sábado, 18 de junho de 2011

A voz de Saramago

A voz de Ricardo Reis (uma voz de Fernando Pessoa), pela voz de Saramago, hoje dia 18 de Junho, 1º aniversário da morte de Saramago:


"... a partir de certa idade nem nos governa a cabeça nem as pernas sabem aonde hão-de levar-nos, no fim somos como as criancinhas, inermes, mas a mãe está morta, não podemos voltar a ela, ao princípio, àquele nada que esteve antes do princípio, o nada é verdade que existe, é o antes, não é depois de mortos que entramos no nada, do nada, sim, viemos, foi pelo não ser que começámos, e mortos, quando o estivermos, seremos dispersos, sem consciência, mas existindo."

in O Ano da Morte de Ricardo Reis, José Saramago

e pela voz de um amigo que escreve por imagens: Fernando Campos.

Improviso à água




Improviso para uma fonte

Boca da terra.
Ao longe pressentida
mas discreta.
A quem te procura
entregas-te aberta.

Eugénio de Andrade

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Festas na Barquinha


Não é só na divina Constância que as festividades ocorrem entre 10 e 12 de Junho. Um par de quilómetros rio abaixo, a Barquinha (Vila Nova) também dá o ar de sua graça, não para imortalizar os versos do Poeta, mas para imortalizar outro tipo de poesia. Chama-se Festival de Animação e Teatro de Rua, e decorreu num espaço fabuloso “destoutra” vila piscatória das Tágides, no parque da vila à beira-rio, galardoado com um prémio de arquitectura em 2007.



O relvado é imenso, convidando ao passeio, lazer e divertimento.
Isto mesmo sem Festival, porque com ele as surpresas aumentam: gente que pinta caras, artesanato, cheiros das tasquinhas que espicaçam o apetite, gente que faz das árvores casa, e até duendes e cavalos gigantões.













Esta última atracção, vinda de Espanha (Carros de fer), animaram a relva e a noite da Barquinha com a poesia dos efeitos visuais.




Também hospitaleira, a Barquinha saúda autocaravanistas com uma zona de serviço inserida no referido parque (na data ocupada pela área da festa, mas não será assim todos os dias…).

terça-feira, 14 de junho de 2011

Camões escolheu Punhete ou Constância?


Não é de admirar que em Constância, vila do distrito de Santarém, debruçada no cruzamento entre o rio Tejo e o Zézere, a organização e o aprumo sejam uma “constante”. Depois que limpou o seu nome de baptismo menos próprio – Punhete -, já no século XIX, Constância enfeitou-se de esmeros. Coisas de nomes…
As ruas são limpas e a sua geografia e arquitectura organizadas, lá do alto do casario tudo pende airosamente até aos rios, o branco das casas mira-se nas águas e o verde espreguiça-se por ali afora, num clima ameno e gentil. O encontro entre os dois rios ajudou certamente a que fosse abençoada pelas Ninfas e ultrapassasse, assim, o original e infeliz nome. Camões, certamente inspirado pelas Tágides, Zéfiros (ou seria pelo maroto nome?) e outros que tais, escolheu-a como residência e, hoje, a terra retribui-lhe. Com esta, foi a 16ª edição das “Pomonas Camonianas”, à volta do 10 de Junho, claro.

A deusa do mesmo nome (Pomona), dos frutos e flores, também celebrada pelo Poeta, é aqui saudada, enchendo-se as ruas de vegetação e odores, vendendo-se, num mercadinho, flores e frutos da época.




o mercado


animado pelas gaitas de foles de "Os Gaiteiros da Golegã"

Este ano, não só a comunidade local e escolas se vestiram a rigor, como também, no seio dos desfiles, homenagens, animações, bailes e comezainas (uma “ceia do povo” oferecida - pernil de porco no rodízio), um par se casou de facto e de fato à época (ainda bem que ainda não adoptei o Novo Acordo Ortográfico, ficaria sem trocadilho).



as escolinhas do desfile




os noivos de facto e de fato



viagens no Tempo



posições (atrás, ao telemóvel...)



tecidos de outrora





os convidados do casamento




pernil de porco para a ceia do povo











danças a abrir com o casal






Lá do seu pedestal, o Poeta teceu certamente mais um conjunto de estrofes dedicado ao “fogo que arde”…



E não esquecer que a hospitalidade constanciana é também uma constante: no cimo do monte, olhando o Zézere, um largo parque de estacionamento com área de serviço para AC.




domingo, 5 de junho de 2011

BIME, a poesia das coisas pequenas







Vai acabar daqui a momentos a 12ª edição da BIME (Bienal Internacional de Marionetas de Évora). Era eu uma "teen" quando assisti à primeira... entretanto , como já uma vez referi e agora repiso, os meus filhos cresceram com ela...e nunca como neste malogrado 2011 português ela certamente se debateu com tantas dificuldades financeiras. Fez-se na mesma, mas sem dúvida com menos . E infelizmente menos qualidade, reflexos dos contingentes, já se sabe.

O PSD acabou de ganhar, a BIME a terminar. Daqui a dois anos o cenário das marionetes estará mais vivo ou vivo de ainda mais dívidas?Ou nem sequer terá cenário? Não querendo mostrar o meu pessimismo (que é sempre mais cepticista que pessimista), aqui vos deixo um dos momentos fortes desta que é a 12ª edição da poesia dos gestos, sobretudo dos pequenos, das coisas simples e belas, pequenas elas também e que nos tornam grandes, por dentro: Alex Barti Show, um dinamarquês que faz de um boneco um novo Pinóquio.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Ainda o Algarve


Ainda o Algarve, e desta vez, para finalizar em cheio, com a cereja no topo do bolo, Lagos.
Lagos tem outra aura. Outra energia. Até os mais jovens comentaram: “Isto sim, tem outro ar”. Ar, aura, energia, lá está!
A luz é mais brilhante, o rio sorri, os passeios polidos reflectem essa luz, esse rio… as pessoas são mais arejadas, as cores mais coloridas … por mais que use superlativos e provavelmente exagere, as palavras dificilmente traduzem. É Lagos e pronto, só experimentando e… repetindo.
Aqui ficam os “mais”, apesar de contextualmente contornados por uma Páscoa já passada.



Provavelmente as imagens cristalizam mais que as palavras…