terça-feira, 28 de agosto de 2018

Às vezes há assim uns momentos déjà vu.






Depois do termalismo sulfuroso em S. Miguel, eis que umas semanas depois, me vejo novamente mergulhada em piscinas quentes.


O cenário não possui a vegetação exuberante verde de ilha, mas ao lado corre o rio fresco e verde e as árvores também são simpaticamente verdes. E é mais perto sem ser necessário ir de avião. No Inverno as pessoas adoram-nas e eu só tenho tempo para lá ir quando o outro tempo pede fresco e águas menos “calientes”.

É isso mesmo, ficam aqui na nossa vizinha Espanha, pouco depois de Valença. Basta ir seguindo o Minho e está-se lá, na província de Ourense, onde a terra também forma poças quentes. Um par de anos atrás havíamos experimentado as de Outariz, desta vez, ali paredes meias com a cidade de Ourense, experimentámos o calor húmido das termas da Chavasqueira. Quase sem diferenças de temperaturas entre ar e água, voltei a pensar “Está-se bem aqui no Inverno”.  

Uns metros adiante dois parques onde as AC frequentemente param. Fizemos o mesmo na zona de picnic, abrindo o apetite com um “pulpo à galega” cozinhado numa feira próxima.

domingo, 26 de agosto de 2018

Açores - Os banhos quentes



(consultar roteiro)



Deus criou o mundo em sete dias, dizem alguns, e espanta-me como ainda teve tempo para criar, na terra, ilhas grandes e pequenas, e, dentro destas,  fenómenos tão díspares e tremendos como os vulcões. Ou não, não terá sido esse Deus, Vulcano, sim, é o responsável… Ou não novamente, tudo se resume a magma e gases e outras partículas e substâncias e ações que a vulcanologia explicará…


Com deuses ou ciência, o certo é que um vulcão ativo é como um imenso dragão incontrolável, destruidor e malévolo. No entanto, quando este dorme encerrado pelos séculos, há certos fenómenos terrestres que gostamos de apreciar. Em S. Miguel, Açores, são vários.

As caldeiras ou fumarolas brotam da terra em favos, em locais específicos como as Furnas. Ao lado da lagoa do mesmo nome, espalham-se por um vasto território, que impregnam o ar de enxofre e a paisagem de fumo.




Dir-se-ia um cenário do Hades e não de Vulcano, mas ainda assim visita-se e paga-se para o ver. Mais ainda: o Homem, com a sua eterna criatividade, inventou para esse terreno borbulhante um sistema único de fogão para panelas de pressão naturais. É bizarro sentir o cheiro a ovos podres e ver espalhadas as placas anunciando restaurantes que depois nos presentearão com o exclusivo cozido à moda das Furnas! 



Falar do seu sabor e aspeto é conversa para outro capítulo, agora é hora de falar em poças que fumegam…

Estas, ao lado da lagoa das Furnas, e as outras na própria localidade, com um cheiro ainda mais intenso e um barulho ensurdecedor de lava e fumo da terra zangada.


Também na povoação da Caldeiras, em Ribeira Grande, um tanque imenso borbulha e ali perto, no Miradouro das Caldeiras, o guarda dos cozidos explica-nos que está ali desde a madrugada velando os cozidos alheios, até que os donos os venham levantar. 







Em boa hora chegaram, e lá os vimos a sair do fogão. Era o final do dia e a família “Silva” (nome fictício que assenta que nem luvas a qualquer família portuguesa), ia saciar-se num belo convívio familiar em mesas de piquenique com duas panelas cheias (as zonas de piquenique proliferam na ilha e os micaelenses sabem bem aproveitar o cenário que Deus lhes deu).



Cozidos à parte, esta questão do vulcanismo proporciona ainda outra atração mais agradável, sobretudo terapêutica e relaxante: a possibilidade de banhos quentes em locais chamados termais com direito a enquadramento paisagístico exótico e paradisíaco.

