domingo, 27 de setembro de 2020

Trilhar com tonalidade minhota

 


Trilhar, verbo pouco sonante segundo o meu canal auditivo, mas que aqui serve que nem uma luva. É mesmo fazer um trilho!

Nestes tempos em que o rosto deve andar oculto (não, não somos muçulmanos, e com isto não há segundas leituras, não somos, ponto); em que devemos circular pela direita (também não sou de direita, ponto, não que alguém tenha alguma coisa a ver com isso); em que devemos manter distanciamento (tem de ser, não me apetecia, mas ponto), trilhar é uma boa alternativa. Para além do óbvio: lutar contra o sedentarismo, etc e tal, e o mais fascinante, caminhar e estar integrado na Natureza. Já agora, memorizá-la fotografando-a.

Ei-la em várias tonalidades:

Tonalidade minhota:



Ponte da Barca, Minho

Partindo da agradável vila de Ponte da Barca, seguindo o Lima e procurando a foz do Vez, passando por campos de cultivo, labirintos assassinos de milho, regadios, curvas do rio, bar à beira-rio , na direção de Ponte de Lima.




No intervalo, um banho no esconderijo de quem é da terra e conhece os secretos dos patos.


Para terminar novamente na vila, relaxar na relva frente ao Lima, debaixo da sombra e calor de agosto (até as ovelhas o sabem de cor), e finalizar com novo mergulho na piscina fluvial. Bem, talvez aqui a qualidade da água não seja a melhor e o isolamento e silêncio os mesmos. Afinal, tínhamos saído do trilho.




À noite, um concerto (o nosso primeiro no confinamento), com lugares marcados e distanciados, máscara e, ao longe, vozes da terra, uma delas a imitar Leonard Cohen. Estranho… sufocante… “infelizmente, “primeiro estranha-se , depois entranha-se” (falo da cara tapada, ponto).



quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Aldeia poética – Cacelha Velha

 


 

Um pequeno poema visual no sotavento algarvio, assente numa falésia: Cacelha Velha.





É um miradouro para a ria Formosa (quem a batizou sabia), na qual, na maré baixa, se criam piscinas de água tépida por entre caminhos de areia e barcos de pesca ancorados.





É um miradouro para o mar: do lado de lá da ria está o mar e uma extensão enorme de praia, à esquerda Praia Verde, à direita Cabanas de Tavira.

Com a maré cheia, há que pagar ao barqueiro para regressar até ao lado da fortaleza e dos seus muitos degraus.

Chegados à aldeia ou partindo dela, há muito que admirar: a sua pequena igreja, a fortaleza, o pelourinho e a simpática arquitetura algarvia bordada a flores e a cores. 




A aldeia permanece intocável à mão da modernidade, daí o prazer de percorrer placidamente as suas ruelas e sentir a poesia das cores e das formas. Deve ser por isso que as ruas têm nome de poetas, um deles árabe, memória dos tempos da “Cacila” muçulmana.




Claro que, para pagar o preço de tamanha singularidade, o melhor é ir cedo ( falo do mês de agosto, entenda-se) para poder estacionar em paz, à beira da estrada, se viajar, como nós , de casa às costas. Neste agosto 2020, com a pandemia e o dedo legislativo apontado às autocaravanas, Cacela Velha , apesar da sua beleza poética, tinha um verso que destoava: a proibição ao estacionamento de AC no único parque para o efeito.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Uma escada para o céu – convento da cartuxa, Évora.

 

 



É um caminho de silêncio… solidão… simplicidade. Ou não. Um caminho de diálogo com Deus, ao lado de Deus, de mãos dadas com o essencial e a verdade. No fim, que não é fim, espera-os a escada que os conduzirá ao céu. Scala Coeli







Foram assim os anos de missão (idealmente sessenta) daqueles que entre a brancura destas paredes aqui residiram. A brancura das paredes e dos muros, mas também a cerca verdejante de ciprestes a apontar para o céu. Scala Coeli.




