Itinerário em Marrocos
Adeus Gibraltar!
Ficou-me na memória uma frase do Guide du Gandini: “deixa a tua mentalidade de europeu em Espanha e na passagem por Algeciras, recuperá-la-ás”.
Parecia um conselho fácil, mas veio a verificar-se de díficil concretização. Talvez se eu fosse como o normal dos autocaravanistas, que estão lá no mínimo um mês, chegasse a concretizar o lema, quiçá? Não o conseguindo, apreciei Marrocos pelo cenário natural, pelo exotismo dos usos e costumes, mas nunca me largou a sensação incómoda de que tudo é demasiado pobre, duma pobreza que indigna e cria outra pobreza ainda, maior do que a física.
1ª visão de terras marroquinas
A diferença de culturas e mundos é tão abismal que nos bate de chofre logo à entrada do porto de Tânger, na fronteira. O mais fácil para despachar os trâmites da passagem é compactuar com os gajinhos que usam colete e parecem da autoridade, mas são apenas os primeiros “colas” do percurso em Marrocos. A mão untada com 5€ e eles tratam das formalidades, apesar de mesmo assim se sentir logo na pele a espera e a dúvida sobre a entrada.
Porto de TÂnger 1
Porto de Tânger2
POrto de Tânger 3
Entra-se e as ruas de Tânger são um turbilhão de gente, nos passeios, na própria estrada. Há que desviar porque é como se eles fossem os Reis da estrada. O trânsito é caótico, sobretudo nos cruzamentos; a regra da prioridade é uma miragem europeia.
Voltando atrás: saímos de Évora às 6h15m da madrugada e chegar a Algeciras às 16 e pouco foi uma boa média, que nos permitiu entrar ainda no barco das 17,30, graças à rapidez e eficácia dos serviços da Agência Gutierrez.
Não estava mal a hora de chegada a Marrocos, não fora o caso mal pensado de as 19h30 serem já veladas pelo manto sombrio da noite o que nos fez, contrariamente aos nossos planos, andar na estrada de noite. Ainda por cima porque não largámos a ideia de seguir até à costa mediterrÂnica para no dia seguinte percorrer o Rif.
Percebemos imeditamente por que razão não aconselham a condução de noite: as estradas são escuras como breu, as marcas da bermas inexistentes e sempre, sempre, gente a caminhar à beira da estrada e às vezes veículos motorizados ou bicicletas sem luz!
Já em Martil, o GPS não ajudava na descoberta do camping Complexe Touristique Albastoune, seguimos à beira da praia como o Gandini sugeria, perguntámos a marroquinos e só depois de duas voltas descobrimos: afinal o problema é que a estrada estava em Marrocos, o guarda do Camping dizia que toda Martil estava em obras, viemos a verificar nos dias seguintes que toda Marrocos está em obras!
Apesar de constatarmos que o camping é classificado como “très correct” , deduzimos, a avaliar pelos sanitários, que em Marrocos o sistema de autoclismo era constituído por um balde que devíamos encher e despejar no respectivo buraco. Mal sabíamos nós que comparativamente com outros campings, aquele era, de facto, “três correct”!
De rastos e esfomeados, jantámos a comidinha portuguesa e pregámos olho em segundos.
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