Esta costa é também verde e azul, uma continuação das Astúrias
mas com outro nome. Desde San Vicente de la Barquera (onde se comem boas mariscadas)
até Castro Urdiales (onde as tapas ou “pintxos” nos acenam), sucedem-se as
rias, golfos e magníficas praias.
Neste ano, as atenções centrar-se-iam em Comillas, um
agradável centro de veraneio, tranquilo, onde muitos espanhóis devem bisar os
seus períodos de férias, alternando praia e campo, verde e azul, calor e chuviscos.
entrada para ???
A nós, Comillas lançou-nos o anzol, não pelas praias e águas,
mas pelo lado histórico e cultural, mais especificamente três edifícios
históricos extremamente completos, um perfeito triângulo arquitetónico.
De imediato, soa e ressoa nesta pequena cidade airosa e
brilhante, o nome de um marquês , o de Comilllas (precisamente !) , o qual projetou este “pueblo” por todo o país. No alto de uma colina, ao lado do
cemitério* , que subimos por mero acaso já que estacionámos lá perto (não é
fácil estacionar e pernoitar na vila, a “marginal” não permite a pernoita e
aquele cantinho relvado foi um “achado”, apesar de à noite , num parque de estacionamento
mix, ter verificado que muitas casinhas
rolantes por lá haviam dormido), demos de caras com o Marquês admirando os
palacetes em volta e o mar ao fundo. Esta estátua foi uma homenagem do povo de Comillas,
em 1889, e ali se ergueu para que o
Marquês pudesse contemplar o mar e esperar
os seus barcos ( foi o fundador e grande
empresário da Companhia Transatlântica espanhola).
local de estacionamento e pernoita
Estátua Marquês de Comillas
* Também este, uma estranha construção conduzida por um anjo,
assente no verde e sobre umas ruínas góticas, fronteiro ao mar, merece uma
visita. Estranho, diferente, misterioso…
cemitério
Porém, o primeiro dia estava destinado para relembrar Gaudí,
nome que, no fundo , era o nosso “guia” e motivo de visita, apesar de o Marquês
nos perseguir ao longo de todas as visitas.
O famoso arquiteto catalão "veio"de Barcelona até este cantinho perdido, para dar corpo ao capricho de um amigo, o pintor, músico Máximo Díaz de
Quijano (e também advogado do Marquês, pois então…).
O capricho idealizado por Máximo era uma mansão simbólica e escondida no seio de um profuso jardim, à qual Gaudí deu forma e cores, explorando motivos florais e musicais. O resultado foi uma inusitada mansão com sua estranha torre, explosão de cores e formas neomudejares modernistas, única, à maneira de Gaudí. E assim se chamou “ El Capricho de Gaudí"(1883-85).
O capricho idealizado por Máximo era uma mansão simbólica e escondida no seio de um profuso jardim, à qual Gaudí deu forma e cores, explorando motivos florais e musicais. O resultado foi uma inusitada mansão com sua estranha torre, explosão de cores e formas neomudejares modernistas, única, à maneira de Gaudí. E assim se chamou “ El Capricho de Gaudí"(1883-85).
A fachada, verde e amarela, com colcheias e outras notas
musicais de ferro entrelaçadas pelas varandas panorâmicas e um “tapete” de
azulejos formado por filas e filas de girassóis (são quase 2.000 azulejos feitos
à mão sem que um seja igual a outro) é, por si só, um quadro único. Segundo os
críticos, o nascimento do modernismo…
É claro que não se resistirá a colocar um pé à frente do
outro e penetrar no pórtico de entrada, com quatro colunas decoradas com folhas
de palmeiras e pombas. Mais um passo e entra-se no magnífico hall , onde a natureza continua por
entre vitrais.
Na realidade, as divisões estão quase despidas de móveis (Máximo
não chegou a habitá-la porque morreu no ano em que a mesma foi concluída , foi passando
de herdeiro para herdeiro, até acabar abandonada
décadas para em 1992 ser explorada como restaurante e somente em 2009 passar a ser museu visitável.),
mas não é por isso que a visita perde
valor.
São três pisos
singulares concebidos para um só morador: o térreo, como área de residência do
advogado, com sala, quarto, w.c ( até é este é único, sobretudo pelo seu vitral
“musical” e caleidoscópico), sala de convívio, escritório e estufa de vidro com
teto elíptico (Ah! Como apetece sentar e sonhar, numa tarde dolente, bebendo
chá e lendo um bom romance…). No sótão, as dependências para a criadagem e uma
cave onde estariam as cozinhas, hoje espaço para a loja e livraria.
Estufa
sotão
vitral - casa de banho
Para além dos
pormenores simbólicos associados à música e natureza , outras curiosidades
espreitam (mas para isso o melhor mesmo
é entrar-se com visita guiada) , como as venezianas “musicais” e todas com
particularidades curiosas: uma que abre como um livro, outra que forma uma
espécie de rolo, outra que emite sons e músicas e tudo concebido em função da
luz solar e das horas das rotinas diárias, como se a casa rodasse à procura da
luz.
Circundante, o jardim tem ainda uns recantos curiosos , como
uma gruta artificial , a estátua de Gaudí ou o seu centro em forma de
ferradura.
Apetecia mais Gaudí, e a solução foi seguir as setas até à
casa Moro - sabia bem entrar, mas esta não se converteu em museu, por isso só
nos restou admirá-la e perceber Gaudí apenas na portada de três entradas, a
maior para os carros, a média para as pessoas e a circular superior… a “Porta
dos pássaros”. Uma vez mais a natureza, as pedras, as casas… caprichos tornados
reais.
1 comentário:
EXcelente. Vou aproveitar este Agosto de 2017. Obgdo
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