A festa é de cariz pagão e católico. Antes
de tudo celebraria o solstício de verão, só depois a adoração ao S. João,
adotado pela cidade do Porto como seu padroeiro.
Certo é que para além do lado católico,
com as cascatas (presépios em honra do santo), tudo o resto é mais pagão e até
mesmo folião do que propriamente religioso. Enfim, será outro tipo de
religião, invente-se-lhe pois outro nome, para o qual agora não tenho tempo nem
pachorra…
Os martelinhos, talvez a marca mais
emblemática da atualidade desta festividade, vieram do sr. Boaventura que os
recriou a partir de um saleiro / pimenteiro que viu fora de Portugal, os quais os estudantes
universitários cobiçaram. Só depois de terem musicado as queimas estudantis
é que passaram para o S. João, não sem antes terem sido multados e silenciados
pela PIDE. Agora, os ditos e a sua música de fundo são o ex-libris da festa.
Manjericos e alhos-porros também têm a
sua simbologia pagã, associados a presságios felizes de saúde e de boa sorte e,
no caso dos segundos, agitados nas cabeças das raparigas, ganham ainda
contornos de ritual erótico com reminiscências fálicas. Hoje (e provavelmente
desde sempre) muitas raparigas fogem deles, – devido às conotações do passado
ou pelo seu perfume pouco afrodisíaco? - apesar de no fundo os desejarem. São
só esquisitices femininas, que dizem “não” quando querem dizer “sim”… O certo é
que o objeto em si é muito mais interessante e original que os malditos
martelinhos que, quanto a mim, bem podiam ser inaudíveis. Defendo pois o
alho-porro como símbolo fálico, festivo e institucional do S. João. Viva o
alho, abaixo o martelinho!
O que há aqui de fálico? Só vejo "murcons"...
Também os balões acesos – quais estrelinhas
a brilhar no céu invicto – e o fogo de artifício – célebre na ribeira e ponte
de S. Luís – são sinais ancestrais que ligam o homem ao céu, ao fogo, ao calor
do verão, símbolo de vida, energia ou, como outros defendem , será o sinal para acordar o santo.
o ritual de acender o balão
às vezes sobe... |
às vezes desce...
Não será só o santo que acordará,
aliás, de 23 para 24 de junho poucos são aqueles que dormem no Porto. A festa
começa cedo, por bairros e ruelas, cada um põe a mesa e acende as brasas, na
sua rua, largo de todos ou num emprestado. O cheiro das sardinhas e das fêveras é o
nevoeiro que a todos envolve, na manhã seguinte a cidade acorda debaixo de um
nevoeiro visual e olfativo de sardinhas. Pena que , em Miragaia, um dos bairros onde o
arraial popular puxava para o pézinho de dança, serem mais secas que gordas, mas
parece que é este o destino das sardinhas para este verão de 2012. Dizem os
peritos em linguagem de peixe festivo.
Não se pense contudo que a festa é só
folia, baile , comes e bebes. É isso tudo mas é preciso ainda ser forte: para calcorrear ruas e avenidas;
para ser bafejado pela “sorte” e pelos encantos eróticos de martelinhos ruidosos; para ser enlatado e quase esmagado em longos
minutos de espera…
Conselhos: não vá, se sofrer de tensão
baixa; se não for munido de calçado confortável; se não gostar de apertos; se
decidir estacionar em parques subterrâneos ou outros no centro da festa!!!
Estes
creio que dormiram no carro até à
alvorada, em vez de acordaram , como dita o bom costume festivo, nas areias da
praia, esta por exemplo.
1 comentário:
Fantástica e muito original reportagem sobre o São João do Porto, também este ano passei pela Ribeira na tarde de 24 e a festa já era contagiante! Excelentes fotos! Gostei muito!
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