Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada esquina, um amigo
Em cada rosto, igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Em cada rosto, igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Nos
anos 80, quando estudava em Coimbra, ia passar o feriado à “terra”, onde, à
meia-noite do dia 24, os foguetes riscavam o céu e se cantava a plenos pulmões
“Grândola vila morena”. A tradição manteve-se até agora, 20 anos depois, 40
depois do 25 de Abril, mesmo depois da CDU ter perdido a Câmara para o PS e
novamente agora que a recuperou. À meia-noite interrompe-se o concerto, seja
ele qual for, canta-se Grândola e os foguetes disparam.
Desta
vez, 40 anos depois do 25 de Abril, e mais de vinte depois de ter estudado em terras do Mondego, estava em Coimbra. Enquanto em Évora se ouviriam foguetes e a Grândola
do Zeca, em Coimbra era o silêncio total. Enquanto estudante creio que nem uma
só vez lá passei o dia da liberdade, portanto, desconhecia que ali, numa cidade
que sempre considerei revolucionária, céus e vozes se confinassem ao silêncio.
E ali estávamos nós, pais e filhos (os meus filhos nasceram depois do 25 de Abril, mas sempre cantaram a Grândola e os foguetes), na ponte pedonal do Parque
verde sobre o Mondego, olhando os céus e ouvindo apenas rumores de bares. Se
queríamos ouvir a música do Zeca só havia uma hipótese: rumar para dentro da
casinha e ouvi-la num qualquer canal televisivo: e foi o que fizemos , ouvindo
apenas metade, na RTP 2.
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto, igualdade
O povo é quem mais ordena
Grândola, vila morena
Em cada rosto, igualdade
O povo é quem mais ordena
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola, a tua vontade
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola, a tua vontade
Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
A
segunda hipótese de a ouvir e cantar em coro, ocorreu mais de 24 horas depois,
no Teatro Gil Vicente, onde em “25 cantigas de Abril” lá se cantou a Grândola
completa, à meia noite e vinte, de dia 26 ! Do cardápio, outras músicas do Zeca
se cantaram, e foi com revivalismo e nostalgia dos tempos de estudante que revi
e ouvi o Orfeón de Coimbra. Lá no fundo do palco eram outras caras, mas tal
como naqueles filmes em que o passado se infiltra no presente, eu olhava
aqueles caras jovens de bocas ovais de sopranos, contraltos e baixos e via
perfeitamente as caras de outros tempos, como se fosse ainda hoje…
Outras
nostalgias lá fui revivendo. Na manhã especial do 25 de Abril, a Rua Ferreira
Borges, Praça 8 de maio e do Comércio enfeitaram-se de trajes e produtos regionais
e as montras decoraram-se com motivos alusivos à data (ver fotos anteriores).
E, no meio, de várias
atuações, destacou-se novamente o Orfeon Académico numa performance conjunta com
os grupos de Teatro da Associação de Estudantes, TEUC e CITAC. Entre os atores simulando a morte ,
simulando a vitória para todo o sempre da liberdade, lá estava eu, pequenina,
alentejana e descalça, no filme que misturava passado e presente …
Mas
Coimbra de agora não é a Coimbra da juventude. A magia já não está lá, os anos
passaram, as cores são outras e Coimbra, também ela , envelheceu (ou seria
sempre assim e eu não via na altura?) Coimbra converteu-se à religião dos centros
comerciais, deixando morrer a sua baixa e baixinha, que se veem agora
completamente ao abandono. Onde estão, por exemplo, os cinemas nas zonas centrais que lhe
conferiam movimento e vida? Mais uma vez nos centros comerciais… Coimbra não é
definitivamente a mesma, é uma aldeia de ruas a subir e a descer, de ruas a
precisar de limpeza, de fachadas a estalar de velhas, de abandono, tudo quase a
ruir. Não, não fui só eu que envelheci…
(esta é uma fachada arranjada, apesar da conversa anterior...)
Felizmente
que da outra margem, outrora com silvas e mato, o rio se abriu para o desporto
naútico, piqueniques, passeios, fitness.. . Desse lado, como já outras vezez referi, Coimbra lavou a cara e encanta …
Com
mais sol encantaria certamente, o que não aconteceu… mas mesmo sem ele o
colourun realizou-se e os rostos iam alegres.
Valeu
a pena, já dizia Pessoa “tudo vale a pena se a alma
não é pequena”, sobretudo quando toca a passear com a família e amigos.
Para
rematar , um salto à Praia da Claridade onde o sol já dava o ar de sua graça no
dia de regresso, pois então…