11 e 12 de agosto
Rothenbourg ob der Tauber; “ um museu da Idade Média a céu
aberto”, diz o Michelin; “ uma cidade conto de fadas”, afirmam os tabloides publicitários.
Um e outros não mentem, R. é tudo isso mais um texto cheio de adjetivos e uma
memória carregada de emoções.
Rothenbourg é um palco ao vivo, um cenário de filme sem
necessidade de efeitos especiais. Só falta, à exceção do guarda-noturno, andar
tudo vestido com figurinos da época e acreditaríamos ter recuado no tempo. Ah!
E retirar os carros das ruas e praças apesar de, ainda assim, dar graças à
variedade e criatividade de outros meios de transporte…
Logo à entrada, ainda atravessando os campos verdes vindos de
Bad Margentheim, um cenário de outra tipologia de filme, do género saga de
zombies: os resquícios de um Festival de rock, qual Sudoeste português, com
campos forrados de lixo, w.c. portáteis, tendas, sapatos abandonados, roupa…
Chegados a Rothenburg há duas ofertas de parques de
estacionamento para AC, um a norte , outro a
sul. Aleatoriamente escolhemos um , 10 € dia em qualquer deles (N 49º
22´14´´ E 10º 11´00´´ ), sossegado,
confortável.
Depois de alojados, não havia tempo a perder tal não era a
adrenalina aos pulos pedindo para visitar o burgo. A porta (das múltiplas existentes) estava aberta, aguardando-nos.
E, tal como o nosso íntimo nos dizia, não encontrámos um
ponto feio (talvez os preços, o que para bolsos portugueses não será de
espantar…). Cada casa tem um atrativo: ou a cor ou as flores ou as madeiras que
as adorna, ou a porta ou as janelas; cada rua apetece ser calcorreada ;
A casa do ferreiro, uma das mais antigas.
os estabelecimentos
comerciais não se limitam a ser banalmente turísticos, alguns há com um toque
bem pessoal e criativo;
as praças – naquele dia banhadas de luz e cor – dão vontade
de estar e ficar, estarrecidos a contemplar como a beleza às vezes dói porque o
Homem é também esta máquina imensa , criadora de beleza e esplendor. Quer-se
estar e abarcar o todo começando do ponto mais pequeno ao maior, com as mãos, o
olfato, o corpo todo e aposto que (ao escrever isto lembrei-me de Álvaro de Campos…) Fernando
Pessoa nunca ali esteve. Mais perdeu, porque eu senti-me mais viva, ali sentada
na Marktplatz, um local único, tão especial que não admira que naquele dia fosse
o eleito para o “grande dia”, com a Rasthaus de cenário de fundo ou, ao norte
da praça, o atual edifício do turismo , outrora o albergue reservado os
notáveis, de seu nome Ratstrinkstube, e ainda hoje admirado pelo seu duplo
relógio, o de sol e o animado , a dar o ar de sua graça às horas certas, das 11
às 15 h.
Noiva "in red"...
Rasthaus
Relógio com e sem figuras animadas.
Na rua Herrngasse ergue-se a maior dose de hotéis, todos com
aspeto elegante mas sóbrio, e, para
espanto de qualquer época do ano, mormente o verão, as duas grandes lojas-museus de Natal. Entrámos na já
conhecida “ Käthe Wohlfahrt “ (
lembram-se da Alsácia uns dias antes?) , lamentando mais uma vez não termos uma
Merkel a pagar-nos o vencimento…
Se as ruas, ruelas e praças não mostram um local ou ponto que
se apelide menos bonito, a cidade-museu tem ainda um outro ingrediente para a
tornar excecional: a sua fortificação circular originária dos séculos XIII-XIV.
O tempo recua outra vez e sentimo-nos personagens da Guerra dos Tronos, qual John Snow, percorrendo passadiços, escadas
e muralhas interiores felizmente sem neve e sem zombies, apesar de às vezes os
nossos olhares indiscretos entrarem na intimidade dos vizinhos que, p´la calada
da tarde, vêm ao terraço regar as plantas…
( O senhor que nos desculpe a indiscrição...)
Não sei quantas vezes percorri as mesmas ruas e tirei fotografias
a esta casa, uma das mais fotogénicas da cidade a avaliar pelos panfletos,
o
certo é que se pudesse voltar atrás, achar-me-ia no mesmo local a desejar
voltar séculos atrás para ver o guarda-noturno verdadeiro, o Pai Natal e as
renas, os trovadores, o rei e toda a corte, fosse verão ou inverno, com neve
nos telhados ou sol e cerveja na praça…
(todos os finais de tarde o guarda-noturno conduz visitas guiadas)
Chega de devaneios porque Rothenburg ainda lá está e qualquer
viagem de avião pode levar-nos até lá num fim de semana perto do Natal. De
certeza que a vestimenta será outra ,mas ela continuará com aquele ar de conto
de fadas a céu aberto, parada no tempo, vestida de dama da Idade Média.
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