A terceira mão de Deus, aqui
representando a Ria de Arousa, revelou-se igualmente deslumbrante em termos
paisagísticos.
Selecionámos dois pontos
distintos, um em cada lado da mão, opostos, mas quase olhando-se de frente; um rico pela
sua história e monumentalidade , o outro pelas suas paisagens.
O primeiro, Cambados,vila
considerada um museu a céu aberto, esculpida em granito, outrora rica em paços
senhoriais e ruas nobres. Para além da monumentalidade , a vila é ainda
conhecida pelo sabor ancestral do famoso vinho Albariño.
Admirámos sobretudo a praça de
Fefiñans, onde decorria uma elegante feira de artesanato, o seu Paço e, do lado oposto, a igreja de San Benito.
Do outro a praia:
(Aqui estacionámos, contemplando as águas )
O outro ponto serviu para retomar
energias ( percorrer ruas e praças também cansa…) e relaxar. Conseguiu, como
localidade, ser o local mais desinteressante e descaracterístico de todos os
visitados, mas como cenário natural, composto por praias e rio ganhou a nossa
simpatia. Boiro, de seu nome, praia Xardín , o local para AC ( N 42º 38’ 30’’ W 08º 53’ 49’’ ). O sítio (só depois de lá estarmos é que
percebemos tratar-se do “top” dos autocaravanistas) fica do outro lado da
estrada, entre a linha da praia e o rio Coroño, este último , um cenário sempre
em mutação, tendo em conta as vidas das marés.
De um lado o rio:
Do outro a praia:
Adianto já que o calor era muito,
afinal na Galiza não é só chuva miudinha, por isso apetecia ali ficar e
aproveitar aquela fascinante enseada rematada pela areia fina e debruada a
relva. Uma espécie de “2 em 1”: praia, pinhal, podendo sempre optar-se por uma
sombra ou sol, um dourado ou verde.
E tudo acompanhado de um excelente
passeio marítimo, por onde esticámos vezes sem conta as pernas, a apreciar
vivendas de luxo de um lado, rias baixas do outro, ao cair da tarde ou
ao nascer do dia.
Não obstante a simpatia da paisagem,
conseguir um lugar para estacionar na dita área para autocaracavanas não foi fácil. Primeiro ficámos em segunda fila esperando que alguém saísse ao final da
tarde, mas no entretanto, ainda tivemos de aturar a antipatia de um “companheiro”
espanhol que decidiu furar a fila de espera só para ficar no lugar ambicionado.
E ainda teve a ousadia e falta de ética ao insultar-nos, atirando frases
xenófobas que nos enviavam de volta a Portugal. Maus ventos estes que já chegam
a este grupo que na estrada acena simpaticamente e nos estacionamentos se comporta
de forma incivilizada só por causa de um lugar ao sol !!!
Ouvidos de mercador para não estragar
o relaxe e lá conseguimos o nosso lugar (bem melhor do que o do
espanhol, por sinal!) e só depois é que percebemos o porquê de tanta procura e
loucura. Supostamente, a dita área seria
paga (6 € , dia) , a emissão do ticket (estranhamente) não se faz no local mas
numa rua do povoado (!?!) distante dali. Escusado será dizer que ninguém lá
vai. A tarefa da cobrança passou então a ser missão da Câmara que depressa se
fartou e a passou para as mãos da Polícia. Ora, este ano, parece que nem uma
nem outra se interessaram pela missão , o que deu origem a que o "mexilhão" , em
vez de se lixar, desta vez lucrasse de uma estadia grátis que, nalguns casos,
segundo percebi e constatei, se traduziu, para muitos, em semanas. Era vê-los
chegar, amigo chamava amigo e ali se fez um camping
de amigos e vizinhança com almoços e jantares à sombra dos toldos e até festas
de aniversário com direito a balões . .. tirando os momentos em que algum saía
e outros queriam entrar e lá se gerava mais uma discussão acesa… tal como em
qualquer bairro de vizinhos.
Aviso final: à data da nossa
partida algo diferente iria ocorrer na zona. A polícia veio e colocou avisos
que a área entraria em obras na semana seguinte. Plantaram mais árvores e
corria a ideia que iriam construir novo passeio a olhar para o rio, o que
certamente roubará lugares de estacionamento. Outros diziam que provavelmente
iria acabar ali o paraíso de Boiro para
autocaravanas. Desconhecemos o que sucedeu depois. Era hora de partir.
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