Edimburgo (pronunciada Edimbrá), capital da Escócia, aquela
que muitos imaginam escura e chuvosa, é, ao invés, colorida, festiva e alegre.
Foi em agosto, o que não será igual a janeiro, suponho. Mas, se no inverno há
seguramente frio e mais chuva, a sua magia permanecerá intacta, aposto!
No verão, a partir de 2 de agosto até final do mês, numa mão, Edimburgo recebe, desde 1934, o festival marginal, “The Fringe”. Nesse período hospeda cerca de um milhão de visitantes, tornando-se um autêntico formigueiro festivo, composto pelos artistas que a ela concorrem assim como pelo público sedento da alegria das artes do espetáculo.
Muitos espetáculos são de rua, grátis, outros decorrem nas chamadas “venues”. Estas são às centenas em palcos ao ar livre ou em salas de espetáculo, como igrejas, bares...
Os espetáculos são igualmente às centenas,
tornando a escolha uma verdadeira odisseia, dentro de um cardápio que engloba
música, dança, teatro, magia, comédia... Aliás, a palavra “comédia” é que
colocou este festival um pouco à margem, porque havia quem não lhe atribuísse
qualidade, mas depois da Grande Guerra as pessoas precisavam de divertimento e
alegria. Agora, a alegria extravasa para as ruas com as técnicas criativas de
publicidade usadas pelos artistas para cativarem público.
Na outra mão, Edimburgo oferece a sua monumentalidade
histórica e arquitetónica, com dezenas de museus, jardins sorridentes, ruas espaçosas
de uma arquitetura majestosa.
A cidade é como que dividida ao meio pelos jardins de Princes Street; na parte de cima, espreita e ergue-se a Old Town, uma pincelada medieval e gótica.
É nesta parte que fica a famosa Victoria Street, a rua de
lojas coloridas que correm numa ligeira curva a qual dizem ter servido de
inspiração para a Diagon Alley, da saga Harry Potter (tenho muita pena, mas
nestas coisas sou muito adolescente e reparo sempre nelas).
Descendo a rua chega-se a Grassmarket, praça da qual se
avista o deslumbrante castelo de Edimburgo (neste capítulo, não sejam tolos
como eu! Esqueci-me completamente que os bilhetes podiam esgotar, o que é
perfeitamente lógico com um milhão de visitantes… fiquei enraivecida porque nem
se tem direito a entrar no átrio do mesmo. Em parte, porque este é ocupado pelo
recinto que serve de palco à parada militar exibida todas as noites, plateia
essa que mais parece um estádio de Quidditch, a qual, obviamente, só é montado
no verão.)
Perto, fica também o cemitério Greyfriars, paredes meias com
várias habitações e palco de uma das lendas da cidade que envolve um homem e o
seu fiel amigo, o cão Bobby. O canídeo terá passado 14 anos guardando o túmulo
do seu dono e era acariciado pelos habitantes. Teve depois honras com a sua própria
sepultura à entrada da igreja do cemitério e ainda uma fonte e estátua na rua
em frente ao pub com o seu nome. Agora são os turistas a afagar-lhe o nariz,
ato que bloqueia a rua e que deve fazer com que os nativos (e não só) muito
resmunguem.
Também dizem que J.K. Rowling se inspirou em alguns dos nomes
inscritos nas lápides do cemitério para criar as personagens de Harry Potter,
como o maléfico Riddell, “outro-eu” daquele-que-não-posso-nomear. A pedra da
lápide contrasta com a da sua esposa, porque muitas pessoas escrevem
impropérios que levam à sua constante limpeza.
Por estas razões o cemitério acolhe múltiplos roteiros de
visitas guiadas, inclusivamente de noite! Aliás, lendas repletas de feitiçarias,
bruxas e fantasmas são o pão nosso de cada dia nesta cidade. Só para terem uma ideia,
as ruivas (que é algo que não se vê na Escócia!) eram consideradas bruxas na
Idade Média e por isso perseguidas e castigadas.
Diz um escocês que um erro de turista é comprar na Royal
Mile, a longa avenida que vai desembocar no palácio de Holyrood, residência
oficial do rei de Inglaterra, outrora residência de Mary, Rainha da Escócia.
Frente ao palácio fica o moderno Parlamento escocês, aberto ao público e com uma
simpática cafetaria que vende bolos caseiros formidáveis e baratos.
No topo do largo, ergue-se um monte verde que parece um bolo
certeiramente cortado por uma faca. Na realidade, assenta num antigo vulcão e
foi batizado de Arthur´s Seat e para lá se chegar é preciso ser persistente na
arte de subir.
É este, pois, o lado mais visitado da cidade por ser o mais
monumental e também porque bares, residências universitárias, hostels, lojas
e os famosos “closes” - entradas escusas por entre os prédios que desembocam em
largos e jardins silenciosamente diferentes do bulício das ruas principais.
Curiosamente, há também roteiros só com estes closes.
No lado oposto, e não menos deslumbrante, fica a New Town,
mais neo-clássica e georgiana. Nesta parte, espreita também uma das colinas
panorâmicas da cidade (mais um vulcão extinto), ponto ideal para observar o
pôr-do-sol: Calton Hill. No pico da sua
alcatifa verde espreitam vários monumentos como o Nelson Monument, uma réplica
inacabada do Parthenon de Atenas, o Observatório da Cidade e, espantem-se, um
canhão português!
Entre vaguear pelas ruas, observar o espírito da festa,
tentar ver espetáculos, absorver a beleza das ruas, entrar e sair de closes,
andar de autocarro (a cidade tem um ótimo sistema de transportes públicos,
prático e funcional), entrar e sair de igrejas que são bares e de bares que
revelam múltiplas cenas (literalmente cenas do léxico teatral!), admirar
bijuteria celta e outro cem número de ações, dois dias e meio são
manifestamente pouco.
Ficaram de fora inúmeros museus, livrarias, bairros, o
castelo (continuo furiosa comigo mesma!!!) e grande parte das ruas e praças da
New Town, portanto, contrariamente ao que dizem, vou repetir um sítio onde fui
feliz. Até já, Edimbrá!!!
Sem comentários:
Enviar um comentário