A arte xávega não é pintura, não é escultura, não é dança,
mas implica uma rede de cerco e um saco cónico para capturar o peixe prateado, a
partir do engenho do homem e da sua força braçal, com a ajuda dos bois. Pratica-se,
ainda hoje, em Portugal, ao longo do litoral norte português.
Em criança, lembro-me dos bois na praia de Vieira de Leiria a
puxarem as redes, mas nunca ninguém me explicou que fazia parte de uma arte. Hoje,
substituindo os bois, os tratores lá estão, ora puxando ora estendidos na areia,
lazeirando quando a faina termina ou, se o mar e a meteorologia o não
permitirem. Na segunda quinzena de agosto, não pudemos ver o puxar das redes, “o
mar estava bravo”, palavras de pescador, “Só lá para quinta-feira”. (E ainda só
era sábado).
Já na Figueira da Foz, mais concretamente na Costa de Lavos, dias
antes, a labuta xávega aconteceu.
(foto de A.D.)
Em qualquer destas localidades costeiras, o mar, como fruto
do rendimento, era complementado com a ajuda da terra. Os pinhais, do outro
lado do mar, davam a camarinha, vendida pelas mulheres dos pescadores nas
praias, ao jeito de saquinhos de tremoço. Isto no tempo em que a procura de banhos se torna
moda, (e no tempo em que os pinhais não eram devorados pelos incêndios), e estas
populações, não enriquecendo com os frutos do mar nem com os da terra, viraram
as mãos para a nova galinha dos ovos de ouro, alugando quartos, rooms, zimmers.
Hoje, apesar do turismo, Vieira de Leiria continua a ser pobre, quer de vidas quer
urbanisticamente.
Mais acima, na zona de Ílhavo, a Praia da Costa Nova, com mar
de um lado e rio de outro, teve o engenho e arte de adotar os antigos palheiros
para habitações de férias que hoje apetecem e são capa de muitos reels e
Instagram de numerosos turistas. Se esta seria e é procurada por
famílias da cidade com bolsos de linho branco mais desafogados e agora também pelos
turistas, Vieira seria e continua a ser a pátria de gente da Terra, e dos emigrantes
que a ela regressam nos meses de verão.
Seja como for, de Ílhavo ou de Vieira de Leiria (Murtosa ou
Ovar), muitos pescadores partiram. Durante os meses de Inverno, a partir de
meados do século 18, aí vinham eles Rio abaixo, Tejo abaixo, tornando-se nos “nómadas
do Rio”, como os batizou Alves Redol. Instalaram-se em aldeias como Palhota e Escaroupim,
no Ribatejo, à procura de outros frutos do mar- o sável e a lampreia substituiriam
o carapau e a sardinha. E foi nesses locais que ergueram as suas palafitas, nascendo
assim as aldeias avieiras.
Escaroupim ainda lá está, preservando algumas dessas
palafitas e reunindo, num pequeno museu, a história do Rio e das suas gentes.
As embarcações lá continuam embaladas pelas ondas do tejo e
alguns dos descendentes vieirenses lançaram mão a outras aventuras, rio acima rio
abaixo. Falo das visitas guiadas (Rio-a-Dentro), um simpático passeio que
varia entre uma e duas horas, contemplando as cores do Tejo, admirando as ilhas
da Garça, do Cavalo e ainda as povoações ribeirinhas.
Conselho de autocaravanista: se lá forem no verão, aproveitem
para descansar e refrescar na piscina do parque de campismo de Escaroupim, um
espaço simples, à espera de renovações e de mais visitantes.
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