(Dedicado ao meu músico)
Desta vez as regras foram
diferentes. A primordial de todas, amor.
A casa às costas ficou para trás porque era
imperioso chegar depressa. O motivo principal não era prioritariamente viajar,
mas ainda assim houve tempo para conhecer e reconhecer muitos pontos de
interesse.
Assim, apesar de fora do
cardápio habitual, alguma conversa desta crónica se há de adaptar a quem a
quiser aproveitar, sejam eles os leitores habituais ou outros.
Não havendo casa às costas,
houve malas de rodas, deslizando por ruas, metros, comboios, aeroportos, bagageiras
de medidas fixas (graças à boa vontade de amigos que no-las emprestaram, as
malas, porque autocaravanista que se
preze não usa tal, digo eu, que arrumo tudo em gavetas e armários…). Não
havendo três ou quatro semanas para percorrer fronteiras e países, houve horas
de check in e out entre Faro- Londres- Faro e foi só o tempo de voar sobre nuvens
e num ápice chegar ao destino.
Finalmente, sem cama própria
houve que procurar outro teto. Hotel? Hostel? Casa? Optámos pela solução mais
económica, aquela que nos permitia dormir e cozinhar, pelo menos uma das
refeições. Airbnb (não há como evitar publicitar) foi a opção e em boa hora. Um
apartamento simples, num quarto simpático a olhar para telhados e redbrick londrinos, com uma anfitriã excecional
que nos conquistou com panquecas ao pequeno-almoço, palavras amigas, dicas e
humanismo.
A viagem era de amor,
lembram-se? E acho que ela, a nossa pequenina anfitriã tailandesa, captou cedo
o espírito da nossa missão e ajudou a concretizá-la.
Começámos por aquele
cantinho calmo de Parsons Green ( por acaso, semanas atrás, mais um ato de
terrorismo havia assolado a pacata estação de metro onde “aterrámos”) e saímos
com a impressão de estar numa aldeia inglesa até àquela que seria a nossa casa
por uns dias.
Dali conhecemos a vizinhança:
Fulham, a zona que imperiosamente tínhamos de conhecer, assim como Southfields.
Coisas do coração…
BIMM
uma mera casa naquela rua ...
Sem pressas, olhando os
transeuntes, as casas, as portas (!) , as lojas, o talho, o barbeiro, a
farmácia, o posto de correio, como se fossemos londrinos, com a certeza que não
o éramos; como turistas, com a sensação de não o sermos.
O que éramos não sabíamos, um pai e uma mãe a quererem continuar ligados umbilicalmente a um outro que também é eles e já não o é.
O que éramos não sabíamos, um pai e uma mãe a quererem continuar ligados umbilicalmente a um outro que também é eles e já não o é.
Mesmo desconhecendo vós, leitores,
estas sensações, ainda assim aqui deixo fragmentos que poderão servir de guia
para muitos de vós.
As casas e as portas: sempre o ímpeto de espreitar o que está lá dentro, sempre a tendência de imaginar vidas.
As linhas arquitetónicas
repetem-se, as cores variam e repetem-se, mas cada rua tem sempre a sua
particularidade, a sua graça única.
Os jardins: Londres não é só
o Hyde Park ou o Regent’s Park, Londres é uma coleção de parques e jardins em
todos os seus pontos cardeais, onde pessoas passeiam sozinhas, acompanhadas,
com os seus cães; almoçam, convivem, praticam exercício físico, apanham sol …sim
, às vezes ele também espreita.
Nós tivemos a sorte de o ver
e sentir, enquanto batíamos uma fugaz “siesta” no relvado de Green Park a dois
passos de Hyde Park.
Green Park à hora do almoço
Em Hampstead Heath encontrámos
um parque natural gigante e não um jardim. Árvores das mais variadas espécies , feitios
e tamanhos, lagos e mais lagos / piscinas ( até as há para banho - uma para ladies, outra para gentlemen, deliciámo-nos com os lagos dos cães), caminhos a subir e a
descer, a serpentear, colinas altas, florestas, relvados de alcatifa lisa frente à esplêndida
mansão Kenwood, palco para uma das cenas do filme Nothing Hill e onde entrámos gratuitamente, pois pertence à “English
Heritage”.
Em Putney/ Fulham, foi a vez
de um passeio matinal ao longo de Bishops Park, mais um lugar idílico ao lado
do Thames, preenchido pela alegre correria de cães e a calma de quem passeia com
os filhos sem horas marcadas… como se não houvesse Londres ali ao lado.
