sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Oradour, “a vila mártir”: uma prece para que não esqueçamos

Férias 2015: Dias 3  e 4
28 e 29 de Julho



Chega de preguiça, há que enfrentar a estrada e apreciar a rota.
O GPS continuava a assinalar muitos quilómetros até ao destino. Depois de Anglet, Bordéus, Angoulême, Limoges… e por aí fora até à Alsácia.
Sem destino traçado para esse dia, apenas rota, aplicámos a técnica de olhar para o mapa Michelin e procurar um local de interesse, sublinhado a verde. Depois de consultar o guia de França, no percurso até Limoges ou Guéret  ou Montluçon ou… (dependendo do cansaço, estado de espírito ou outros fatores), destacou-se um nome. Aliás, mais do que um nome, uma história hedionda, feia. Uma história que relatava o massacre ignóbil de uma vila inteira pelos nazis. Triste desconhecermos tal, daí estar na hora de conhecer já. Apontámos pois para Oradour-sur-Gaene, a chamada “vila mártir”. 





Antes porém, a meio da tarde, o corpo pediu descanso e Rochefoucald foi a paragem apetecida. Apenas porque havia um castelo e os castelos franceses têm sempre um “je ne sais quoi” que atraem como íman.
Situado na vila pacata do mesmo nome provocava uma forte impressão com as suas torres a lembrar Os pequenos vagabundos (que afinal são belgas e não franceses), infelizmente acertámos no dia da semana em que estava fechado a visitas. Pouco ficámos a saber sobre o mesmo, apenas o que consultámos depois: palácio de um tal  Sr. de la Roche, do séc. XI, à beira do rio Tardoire e rodeado de floresta.


Nada mais havendo a tratar chegámos ao final da tarde a Oradour-sur- Gaene, infelizmente debaixo de forte chuvada o que nos impediu de visitar a vila mártir. Alias, a mesma, apesar de estar a céu aberto, tinha as suas entradas fechadas, já que se transformou num Centro de Memória” e é necessário retirar ingresso (grátis). Do lado exterior, estacionados num parque de estacionamento misto ( N 45º 55´52,1´´  E 1º 02´ 04,7'' ) onde já havia outras AC (existe área de serviço na povoação mas muito longe do Museu), víamos uns muros silenciosos e opressivos, lá dentro espreitava a carcaça de um carro antigo.
A nova Oradour estava aberta, apesar de quase deserta e fantasmagórica: três hotéis - um deles Hotel Milady como o original , da vila massacrada - um supermercado, dois cafés, dois cabeleireiros … e silêncio à noite.
Depois de uma noite de chuva e um tráfego constante que mal nos deixou pregar olho, a manhã acordou com um sol fraquinho, chuviscos e muitos ingleses estacionados ao nosso redor. Dir-se-ia que os Aliados haviam chegado… tarde de mais.
Para entrar na  “Vila Mártir” desce-se uma escadaria do atual Centro de Memória, depois de um túnel entra-se numa das ruas da antiga Oradour, um museu tenebroso a céu aberto, um testemunho silencioso e escuro do dia 10 de junho de 1944. 



Sem que se perceba muito bem porquê, talvez porque sim, os SS , na sua travessia de França até à costa, na Normandia,  para combaterem os Aliados que chegavam depois do Dia D, tomaram a decisão de exterminar toda uma cidade. 642 pessoas assassinadas, entre elas homens , mulheres e crianças. Os homens fuzilados e queimados em pontos estratégicos da vila, as mulheres fuziladas e consumidas pelas chamas na igreja local. Sobreviveram cindo homens e uma mulher, conseguiram fugir à barbárie, no meio da confusão. Depois do hediondo crime, os SS lançaram fogo a Oradour. Hoje, para além das paredes que ainda se mantêm de pé ( e que vão sendo ajudadas para que não caiam) , sobreviveram os objetos de ferro que para ali estão, olhando-nos gravemente. 













O tempo parou literalmente. Pedem-nos para não esquecer, olhamos perplexos, atónitos. Caminhamos em silêncio, como se incomodássemos os mortos; caminhamos em silêncio, como se os SS pudessem corporizar-se e regressar. Nas portas e paredes nomes e profissões de pessoas que foram de carne e osso e não os deixaram Ser mais. Não é um cenário de filme, apesar de o tempo ter parado. Não são nomes fictícios. O tempo parou literalmente.




No cemitério , o Memorial, nome após nome, de todos quantos deixarem de Ser naquele 10 de junho; um frasco com restos mortais consumidos pelas chamas e alguns objetos mais íntimos, mais pequenos. “Lembra-te”, pedem-nos. Como é que se pode esquecer ?

Sem comentários: