segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Valência sem arroz

Dias 1 e 2

Quando o objetivo é visitar Espanha, mesmo aqui ao lado, tudo parece fácil. Contudo, quando se trata de ir mais longe e temos de a atravessar, tudo ganha outros contornos. Mais desesperantes, claro. Para aliviar o peso, o melhor é estabelecer como meta um ponto agradável e depois continuar. Desta vez, escolhemos Valência.
Como atrativos em Valência, o facto de se situar já costa mediterrânica e depois porque não conhecíamos, o que é sempre um fator de peso, descobrir o desconhecido. Havia ainda outro íman que nos apelava: saber que depois de uma longa viagem (mais de 700 kms) existia à nossa espera uma área para autocaravanas num sítio sossegado, com piscina e outras comodidades: Valência Camper Park.
Depois de muito alcatrão, uma paradinha rápida para o almoço (made in Alentejo – as primeiras refeições ainda têm o sabor e condimentos de casa) e um “café solo” no bar das piscinas de Luciana, uma localidade da Castilla la Mancha, a uns bons 50 kms de Cuidad Real , a qual escolhemos porque vimos na estrada o sinal de despejos para AC.  A localidade é uma pequena aldeia com duas ruas e meia, mas com um parque ambiental simpático e uma piscina agradável, onde parava gente acolhedora e alegre.

Por volta das 19.30 chegámos a Valência Camper Park ( N  39º 34’ 45.58 W 0º 26’ 43.77 ), onde uma agradável e tépida piscina nos aguardava. Ficaram a alma e o corpo renascidos e revigorados.


No dia seguinte, seria a vez da descoberta. No parque, depois de acordarmos com o som da buzina do padeiro, a simpática rececionista forneceu-nos todas as informações necessárias sobre a cidade (mapa, bilhetes de metro, preços).  A paragem para o metro à superfície fica sensivelmente a 500 metros e chama-se “ Psiquiátrico”. Relato já a informação porque a mesma tem pertinência para a ocorrência engraçada que logo ali nos sucedeu. À espera, um grupo de pessoas com um aspeto diferente, alguma debilidade física, trajes velho se gastos, cigarros descaídos ao canto da boca, tosses cavernosas, silêncios doridos e, no meio do grupo, um homenzarrão forte, moreno de pele, cabelo escuro e até aos ombros, com as calças apertadas a evidenciar o início do traseiro. Quando nos ouviu falar português, rasgou-se-lhe um enorme sorriso. Era português de Bragança, vivia ali desde criança, estava internado (fez-se luz sobre o nome da estação). Quis logo saber se conhecíamos o cigano cantor de Évora, assassinado algures em Portugal (fez-se luz sobre o seu ar morenaço e os seus traços). Elogiou Portugal, as praias de Valência, falou da crise e até nos contou a origem do termo “paella”: segundo reza a história, os homens de  Valência cozinhavam um prato de arroz para as mulheres, “para ela”, daí a expressão “paella”. Tanta conversa e informação deu direito, no final, a um pedido de um euro para os gastos. Demos-lhe dois o que deu origem a uma despedida final com forte abraço e ficámos amigos para siempre.
Que dizer de Valência? Calor? Naquele dia muito, apesar de estar perto do mar. Nãp fomos à praia. Ficámo-nos pela cidade velha, com 2 mil anos de história, desde os gregos, seus fundadores.
No séc.  XV viveu um período de esplendor, o que se nota na arquitetura de muitos edifícios , na sua muralha, palácios e catedral.




Destaque para o Miguelete (diminutivo de Miguel, dedicado a S. Miguel – campanário visível de vários pontos da cidade; a catedral (séc. XIV- XV); e a praça de la Virgen com a basílica do mesmo nome, a sua grande fonte onde apetecia um banho pois faziam-se sentir 39º .



Miguelete





Torres de Serrano



Ainda assim, armámo-nos em heróis e percorremos a pé o Jardim de Turia (mais de 6,5 km de comprimento) , quais gigantes 


até chegar à área mais moderna de cidade: a “cidade das artes e das ciências”, um complexo gigante constituído por vários edifícios brancos, muita água azul turquesa e uma arquitetura plena de vanguardismo. Contém o oceanográfico, o hemisfério, o museu das ciências, o Palau das Artes. Foi por aqui que nos tentámos refrescar, apenas inspirados pelo azul plano das águas porque banhar não é permitido. Ficámo-nos pois pelo baile fresco das águas e se nos quisemos banhar tivemos de voltar ao Valencia camper Park onde, mais uma vez, um outro azul nos aguardava.












(Mais uma vez um elogio rasgado à área: cómoda, prática, sossegada, um autêntico camping mas sem o ser, com preço simpático (12 €) . Faltou apenas a paella que tanta vez vejo no facebook J  )

5 comentários:

António Resende disse...

Para início está ótimo como sempre.
Parabéns

Célia disse...

Os antigos álbuns de fotografias deram origem a esta fantástica descrição das férias passadas...
Parabéns!!!Está muito interessante!

Paula Vidigal disse...

obrigada, prima, tens razão...

Paula Vidigal disse...

ainda bem que gostou, António. Vou continuar então...

Unknown disse...

Desde Valencia Camper Park agradecemos mucho tus palabras. Recibe un cordial saludo, y vuelve cuandol quieras, ésta es tu casa.