No fim, já passando a faixa serena dos oitenta, os últimos quatro monges cartuxos partiram rumo a Espanha.




 

Hoje, antes que cheguem as irmãs Servidoras do Senhor e da Virgem de Matará, da Argentina rumo à planície, este espaço de silêncio é aberto ao público.

Hoje, longe dos monges, dos seus passos delicados, das suas preces ritmadas, ficaram os testemunhos de quem os seguia com o olhar.




Depois, o portão voltará a fechar-se. 



terça-feira, 18 de agosto de 2020

Outro rio … sem sons. Com espaço.

 












Também acontece estar uma água maravilhosamente cristalina a chamar por nós e ficarmo-nos pela imensidão da relva. Já agora que há pandemia e este chão e estas águas não ficaram infestados de toalhas, roupas, sacos, mochilas, gentes e etc. a deixar o espaço sem espaço, aproveitemo-lo. 




Assim, desnudo, até há quem lá vá em outras andanças, e agora não o reconheça. A água era fria, o banho foi só até abaixo da cintura, mas o local é fenomenal, percebe-se porque o fisgaram para ser o palco do Festival Paredes de Coura.

 

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Calores de estourar

 

 

Quando o calor aperta, só apetece mergulhar.

Pensa-se, ah e tal, o norte é fresco e cai-nos em cima pra cima de 30 graus. Perto de Ponte de Lima, pedimos ajuda ao Dr. Google e eis que nos indica o Rio Estorãos . Belas fotografias, o corpo grita, bora lá. Só que o Dr. afinal não sabe tudo e desconhece que o caudal de água onde sonhávamos mergulhar está transformado num fio de água. Mesmo assim o ar envolvente é refrescante e ficamos a mirar o fio de água e o verde através da transparência de um copo de imperial ( à moda do norte -  “fino”)  e um picapau em mais um… bar à beira do rio.



Ponte "romana" de Estorãos


Moinho 




Bar "à beira do Rio"


Igreja de Estorãos

domingo, 16 de agosto de 2020

Era uma vez... um rio

 

Era uma vez… um rio

 

Na terra, Arcos de Valdevez, um rio em forma de U, cuja barriga alberga a refrescante e concorrida praia da Valeta. É o rio Vez, dizem que o menos poluído da Europa. Escorre pelos Arcos das pontes de outrora, formando espelhos transparentes.




Arcos de Valdevez

Saindo para fora da  terra , Arcos de Valdevez, diz a tradição “onde a história se fez”,  o rio Vez e os cenários envolventes enquadram-se na reserva mundial da biosfera, ao longo de um percurso de ecovia de  32 km que desagua no Lima, depois de Ponte da Barca, ou em sentido contrário, vai ziguezagueando até à aldeia de Sistelo, premiada “7 maravilhas de Portugal”.




Sistelo

Ao longo dos 32 km da ecovia do Vez – o melhor é dividi-los por etapas e deixar escorrer os dias ao longo do rio – é tempo para estar em contacto com o silêncio entrecortado por alegres trinados e cascatas melodiosas, pontes e passadiços, moinhos, azenhas, solares. 


Ecovia do Vez

De espaços a espaços um local paradisíaco para um mergulho nas águas cristalinas e tépidas; volta e meia um pequeno bar, invariavelmente batizado de “Bar do rio”. Contámos pelos menos três: em Ponte de Vilela , em Carreira ( a simpatia extrema dos proprietários até nos deixou pernoitar na melhor de todas as “praias” e paisagens a fazer inveja a qualquer pintor impressionista)  e em Gondoriz.







"A nossa praia" 



Bar do Rio


Para terminar o dia, um mergulho final na praia da Valeta e um périplo pela vila à procura do tradicional bife macio de cachena, acompanhado pelo suculento arroz de feijão.


Broa frita e alheira de cachena no Pote

De certeza que o roteiro se repetirá outra vez.