Sem casinha às costas, como chegar de Amesterdão a Groningen,
terceira cidade da Holanda e lá bem a norte?
Uma das hipóteses é o comboio, embora o modo mais económico
seja definitivamente o Flixbus. Os preços variam de acordo com o horário e a
antecedência com que se reserva. Partindo às 19.30 conseguimos bilhete por 10 €
cada. Tendo em conta que são mais de duzentos quilómetros com possibilidade de
voltar a admirar os campos floridos, não esteve nada mal.
Groningen é a capital mundial da bicicleta (145 km de
estradas para biclas), é a cidade da Holanda com a população mais jovem, na
média dos 36 anos, fruto de nela estudarem 55 mil estudantes. Graças a um
deles, percorremos céus e estradas até lá, mas sempre a pensar na casinha de rodas,
a qual poderia ter rolado e transportado biclas pessoais. Assim, entre
empréstimos e aluguer (só para dar uma ideia, a empresa onde alugámos tem na
rua 11 mil bicicletas a circular), conseguimos fazer como os “romanos” e
pedalámos uns bons quilómetros, sempre com muito cuidado porque a experiência e rapidez dos outros era
aflitiva.
No primeiro dia, a sensação de estar em Groningen é peculiarmente
estranha, porque se pensa “onde estão os carros?”, “Como consegue haver espaço
para tanta bicicleta?”… depois entranha-se e deseja-se um mundo para sempre
assim, os estranhos afinal somos nós…
A zona central é um plano circular, outrora rodeado de muralhas,
hoje, com um canal limítrofe e outros interiores, mais largos do que em
Amesterdão, mas igualmente cheios de charme, sobretudo aqueles onde se fixam as
singulares casas-barcos.
Logo à chegada, ao lado da paragem do Flixbus, fica o Museu
da cidade, uma construção moderna que alberga obras de arte, nomeadamente pintura
local e contemporânea. Outro museu é o Náutico, ambos praticam preços pouco
convidativos.
Do outro lado da praça do museu “amarelo” fica a Estação de
comboios, um edifício elegantemente gótico- renascença, do séc. XIX. O teto do hall
é de “papier-maché”, com motivos alusivos ao trabalho, tempo e correios.
Deambular pelas ruas e pelo perímetro turístico é
extremamente agradável. Aconselhamos:
- Rua Boterngestraat , toda ela muito elegante, com edifícios
históricos, atualmente alguns deles faculdades. Numa das ruas laterais, a segunda
mais antiga universidade do país, na qual os professores ainda envergam as típicas togas.
- Praça Grote Markt – com o posto de turismo e a Câmara (alegremente
decorada com vasos de tulipas), o soberbo café “Três irmãs”, dono de três
edifícios e de variadíssimas marcas de cerveja.
Atrás da Câmara, o magnífico edifício Goldoffice, datado de
1635, que funcionava como escritório de coleta de impostos. Na sua fachada pode
ler-se “ A César o que é de Cesar".
- Praça Vismarkt – onde se realiza o mercado semanal, o qual
se veste de múltiplas roupagens. Consoante as épocas, peixe, fruta, carne ou
flores ou artesanato. Quando chegámos vendia os víveres habituais (e os famosos
e já internacionais pastéis de nata "tugas"), na sexta-feira de Páscoa chegaram
as flores, na segunda-feira de Páscoa o artesanato. Sem mercados, a praça é uma
imensidão de largo vazio, com outro encanto.
- O jardim Prinsenhoftuin, estilo renascença, com os seus
arranjos florais e arvoredos labirínticos, nas traseiras de um antigo palacete,
agora hotel.
- A igreja central, Martinitoren, visível de todos os pontos
da cidade, com os seus 97 metros de altura.
- O edifício governamental, com a sua fachada de três cabeças
de reis e, nas traseiras, as portadas tão tipicamente holandesas. Perto, a estátua
de S. Jorge e o Dragão.
- Deixo para o fim os pontos-pérola de Groningen, três dos
seus cinco hospícios ou asilos.
O mais antigo, Holy Spirit House, fundado no séc. XIII. Nele
acolhiam-se pobres, doentes, idosos. Hoje, neste e nos outros, as casas são habitadas
e no interior dos pátios (todos eles são murados) há um pequeno relvado ao
centro (que belos banhos de sol na Páscoa primaveril por lá vi!) e o espaço é minuciosamente
decorado com flores e peças decorativas ternurentas.
O St. Geertruid foi fundado em 1405, recebia pobres e
doentes, mas também peregrinos.
O mais encantador de todos, St. Anthony Gasthuis, de 1517, mais
afastado do centro da cidade por albergar doentes de pragas e doenças mentais,
é um reino de paz , onde moram vizinhos simpáticos que nos cumprimentaram com
prazer quando dissemos que éramos portugueses, “do país do sol!”.
- As pérolas seguintes, fora do âmbito histórico são dois espaços
incontornáveis, com vida e muito apreciados pelos holandeses, os jardins. O do sul
com lagos, relvados, espaços lúdicos para todas as idades, zona de animais com
veados e o do norte, igualmente verde e com lagos.
Em ambos sempre gente
pedalando, piquenicando ao final da tarde e apanhando banhos de sol a qualquer
hora, desde que o dito surja no céu.
Mais para sudoeste ainda o lago Hornsemmer, o qual publicito
embora sem ter tido o prazer de o visitar. Falo dele porque é considerado a
praia dos “groninguenses” e porque por lá pernoitam companheiros de casinhas
com rodas.
A norte, a zona Reitdiephaven, recente bairro de vivendas de madeira
com um toque nórdico, zona colorida onde habitam jovens casais com muita criançada,
ao lado do canal.
Enquanto “morámos” nesta jovem e animada cidade, o sol foi companhia
constante, apesar de Groningen ter fama e proveito de ser varrida pela chuva e
frio, por isso trouxemos na bagagem uma impressão suave e azul.
Por amor voámos para longe, rumo a momentos em família e
ficou a vontade de repetir, certamente sem quartos alugados e sem aviões, autocarros
ou carros alugados e quase de certeza viajando “de casaascostas”.
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