Os mercados:
Tinha de ser, é obrigatório
. Notting Hill e Portobello Road. Calhou-nos
um dia de sol e tudo resplandecia de cor e charme. Pena os preços. Ficámo-nos
pelas vistas e cores…
Camden - mais do que um mercado, uma cidade dentro
da cidade. Ah, as cores! Ah, os cheiros! Ah, tanta coisa curiosa e diferente.
Lá dentro, um verdadeiro souk
europeu, assente em redbrick de
antigas cavalariças, com um pouco de tudo, desde o mais comum até ao mais
inusitado, passando pelo café e pastel de nata português.
Parabéns “tuga” pela
iniciativa. Diz ele, que se calhar é chão que já deu uvas, a intenção é transformar
o espaço num CC formatado. Nem queremos acreditar, nós ( no momento quatro ) e
o “tuga”, todos com ar de emigrantes, só dois o eram, um deles na sua motinha de delícias
portuguesas.
Borough Market – um mercado
de comida , infelizmente fechado ao domingo, dia que ignorantemente escolhemos,.
Ainda deu para comer na vizinhança. Uma refeição daquelas gordas,
estranhas, daquelas que, enfim , tem de
ser, para não ser.
Borough market fechado
a caminho do The Globe
Os Museus:
O Britânico , sempre. Mais
que não seja para cumprimentar algum ídolo da pintura , como Miguel Ângelo, ou
a escola holandesa ou um Van Gogh, o original, porque o da minha sala é só uma
cópia e estava lá longe. Ou outros quaisquer, sem destino, pelas inúmeras
salas.
A Tate Gallery – um bloco de
pedra imenso , de frente para o Thames, um gigante sempre em mudança. Há quem lá
vá para se deitar numa alcatifa colorida e ficar a olhar para uma bola pendular. Imagine-se !
Há quem lá
vá, especialmente adultos, para andar de baloiço . Imagine-se!
Há quem vá para ver as coleções e descobrir Picassos
ou descobrir instalações que são outros olhares, outras linguagens .
E há ainda
quem suba ao 10º piso para contemplar o rio, os telhados e prédios de luxo com vidros transparentes onde
as salas são de revistas de decoração e as famílias inexistentes.
E, sempre, sempre, muitas pontes:
A mais famosa – a Tower
Bridge, ali no meio de uma Londres metálica e ao lado da Tower London onde tantas cabeças reais rolaram.
De tanto rolar os edifícios são de todas as formas e já não é só o tijolo, é o espelhado
, o metálico, o lunar.
The Shard , no meio
Tower Bridge, no meio
Tower of London
Tower Bridge
Assim como a estranha ponte
Millennium , fechada ao público dois dias depois da sua inauguração, também
apelidada de "ponte que treme" e destruída em Harry Potter e o enigma do
Príncipe pelos Devoradores da Morte, a ligar-se até St. Paul's Cathedral.
E já que menciono Harry
Potter (eu própria fã incondicional) , ele está por toda a parte: também nesta parede ao lado de Borough Market,
cenário para entrada de Leaky Cauldrin e paragem do autocarro noturno; ou na
famosa King's Cross Station, agora palco comercial , a imitar a plataforma 9 e ¾
que é tudo menos plataforma e mais loja e modo de fazer libras.
Zonas de diversão e animação:
O simpático Covent Garden,
sempre repleto de turistas, esplanadas e
animação na praça.
Ao lado , a vizinha
Chinatown, mais um país dentro de outro país , concorrido, garrido.
Em plena Leicester Square o
olhar atento do pai do teatro inglês ,
Shakespeare, of course
mas o que vale mesmo é ir, uns quarteirões
do outro lado do rio, ao The Globe. Ah;
bolas! Esquecemo-nos que não éramos londrinos e não marcámos a visita. Mais uma
vez nos ficámos pelo exterior sem saber o que é o silabar poético
shakesperiano, sem saber o que é ver ao vivo um teatro octogonal onde o teto
são as estrelas e o sol.
O que falta mencionar?
Que é obrigatório espreitar
o paço da Rainha?
Que os esquilos vêm comer nas nossas mãos?
Que o Sherlock Holmes não existiu mas tem casa própria?
Que o metro no centro da
cidade é profundo e mete medo? Que se
deve acertar o relógio pelo Big Ben ? Que se deve extasiar olhando para o Parlamento
e admirando o rei mais doce de todos?
Ricardo I ("Coração de leão")
Ou que continuo a amar
Londres, mesmo com neblina, com o chuviscar, com a saudade, com a libra, o
Brexit, a rainha e o “tea”?
Não, não é verdade, só houve
chá e rainha, neblina, pontes e libras, pounds
e aviões, sem casinha, sem cadela, sem a família completa, sem tempo, por uma
questão… de amor.
1 comentário:
Respira-se carinho e amor, não é? Até arrepia...
Enviar um comentário