domingo, 22 de janeiro de 2012

Lagoa alentejana

 Interrompamos as narrações à volta de aldeias de xisto e praias fluviais, para regressar a outras águas…
Lagoa de Santo André: de um lado a lagoa, do outro o mar. No verão. É, definitivamente, um cenário pouco habitual e, por isso mesmo, atraente. Também as diferenças de temperatura são notórias: a lagoa, tépida e calma; o mar, agitado e gelado. Entre ambos, um parque de estacionamento na areia batida e um caminho ao longo das dunas, onde, em agosto de 2011, muitas autocaravanas pernoitavam e faziam férias. Fizemos o mesmo, por uma noite, e dormimos serenamente.



 No dia seguinte havia festa, a de S. Romão, com folclore, sardinha assada, quermesse local e palanque colorido. A típica praia classe-média de alegria natural, a contrastar sabem com o quê? Na próxima crónica vos direi.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Figueira - outra aldeia de xisto



Primeiro Oliveiras, agora Figueira. Pelos vistos, por este concelho abundam as referências às árvores que nos dão (davam) o sustento. Estacionámos ao lado de um grande sobreiro.
A casa da varanda

Logo à entrada, o que poderia ser uma casa aberta às visitas e a um bom repasto na varanda, mas o tempo já lhe vai pregando das suas e, sem ninguém lhe deitar a mão, quem a poderá relembrar? Onde as vozes das crianças, o som da labuta diária, das galinhas cacarejando no pátio? Deixemo-nos de miragens e avancemos por entre as galinhas de hoje (qual a diferença?) e as abóboras gigantes, quais memórias de Cinderelas perdidas…

 


 Damos mais dois passos e, depois do terreiro meio circular, o “rei” da aldeia aguarda-nos. Dom Quatro Patas de raça rotweill acompanha-nos, e até pousa para a fotografia. Em frente, a loja das aldeias de xisto, uma das muitas espalhadas por essas aldeias, promotora dos costumes destes e doutros tempos. Estava fechada, mas Dom Quatro Patas atraiu a vizinha do lado que logo meteu a mão ao bolso do avental e de lá puxou da chave que abria a loja. Depois, indicou-nos o caminho para a “parte antiga”, como se fosse difícil achá-lo por entre quarteirões, becos e linhas de metro. Logo ao virar da esquina, o que parecia ser o início da reconstrução (postos os olhos nas duas ou três casinhas remodeladas da entrada), foi visão, porque a “parte antiga” era um postal mesmo antigo no qual as ruínas eram palavra-chave. Uma rua “principal” e várias ramificações estreitas, um forno comunitário ainda em funcionamento, o que poderiam ser uns largos, e o fascínio das paredes-meias e da “água vai” por entre janelas estreitas, pedras, xisto, telhas derrubadas, telhados caídos, casas em escombros, sem dono, sem vida.

O forno



a parte remodelada



a A casa dos fundos

Não fora o som do rebanho de cabras e de um martelar numa casa mais atrás, e pensar-se-ia que era uma aldeia fantasma.
Apesar disso, havia um qualquer encanto inexplicável, um certo íman que me fez percorrer o mesmo caminho para trás e para a frente como que para o reter na memória, com medo que tudo caísse de vez. Alguma vez se erguerão de novo vidas naquelas paredes?
Do outro lado da rua, a olhar para o campo, isolada das outras, uma nova casa erguia-se. Quem sabe se ainda há esperança?






sábado, 14 de janeiro de 2012

Praia de Fróia: fluvial e de xisto

 

Não é Tróia, mas é igualmente “in”. Em vez de “T” tem um “F”, porque, claro, é uma praia fluvial. Ao lado da aldeia de xisto, a de Oliveiras. Dizem os guias, panfletos e quem sabe, que se trata da praia fluvial 2011. O prémio deve-se à qualidade das suas águas.
No inverno estava assim: vazia, sombria (de sombra), fria; mas grandiosa no enquadramento paisagístico e da Nikon.



No topo de um dos montes vários parques de estacionamento fazem as honras da casa, bem como um restaurante que no verão deve ser um bom local para se “esplanadar”.
Havendo lugares para estacionar, será um bom destino para autocaravanistas se o que se pretende é uma boa paisagem e um bom mergulho. Não o fiz nesta praia, mas no verão passado estreámo-nos no percurso das praias fluviais e vimos verdadeiras pérolas. Portugal tem uma boa rede delas, especialmente o centro, e , neste capítulo geográfico, conjuntamente com o percurso de aldeias do xisto, é um bom roteiro para viajar cá dentro. Seja-se turista em Portugal!

