Ao que chegámos… Ali,
encaixotado entre duas ruas de prédios mais ou menos altos e da Maternidade
Alfredo da Costa, tem sobrevivido desde 1904, aquele que foi prémio Valmor (de arquitetura)
e propriedade de José Malhoa. Na época “Casa Malhoa”, agora Casa-Museu Dr. Anastácio
Gonçalves, casa e recheio poderão ter os dias contados.
Não era certamente a
intenção de António Anastácio Gonçalves, quando, em testamento, a legou ao
Estado juntamente com o precioso recheio que as suas paredes albergam.
Aqui há pouco tempo,
num canal da televisão portuguesa, falavam de museus em crise, e o acima supracitado
foi nomeado no rol dos ditos em crise. Em má hora assim o está, em boa-hora o
nomearam, pois a ele me dirigi antes que as portas se fechassem.
A visita foi rica em
experiências visuais e em emoções, mau mesmo foi constatar a que estado o Estado
nos coloca e descoloca em termos culturais…
A. A. Gonçalves, o
oftalmologista benemérito da arte e da literatura, o homem das ciências e das
artes, de Portugal e do mundo, dará certamente más voltas no túmulo, se destas
desgraças souber…
Naquele cantinho
entalado da cidade, a emoção começa logo no exterior, ao contemplarmos a sua
arquitectura suave e harmoniosa, no tumulto da grande cidade. O exemplar único
combina elementos neo-românticos com Arte Nova e portuguesa, no estilo e cores.
A emoção continua no
seu interior, em pormenores como os vitrais da sala de jantar, que,
infelizmente, a lente fotográfica não foi capaz de registar fidedignamente.
Mais um motivo para se ir lá pessoalmente… Entretanto, a emoção vai-se
duplicando com o recheio coleccionado ao longo de anos de viagens e paixões do
seu ex-proprietário: a cerâmica japonesa, os objetos pessoais, o mobiliário e,
acima de tudo (dependendo do gosto pessoal de cada um), os quadros de autores
como José Malhoa, Columbano em vários pontos da casa, mas sobretudo na
sala-atelier de larga janela e lustre brilhante.
Viajar pelas salas
desta mansão é também penetrar no respirar de um lar que foi habitado,
possivelmente com luzes de alegria e festa. Agora, paira sobre ela a incerteza,
e as luzes, essas, são acesas por uma funcionária à medida que vamos avançando
pelas salas e corredores, porque o orçamento e a poupança parecem ser as palavras de ordem, ou seja, crise do Estado e da Nação!
( Não é um mimo o autoclismo?)
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