8 e e 9 de agosto de
2015
Iniciemos pois o capítulo II das férias de 2015: a Romantischestrasse (adoro o som), traduzido, “Estrada Romântica”,
um percurso que envolve vinte e sete cidades (ou vilas) , desde o Main até aos
Alpes, quase 400 quilómetros.
O objetivo era iniciar o percurso em Würzburg e chegar a
Füssen (local já conhecido e muito apreciado em 2010), passando por algumas das
vilas e cidades mais sonantes, não obstante termos já percebido, por outros
relatos e reportagens fotográficas, que visitar todos os vinte e tal pontos assinalados na rota seria
de todo impensável e monótono.
Würzburg, a “cidade barroca”, afigurava-se-nos ponto de
partida obrigatório. O GPS atirou-nos logo para a ASA ( N 49º 48´13´´
E 9º 55´07´´, 8 € dia) , paredes meias com o rio Main, um largo e
navegável curso de água, por onde circulavam navios e cruzeiros, até mesmo em frente da nossa zona
de conforto, ou seja , do “nosso quintal”.
O Main : com e sem cruzeiros
No "quintal" ao lado, infelizmente, uns vizinhos alemães pouco
hospitaleiros queriam que, contrariamente aos limites normais da distância de
estacionamento entre autocaravanas, nos posicionássemos bem mais afastados,
tudo porque a cadela quase lhes saltou para cima ( para cumprimentá-los,
registe-se!) quando eles nem se dignaram contornar o espaço para passarem. Logo
ali nasceu uma conversa de surdos, uns em alemão outros em português, entrecortada
por algumas interjeições e imprecações menos simpáticas, que para bom entendedor
meia palavra basta, mesmo que as línguas sejam tão díspares. Para início de
conversa e de rota a coisa não foi muito romântica …
Apartes linguísticos e afetivos de lado, demos um salto ao
território circundante para percebermos que o centro ainda ficava a uns
bons quilómetros. No entanto, logo
depois da grande ponte do lado esquerdo do Main, entrava-se já em território
antigo: a grande muralha de uma fortaleza, dominada por centenas de jovens ao
fresco, descontraidamente, juvenilmente . Ao longo do muro virado para o rio, todos
se banqueteavam com largas pizzas ou
cervejas. No terraço da fortaleza havia um imenso Biergarten e uma imensa Pizzaria
à qual iríamos buscar inspiração no dia seguinte... Percebia-se porquê tanta
juventude : do outro lado do rio estalava a música , soubemos depois que era um
festival de música de verão, pelo cartaz bastante alternativo e bem
internacional, no entanto sem um único artista português.
Biergarten por perto !!!
Mas não foi devido ao barulho que mal dormimos na famosa ASA
à beira Main. Se de um lado corriam as águas do rio, sobranceira à ASA
deslizava, na linha de caminho de ferro, uma infinitude de comboios. Estes
circularam todo o dia e madrugaram, pelo que, o som estrépito dos carris e
travões foi tudo menos música para os ouvidos.
No dia seguinte deixámos cedo o sítio e passámo-nos para o
lado de lá do rio, onde havia um parque de estacionamento misto repleto de AC (
N 49º47´49´´ E 9º 55´23´´)! Duas razões
certamente: mais barato e o barulho era apenas dos concertos que aliás
terminavam bem cedo, as festas alemãs não são como as portuguesas…
Hora portanto de visitar a capital do barroco ! Aconselho a
entrada pela ponte velha (Alte Mainbrücke), precisamente do lado do parque de
estacionamento e bem perto, elegantemente empedrada e decorada, de ambos os lados,
por um total de doze santos.
No lado extremo a Rasthaus, edifício do século XIV, de cores garridas; na praça, a
pequena e ornamentada fonte barroca.
Rasthaus
Ao longo das ruas alguns contrastes entre modernidade e
passado…
e, na praça principal , um exemplar único (apesar de
reconstruído) , a casa mais rica da cidade, de fachada rococó, a casa Falken. Ao
lado a capela Marien.
A Nova Catedral, reconstruída em 1945 (também calhou aos
alemães perderem muito do seu património artístico durante a 2ª Grande Guerra)
é um exemplo do Barroco-Rococó. A alvura do seu interior, a contrastar com a
inexpressividade da sua fachada exterior, transmite leveza e paz de espírito,
sobretudo quando decorria a missa de domingo com cânticos barrocos, órgão e uma
nuvem de incenso. O Barroco no seu mais puro esplendor!
Contudo , a grande atração da cidade é o seu castelo barroco
, a Residenz, construída em 1720 e 1744, com esse nome por ser o “lar doce lar”
do imperador e hoje monumento classificado pela UNESCO.
Acompanhados pela
cadelita decidimos fazer a visita aos pares: enquanto o primeiro par visitava o
seu interior, o outro refrescava-se ao longo dos jardins do castelo, não
vedados a animais de quatro patas.
Porém, o segundo par acabou por não entrar
quando, afogueados pelo calor e fome, fomos informados pelo primeiro duo que o
calor no interior do Castelo era insuportável e que todas as peças de
mobiliário e decoração eram uma réplica, uma vez que todo o seu recheio
original havia sido queimado durante os ataques na 2ª Guerra. Provavelmente não
foi boa ideia tomar como certa a opinião de outros (que aliás acrescentaram “ O
palácio de Mafra é muito superior!), mas na altura pareceu-nos o mais sensato.
Arrastámo-nos ao longo das ruas quase desertas (era domingo e
provavelmente hora da siesta, porque
o calor a nada convidava), passando pela catedral St. Kilian e a praça onde
almoçámos salmão da Noruega.
Catedral de St. Kilian
Ao longo do Main saboreámos as sombras, pasmando para os
barcos de cruzeiro e terminámos a tarde deitados na relva, frente à AC, com
mantas e almofadas…
... ressonando (sim, naquele sítio todos os autocaravanistas
estavam ao fresco com mesas e cadeiras e mantas, …. e quem não era autocaravanista
fazia o mesmo).
Só à noite, tal como no Alentejo, voltámos a ser nós próprios,
circulando pela zona do Festival . O público estava corretamente sentadinho em
bancadas e no exterior do recinto outro público assistia – só ao som - nas suas mantas, na relva. Em “Roma, sê
romano”, portanto, já adivinham como fizemos , certo? Por pouco tempo, porque
as noitadas alemãs não são como as portuguesas.
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