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Aldeias de xisto - a de Oliveiras



Também no concelho de Proença-a-Nova, esta é uma das muitas aldeias de xisto da Beira interior, inserida no verde intenso, longe da civilização, mas, por outro lado, de fácil acesso por meios automóveis próprios. Pior seria noutros tempos, aí sim, os seus poucos habitantes (noutros tempos certamente em maior número) estariam isolados no seio da mãe-natureza, banhados pela luz natural. Hoje, “casa” de poucas famílias e algumas só de fim de semana e veraneio, a aldeia vai conhecendo reestruturações e melhoramentos com o trabalho individual de alguns e (dizem) com os  apoios comunitários. Desse alojamento denominado de local estão à espera as casas com nomes pitorescos como Casa do Forno, da Travessa, da Pífara…



Alojamento local




Por fora o xisto, por dentro já bastante conforto e comodidades, certamente muito diferentes de outros tempos… Mantém-se a traça das ruas estreitas e, por exemplo, o forno comunitário (faz parte da Casa do Forno), ainda a dar que falar e a dar que mastigar.
No outro lado da aldeia, a D.Maria José  recebeu-nos afavelmente, respondendo às perguntas turísticas e mostrando-nos as suas eternas obras e transformações de bom gosto, operadas para gáudio de turistas. Não de turistas como nós, mas nunca se sabe, estamos sempre abertos a outras experiências mesmo fora da casinha sobre rodas. Se alguém que nos esteja a ler, precisa de inspiração para um fim de semana de calma, relaxe e regresso às origens, teremos todo o prazer em dar-lhe o contacto pessoal destes novos alojamentos de xisto, com lareira, esplanada e churrasco.
A escassos metros da aldeia, espreita e soa outra atração: a recém galardoada 2011, Praia da Fróia  (próxima crónica prometida).

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Na peugada dos franceses





Menos interessantepaisagisticamente, mas mais rico em História, é o PR4, de nome “Pela linha da Defesa”, outro percurso a assinalar da rede de percursos pedestres do município de Proença-a-Nova. No total são 14,5 km, de Sobreira Formosa à Ponte de Alvito.
A ideia é impregnarmo-nos do espírito das invasões francesas, embrenhando-nos em trilhos escondidos e secretos, por onde as tropas do general Junot (e as nossas) andaram. Digo “embrenhando-nos” porque, no breve trecho percorrido (sim, confesso, fomos preguiçosos e não fizemos os 14,5 km), o mato era denso e certamente, há muito, pouco explorado.

  









(Ponte de Alvito)


Aventurámo-nos no sentido contrário (desde Ponte de Alvito) por ser a parte do percurso que, logo à partida, escondia um forte e uma bateria, do tempo da dita linha de defesa. 


A bateria já não existe, claro, mas percebe-se o ponto estratégico escolhido; a visão , lá de cima, abarca bem longe o possível inimigo… o mato é denso, mas rico em medronhos para saciar a fome de qualquer “soldado”.















O forte tem ainda a estrutura retangular e a visão abrangente é a de um corpo verde gigante a pulsar.


 















No percurso inverso fica a praia fluvial de Froia e as aldeias de xisto Figueiras e Oliveiras, que aqui ficam apalavradas para as próximas crónicas.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Percursos pedrestes no centro



Com sol e frio de inverno, nada como metermo-nos a caminho, a pé, por esses campos fora. Está na moda porque é saudável, mas é também uma forma de conhecer a flora, a fauna e o nosso património rico em História, cultura e vida. O nosso luso-património.
O mote é Proença-a-Nova, no “ centro do encanto” dos percursos e rotas pedestres, no “centro do encanto” das praias fluviais e aldeias de xisto, ou seja, no centro do país. Basta ir ao Posto de Turismo (ou internet) – e aproveita-se logo para colorir e refrescar os sentidos no recente parque do Comendador João Martins  - e trazer um saco cheio de folhetos ilustrativos. Depois é difícil escolher o percurso certo, tanta é a oferta.
 
Parque em Proença


Conosco, a escolha recaiu no intitulado “PR2 – os segredos do vale de Almourão “. O percurso inicia-se em Sobral Fernando, aldeia situada numa encosta a contemplar a vizinha Foz do Cobrão, ambas separadas pelo rio Ocreza, cenário idílico e místico.
Da aldeia partem vários percursos, apeteciam todos, mas a foto das “portas” de Almourão tinha-nos aguçado o apetite.


