Quando a alma e o corpo precisam
(ou seja, quase sempre) e só temos pela frente um breve e efémero fim de semana
(ou seja, muitas vezes), o melhor é partir… nem que seja para perto.
O nosso perto fica a 55
quilómetros de casa e tem sido, volta e meia, a nossa “quinta”. Já o foi no
Outono (no novo acordo com minúscula, mas não gosto, ponto final), já o foi na
Primavera (idem), no Inverno (mais do mesmo), exceto (aqui o “pê” não fazia
mesmo falta) no Verão porque não convém… e não convém porque se trata do
Alentejo e nele não há sombra que venha do céu.
No Outono, depois de o sol ter
estalado a terra, impera o seco e o dourado , mas, felizmente, ao lado , a água
do grande lago é sempre azul. O céu não… ou talvez sim. Umas vezes é azul,
outras tem riscas de pijamas brancas ou pinceladas rosas ou algodões à espera
de se transformarem em chuva.
E, às vezes, o céu da “minha quinta” é
atravessado por estranhos “pássaros” coloridos que nos acordam pela manhã, com
um som de quem acende um fogão gigantesco.
Se os céus se enchem de pássaros
e se cada um canta de seu modo, uns com som de gás outros a musicar trinados,
das águas, volta e meia, há um “splash” de uma carpa ou achigã, que decide vir
espreitar o céu. Ou ver passar um barco-cruzeiro, ou a barcarola de madeira, ou
as pessoas que no final de Verão, início
de Outono, mergulham no azul porque as águas ainda são tépidas quando lá fora
estão 32 graus.
No final do Inverno, mesmo com
chuva e a terra empapada, a natureza quer mudar de tons. O verde espreita nas
ervas ainda rasteiras mas já verdes, à espera da flor, do sol, do calor.
Escurece cedo, a friagem vem e, de noite, o frio tapa tudo. Mas dentro do teto
da nossa quinta, na noite ade breu, está-se bem.
Na Primavera, a terra pinta-se de
novas cores. É a vez da bonina espalhada pelos verdes que já cresceram e quase
chegam ao degrau da porta. Já há entretanto quem tome banhos nas águas do lago,
apesar de ainda frias.
Entre tons e sons, há ainda a
imensidão do silêncio , entrecortado pelo salto da carpa, o carro que passa e
levanta o pó, o barco a motor, ou os sininhos a trote.
É a nossa “quinta”, no Alqueva,
pois então!
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