quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Açores – o sentido que faltava






Vamos lá sem mais demoras ao palato.
E concluiremos que este vive acompanhado dos outros quatro (ou quase quatro) irmãos.

Não ouviram já o ditado que os olhos também comem?
Pois é, dou o exemplo das cores magníficas do salgado combinado com o doce. Em S. Miguel, este, enchidos com ananás, é um prato típico incontornável.



Façamos então um pequeno périplo pelas diversas iguarias e locais de pasto frequentados.

Em Ponta Delgada, a conselho de muitos experts na matéria, experimentámos, assim que chegámos, cheios da fome despertada pelas alturas e pela ausência do substancial almoço, a tasca “A Tasca”, que antes de o ser foi prisão. 


Fica na rua do Aljube e nela se fica preso a um ambiente agradável e simpático ( o nosso primeiro contacto com o sotaque e simpatia micaelenses) e a uma vontade criminosa de querer comer toda a variedade do cardápio, que em vez de ser uma lista banal, surge impresso num largo jornal.


A ideia é provar o que é tipicamente da região, como os enchidos já falados ou as famosas lapas. Curiosamente, gostámos das lapas, para mais tarde ficarmos a saber que aquelas nem eram as melhores, nem no tamanho nem no sabor que não excluía um certo travo a esturricado.


Não obstante, aviso já que é necessário reservar, a não ser que vão esfomeados às seis da tarde como nós, e consigam uma mesa antes dos comensais das marcações chegarem em catadupa.

Dias mais tarde, portanto, descobrimos que as lapas podiam ter um “look” mais apelativo, em locais como ao “Ponta do Garajau”, em Ribeira Quente ou o “Atlântico”, em Vila Franca do Campo.


Foi na “Ponta do Garajau” (também é importante reservar. Aliás, parece que na ilha a regra é reservar. Provavelmente vicissitudes da época alta...) que nos apresentaram peixes com nomes e sabores desconhecidos, como o lírio (sublime!!!), o peixe-porco e o alfonsim.





Com preços bem mais acessíveis e manjares dignos de reis a tocar todos os sentidos, incluindo o tato, porque comer com as mãos ainda sabe melhor, são os chicharros (carapaus ou jaquinzinhos) fritos, acompanhados de pasta de feijão branco, cebola curtida, limão galego e pickles da terra. 



Isto no Mané Cigano, em Ponta Delgada, uma tasca minúscula, com três “Manés” da mesma família, um a fritar peixe e dois ao balcão, servindo cervejas geladinhas, vinho de cheiro num jarro de outros tempos e frases com piada.
Contrariamente aos outros, aqui a política é não reservar, esperar o q.b. (nunca muito) e conviver com os vizinhos do balcão ou os do lado, porque as mesas são compridas e partilhadas.  


Não esquecer que só abre à hora de almoço. O objetivo é servir bem e não enriquecer de um pulo, a vida são dois dias e há muito que apreciar e fazer na ilha.

Por uma questão de não fugirmos à norma, “Em Roma sê romano”, provámos o cozido das Furnas. O mito do sabor a enxofre não se revelou, mas elegê-lo como “o” prato não foi o caso. O cozido da minha terra, acompanhado com grão, consegue destroná-lo. É claro que não sabe o que é o fundo da terra…



Já o mesmo não se pode dizer do ananás. Só sabe bem comido no seu espaço natural, as milhas de distância e transporte alteram-lhe certamente o sabor. Foi o nosso pequeno-almoço de todos os dias.

Sem “look” extravagante ou cheiro original, é o pecado chamado “bolos lêvedos”, leves ao toque, mas que nos tornam mais pesados…

Como veem, um sabor sentido nunca vem só.

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