Aquele que tem mais “glamour” pela grandiosidade da “poça” e pela flora circundante é o Parque Terra Nostra. 









Num terreno com nascentes, há muitos séculos atrás, um abastado americano lembrou-se de ali construir a sua casa de madeira e uma piscina com uma ilha no centro. Mais tarde, veio um visconde que lá construiu a sua mansão e a sua esposa que lá concebeu um místico jardim e mais tarde ainda um imaginoso jardineiro inglês desenvolveu o Éden e agora é um vê se te havias de gente a querer saborear as águas e o espaço.

Só vos digo, entrar na piscina morna e barrenta ( ou nos jacuzzis) debaixo dos salpicos generosos da chuva é uma sensação que só se sabe provando-a… 



E percorrer os trilhos e alamedas do jardim é uma viagem pelos sentidos, sobretudo o visual, conhecendo a flora nativa mas também de outros climas que nada têm a ver com os Açores.








Também na localidade das Furnas, destaca-se a propriedade privada “Poça da Dona Beija”( sim , o nome tem mesmo a ver com aquela novela brasileira…) , formada por várias piscinas termais num cenário exótico fabricado mas muito apetecível.




O ideal seria mesmo um banho noturno, as altas temperaturas das águas não combinam com o sol e calor do dia, mas apenas se se tiver por perto uma cama para de imediato se ir sonhar e relaxar…

Na zona da Ribeira Grande há ainda um outro Parque, uma reserva natural, a Caldeira Velha, com várias piscinas e uma cascata. Verde e sublime! No entanto, apesar de ter um limite diário de pessoas por dia, pareceu-me que a contagem não tinha sido contabilizada naquele dia…  Pensei com os meus botões que o melhor seria ir lá no Inverno.. Mas como há que aproveitar o dia e o Inverno ainda está longe, o melhor foi aproveitar e misturar banhos quentes com frios.



Banhos frios seja… para o próximo capítulo!

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Primeiro, as lagoas





De tudo sobressai o verde. E as hortênsias azuladas.








E a força brutal da Natureza que permitiu a criação de terra em cima das águas, em cima de um dragão em chamas para sempre ou não adormecido.
Começo pelas lagoas, desta que é conhecida por “Ilha Verde”, isto é, S. Miguel, “in” Açores.

Debaixo dorme o dragão e à superfície são espelhos de água de diferentes tonalidades. Novamente o verde, novamente o azul. Umas, trilhos abaixo; outras vistas por trilhos acima. Elegantes, vaidosas, exuberantes.


Começo pela das “Furnas”, não por ser a mais bela ou a menos atraente, simplesmente porque foi a primeira a surgir-nos à frente, depois de termos concluído que a das Sete Cidades estaria banhada em nevoeiro. Felizmente que os tempos modernos criaram aplicações como o “Spotazores”, que nos permite aceder, através de uma inteligente webcam, ao tempo real dos vários lugares mais turísticos dos Açores, nomeadamente das lagoas.




A das Furnas é circundada por árvores de um verde luxuriante. Não se pode tomar banho, mas é navegável em barquinhos de plástico. Todo o seu perímetro pode ser percorrido a pé, passando-se ao lado da Capela de Nossa Senhora das Vitórias, mais misteriosa e sedutora vista de longe do que de perto. Ao longo do Centro de Interpretação, seres de madeira espreitam…





O plano mais alto para a pose fotográfica da lagoa é do alto do Pico do Ferro, donde também se tem uma visão grandiosa das fumarolas (delas falarei mais tarde) e da povoação.


A mais extensa de todas, a das Sete Cidades, é dividida por um pequeno muro que curiosamente as separa num dueto de cores, a “Verde” e a “Azul”.


O ponto inesquecível para a observar não é de modo algum o Miradouro da Vista do Rei. Embora também o seja...


