sexta-feira, 16 de abril de 2010

Dia 2 – Na rota clandestina


O sol é mesmo grande em Marrocos, daí certamente este camping estar, assim como outros, repleto de autocaravanistas, nas calmas…). E afinal os sanitários, apesar de denotarem usos e costumes do tempo da avó, permitiram um banho quente e rejuvenescedor (a cabina com água quente era apenas uma, a contígua ao esquentador e bilha do gás laranja, mesmo ali à vista de todos).

( Camping de Martil)


Pagámos – à volta de 9 € e rumámos até à Colômbia marroquina, conhecendo pelas estradas e caminhos verdes do Rif gente acenando para a venda da “pedra”. Quase tantos como os pastores, as ovelhas e as crianças sorridentes a acenar, tudo ia rolando harmoniosamente até à chegada a Tetouan.
O estacionamento foi fácil, é só vislumbrarem os veículos chamados camping-cars e logo os marroquinos sinalizam para estacionar, esticando a mão à espera de gorjeta… afinal, Portugal não está a anos-luz deste costume tão pedincholas… Dá-se-lhes 1€ e prometemos mais, se nos guardarem a “casa”.
Contrariamente às recomendações, demos dois passos e logo fomos engatados. Um simpático cinquentão, trajando à europeia mas claramente nativo, apresentou-se-nos, introduzindo a conversa com a menção ao irmão que trabalhava em Lisboa, “Rua do Ouro, da Prata, Chiado”… o inventário ia seguindo, diz chamar-se Ahmad, mostra a identificação…



( No canto direito, o nosso Ahmad)


há que lhe tirar o chapéu, sim senhora, polida e subrepticiamente se colou a nós, até percebermos que tinhamos ali um guia para todo o percurso, até porque este caminho só os moradores da medina o conhecem, esta não é a porta principal… E assim passeámos por uma medina de ruas escusas, coloridas, de odores mesclados e irreconhecíveis, de gente que trabalha, vende, fala uma língua cantada e enrolada.
Tudo se passou num ritmo sereno, apresentando-nos Ahmad a medina dividida em áreas: a dos judeus, azafamados nos seus ateliers de costura, onde as linhas de seda são antes enroladas ao longo das estreitas ruas, num zumbido inconfundível.





A medina dos árabes, com a suas padarias comunitárias, o seu mercado de legumes, carnes, pão, tudo misturado e ao lado os berberes tímidos de chapéus alegres; a medina de reflexos andaluzes com os seus hotéis, pátios e cores.


(A padaria de todos)









E sempre, sempre a mesclagem de raças, numa harmonia social pintada pelo tom verde, com nesta rua que nos apontou:







(Palácio Real)


(Um hotel)


Graças a Ahmad entrámos também no sítio escondido onde as peles dos animais são meticulosamente tratadas até serem mala, casaco, pele macia e luzidia.







(As banheiras onde as peles mergulham em água, farinha e sal)




O odor fustiga, a visão dura do trabalho também, só os gatos são inconscientes e dormem na rua - também aqui Fernando Pessoa teria invejado os felinos…





Um restaurante



O interior de um Medina



Mas nem tudo são rosas e, por isso, como baptismo de aterragem neste novo mundo, cedo Monsieur Ahmad (no final da visita é certo) nos levou à cooperativa… se o encontrarem fujam do engodo, a dita cooperativa é no rés-do-chão de uma inocente loja de artesanato que amavelmente te oferece chá de menta e logo de seguida, deliciosamente instalados no 1º andar, te dão lições sobre tapetes, até que, pela exaustão, apesar de sempre dizerem que não é obrigatório comprar, acabas por cair na armadilha, e te vês a braços com tapetes ou panos… caímos na esparrela, podemos voltar para casa de tapete voador.
Na descida da medina os 10 € euros da praxe ao malfadado guia, que certamente dali recolherá a sua comissãozinha, regalado.
Vamos mas é regalar-nos noutro lado, almoçando os restos da comidinha caseira e portuga, mesmo ali à beira da estrada. Mais tarde, houve quem nos dissessse que não é nada aconselhável piquenicar assim, mas desta vez a inocência não teve maus frutos. Esteve-se bem.



Rif




Continuando a rota da droga, chegámos a Chefchouan a tempo de um lugarzinho no simpático e rústico camping (no Gandini, categoria “correcta”, mas quanto a mim até merecia mais pontos).
Parece longe, mas, por um atalho de escadinhas sempre a descer, cedo se chega à vila ( o pior é a subida…).





Chefchouan pela colina

As expectativas eram grandes e de início goradas pela presença de tanto mercantilismo e vendilhões que ocultam o tão desejado azul das paredes.








O rei olhando-nos na esplanada



É preciso procurar e depois de encontrada, a “vila azul” encanta. Desta vez, já com a lição decorada, não nos deixámos seduzir pelas vozes doces dos guias e partimos sós à descoberta. Nada de labirintos como Tetouan, a vila é um reino pacífico, onde comprar se faz de modo tranquilo, onde contemplar sem comprar ainda é possível. Anoitecia e as cores fotográficas desvaneciam-se, era tempo de ver o riacho que corre alegremente no sopé dos montes, era tempo de provar numa esplanada turística o coscous, a tágine, os comensais todos da terra, 4,5 € por pessoa e a festa faz-se. Debaixo do olhar sedutor do rei, saboreámos a refeição e a noite terminou plácidamente, já esquecidos das peripécias charlatãs do início do dia.









4 comentários:

António Resende disse...

Parabéns. Bela e poética descrição.
Revi lugares onde voltarei de novo.
Quanto às ''gorgetas''... € 1,00 para ''ter conta da AC'' é muito!!!...
Ao Guia os € 10,00 idem...
Ai se os fraanceses sabem!...

zezinha delgado disse...

Obrigada Paula por partilhar a sua viagem connosco.Marrocos esta nos nossos planos ha muito tempo.Talvez acompanhados de amigos .Um abraço.

Paula Vidigal disse...

pois, António

Não tenho, nem nunca tive, jeito para negócios...por isso é que nunca hei-de ser rica. Eles, os marroquinos, sabiam e enganaram-me sempre.

para a próxima vou numa excursão, pronto!

vassalo disse...

ja la dfui sete vezes e e um espectaculo agadir sid-ifi merzouga tan-tan a duna de merzouga e um espectaculo tagine 8 euros gasoil barato peixe do melhor mas sao uns chatos com a propina gorgeta se nao chatearem tanto era melhor a solucao e dizer que somos ucranianos assin nao nos chateiam .senpre en auto-caravana