Sobral Fernando
Partamos pois. Atravessa-se a aldeia, umas ruas a subir (percurso de dificuldade média) e lá se vai por um estreito caminho sempre com os olhos postos no Ocreza e suas curvas, até se chegar às ditas portas que, afinal, se afiguraram beneficiadas pela lente mágica de um qualquer Photoshop ou assim. A garganta tinha-nos feito lembrar os caminhos míticos do Sr. dos Anéis, mas afinal o quadro era outro e de elfos nada encontrámos, a não ser que contemos as agilidades acrobáticas dos escaladores da rocha. A sobrevoar-nos, bem que podia ser a águia de Gandalf, apesar de o folheto falar em abutres e cegonhas. Lá no alto, porém, voava uma mancha negra, dominando os céus.
A duração é de cerca de 2 horas para 6,5 Km até Carregais, nós ficámos a meio do percurso, o que significa que gastámos o mesmo tempo e as mesmas solas.




 escalada
 rio Ocreza

 garganta de Almourão
 versão photoshop
 
Anoitece cedo, é a desvantagem do inverno, mas no calor de verão será uma sugestão impensável. Experimentem pois na primavera.
(Para os autocaravanistas: há a possibilidade de estacionar à beira da estrada, à entrada da aldeia Sobral Fernando. Para pernoita: o parque Comendador João Martins ( N 39º 45’09,1’’ W 00.7º 55’38,8’’   ), em Proença-a-Nova).




 pernoita

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Dornes (que poderia ser "dormes", porque a calma é um sono divinal)



Apesar de não fazer parte do rol das aldeias de xisto às quais nos dedicámos nas férias do verão e do natal, Dornes é outro local longe da civilização gritante e da correria feita de stress, onde o tempo dura e pára. As imagens são de março de 2011 e estavam algures na minha mente como se fossem de há séculos. Lembrei-me delas neste final de ano quando passei sobre a praia de Fernandaires .
Dornes é uma península; as águas são as da Albufeira de Castelo de Bode, as mesmas, portanto, de Fernandaires.

Para além das águas e do verde circundante ( o que na realidade me atingiu e permaneceu), outros dois marcos falam alto: a igreja de Nossa Senhora do Pranto com os azulejos e o seu órgão de tubos; a torre templária pentagonal.







À volta, repito, o verde das águas e dos montes e um aperitivo na varanda….


domingo, 1 de janeiro de 2012

Caminhos de xisto - Água Formosa: que perfeita sinestesia!




Uma boa maneira de terminar o ano, ou porque estava frio e era natal (ou porque era natal e estava frio), foi pisar caminhos e trilhos de outrora, entre pedras e pedrinhas, com o som dos riachos, entre o cheiro dos sargaços e o doce paladar dos medronhos.



Tudo isto na região Centro, pelo trilho das aldeias de xisto e praias fluviais.

Sabem o que é uma sinestesia? É uma figura de estilo que relaciona planos sensoriais diferentes, por exemplo, a audição e a visão, como na aldeia de xisto Água Formosa. A ode ao som da ribeira da Galega que é a música de fundo que nos acompanha ao longo do passeio pela aldeiazita que, visualmente, tem um enquadramento paisagístico todo ele formosura. Fica a poucos quilómetros de Vila de Rei, distrito de Castelo Branco, entre Sertã e Ferreira do Zêzere (N 39º 38’6’’  W 8º5’55’’).


A placa que a homenageia reza ” Esta é uma aldeia que vive de esperança. Tem poucos habitantes (que) vieram atraídos pelo som da água a correr na ribeira da Galega”, o que deve ser bem verdade; mas, para mim, encantou-me a toponímia que lhe assenta como uma luva e toda a ternura que dela emana.  A ternura do cenário envolvente, o caminho ternurento até à fonte com o nome que honra a aldeia (por um caminho calcetado e uma espécie de lagoa apetitosa para mergulhos de verão) e a ternura dos seus habitantes que, cada um por si e sem apoios de espécie alguma (sobretudo financeiros), vão erguendo paredes, desbravando terreno, cultivando  as suas hortinhas, semeando o belo e o artístico. Como nos testemunha o sr. “X”, jovem aventureiro a morar na terra, neste momento já na construção da 3ª casa, a última delas para turismo rural. Quem sabe se não esquecerei uns tempos a Casinha, para me lançar por duas noites no sonho de pernoitar num teto e paredes de xisto, ouvindo o som das águas formosas? 


 fonte



lagoa



chaminé de xisto, claro!



ruas de outros tempos


 pormenores




 casa do sr. "X"


 futura casa de fim de semana?
 
AL (alojamento local)

Não esquecer também o ar natalício da aldeia, não só nos presépios encantados dos habitantes, mas ainda no enquadramento da aldeia visto do lado da ponte. Não parece mesmo um presépio de natal?

 presépio artificial

presépio natural





ponte


(para autocaravanistas: seguir as coordenadas acima indicadas e estacionar aí – são as traseiras da aldeia, onde há uma pequena rotunda boa para inversão de marcha e estacionamento. O passeio na aldeia faz-se a pé, aliás, nem de outra forma poderia ser, o espaço é curto, só mesmo pessoas, carrinhos de mão e burros puxados pela mão).


 anda burriquito...

traseiras da aldeia

Consulte ainda: www.aldeiasdoxisto.pt