Lagoa das Sete Cidades, da Vista do Rei


lagoa de Santiago e Sete Cidades

Apesar da escassa sinalética, conseguimos encontrar o Miradouro da Boca do Inferno, nome de atribuição duvidosa, dado que o cenário toca o domínio dos Céus.
Há que entrar num espaço de zona protegida com um portão que assinala apenas “Lagoa do Canário”. Percorre-se primeiro o trilho do lado esquerdo da estrada e, sem de tal suspeitarmos, no interior de uma densa floresta, deparamo-nos estupefactos com diferentes tons de verde. Os das águas e os das árvores. É a Lagoa do Canário.






Retornando à estrada que fica para dentro do portão, pode ir-se de carro até ao fundo, até se chegar perto do Miradouro que é tudo menos infernal.


Após uma breve subida a pé, dir-se-ia que chegámos ao Céu, abrindo-se à nossa frente o sublime conjunto de várias lagoas e cores, a Verde e a Azul, a de Santiago, a Rasa… A respiração para, assim como o tempo. Para-se e fica-se calado, vergado perante a Natureza.




Depois disto parecia que mais lagoas seriam mera estatística, mas a visão da Lagoa do Congro também arrepia os sentidos. Especialmente porque, para lá chegar, se vai descendo um trilho por entre folhas e troncos rasteiros, escolhendo o chão que se pisa, para, sem estarmos à espera, depois de sempre a descer, ela nos aparecer pintada de verde, mesclada com a vegetação. Um enorme buraco verde e um enorme silêncio espaçado por leves trinados…









Precisamente por estar num buraco e não no topo de um cone, as suas águas ressentem-se de alguma poluição, sobretudo dos fertilizantes dos campos que para ali escorrem com a água das chuvas.


Ao contrário desta, no topo do cone vulcânico está a Lagoa do Fogo, a segunda maior da ilha. 


Nesta pode tomar-se banho e, para a admirar, nada como subir até ao Miradouro da Serra da Barrosa.





São mais de uma vintena, por isso oito dias não chegam. Até porque a ilha de S. Miguel não se resume a águas escondidas no meio do verde, ainda há os trilhos escondidos para lá chegar, as águas do mar, as águas quentes e borbulhantes, o verde dos campos, as eternas flores, as vacas que sorriem, a simpatia dos ilhéus, os petiscos ao pôr do sol, o clima temperado e ameno, a chuva… quem diz ainda que bastam os cinco dedos de uma mão para a conhecer? Só quem não a conhece…

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

De autocaravana nos Açores?



 vista aérea: S. Miguel


Pronto, lá estou eu a fugir à regra. Porém, não havia volta a dar. Para os Açores (no caso, S. Miguel) ou de avião ou de barco, portanto, a casinha ficou em casa.

Apesar de, assim que pus os pés em terras insulares, ter encontrado um panfleto que anunciava a possibilidade de aluguer de autocaravanas  ANC, Azores Holidays, desde 100€ dia. E, no fim do percurso, encontrei um mapa da ilha com as áreas para AC e que se resumiam, pelo menos esta, ao seguinte:


(dois lugares de estacionamento numa das praias mais badaladas de S. Miguel, com um ponto de luz, mas nada de água ou ponto para despejos).

Ainda assim apreciei o gesto.

No entanto, por entre caminhos sinuosos, povoações pequenas e poucos lugares de estacionamento nos apelativos miradouros, não me parece que S. Miguel seja o espaço ideal para circular de casa às costas.






Ficámo-nos por uma casa de pedra e cal ao bom jeito da arquitetura micaelense, numa povoação a sul, bem central para todos os itinerários (Água d’Alto, com vista para o ilhéu de Vila Franca), e por um Opel Corsa novinho em folha que nos esperava no aeroporto e que nos acompanhou durante os 600 e tal quilómetros que fizemos, ao longo de toda a ilha.


Tirando um furo no pneu provocado por um prego insular e logo remendado na oportuna bomba de gasolina, tudo foi pacífico, suave e refrescante.
Já lá vou às crónicas…