prato, na sopa,
debaixo de um teto, à sombra.
A ementa apresenta-se: massada de peixe e sopa de
tomate. Cheira a orégãos, hortelã da ribeira e sabe o nariz a que mais.
Massada de peixe
Sopa de tomate
Bom proveito, colherada que vai, colherada que vem, o
tinto no copo, os corpos novamente quentes, só falta a sesta… com ou sem
chaparro.
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