Surpreendentemente, será esta a primeira vez que escrevo
sobre Monsanto (será ?) , apesar de inúmeras vezes ter subido encosta acima até
àquela rude força da Natureza e do Homem.
Lembro-me que, da primeira vez – era ainda uma jovem
adolescente de 19 anos –, o embate foi colossal. Senti-me esmagada pela força
dos elementos, pelo cheiro envolvente (cheirava a vacas, porcos, estrume,
ervas), pela rudeza, pela pobreza. Logo à chegada, uma velhota pediu-nos se lhe
podíamos colocar umas gotas na vista e levou-nos a sua casa. A solidão que
espelhavam ( a velha e a casa), a
escuridão da pobreza, a vontade (dela) de conversar com jovens, era algo de
tocante. Nunca tinha viajado para longe dali, o mais longe que conhecia era a
vizinha Penha Garcia.
Tantos anos depois, cada vez que subo a escarpa, lembro-me da
velha. Desta vez também. Não estava lá à entrada da aldeia. As pedras e as casas
eram as mesmas. As pedras-casas!
Também naquela época, admirei Fernando Namora por ali ter
vivido e, certamente, ajudado outros a viver (ou sobreviver). O “consultório”
lá continua, ou seja, a casa outrora consultório, ou seja, a lápide a
anunciá-lo. Também a casa onde viveu. Afinal foram só dois anos, constatei
agora.
Desta vez, o cenário envolvente era de uma neblina branca
quase cerrada. Não me lembro se alguma vez lá tinha ido em Fevereiro. A
primeira, sei de cor, tinha outras cores, era Agosto…
Agora, a paisagem era quase irreal, mas as pedras impõem-se,
sempre. Pessoas, poucas. Alguns turistas à procura do novo restaurante. Uma
nova casa apelidada de “casa Zeca Afonso”. Como se ele lá tivesse vivido… e não, o funcionário do Turismo confirmou-o
secamente : “ Ele nem sequer cá viveu”. De facto, a placa dizia que comprou
aquela casa, mas não a chegou a habitar. Será futuramente um projeto dos “Amigos
Zeca Afonso”.
Salazar não gostaria muito de ouvir tal, creio. O título “Aldeia
mais portuguesa de Portugal”, atribuído no seu tempo e governação, tem um
espinho a picar: poder-se-á ler nas entrelinhas e pensar que quereria ele,
Salazar, que aquela parte do país, isolada, fechada ao mundo, despovoada,
pobre, fosse a representação fiel do todo Portugal ?
Certo é que a designação persiste, apesar de outra tender a
substituir a primeira: “Aldeia Histórica”, desde 1995. Monsanto faz parte de um
conjunto de 12 aldeias, remotas, singulares, únicas.
Sobre o castelo de Monsanto, inexpugnável, não falo. Desta
vez não subimos , a neblina tudo envolvia, o horizonte não se abarcava. Mas lá
perto estava Penha Garcia, Idanha- a- Velha,
Medelim, Monfortinho e mais longe Penamacor, Sortelha , Sabugal. Fomos
ainda a algumas delas, umas “históricas “ , outras não. No “capítulo” seguinte
algumas surgirão…
Nota só para autocaravanistas:
estacionámos na povoação anterior a Monsanto, num terreiro
amplo, Relvas. O senhor que vende cabaças e que por lá está, disse-nos que havia
muitos turistas e devia ser complicado estacionar e fazer depois inversão de
marcha. Como temos a nossa “Ópala” , deixámos a casinha a descansar ( e a
cadelita) e subimos de mota. Quando lá chegámos, havia um “companheiro” estacionado, por isso
, para os aventureiros não deve ser problema.
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