Carnaval de 2016
Sameiro
Como passear
debaixo de chuva ou como estar dentro de uma autocaravana com chuva lá fora,
quando cá dentro não são dois, nem três, mas sim quatro e uma cadela ?
A solução é
partir na mesma porque a viagem só pode acontecer naqueles dias e ficar em casa
é impensável. É aproveitar as abertas ou andar debaixo de chuva com chapéus de
chuva e afins. É dedicarmo-nos a outros passatempos como “Jungle Speed”, filmes
ou té mesmo estudar ou corrigir testes.
Em cinco
dias muitos “projetos “ falharam, mas algumas expetativas realizaram-se. Falhou
a ida para Eco resort do Rossim, em
pleno coração da Serra da Estrela. Havia enviado um email antecipadamente e tiveram a amabilidade de me explicar que se
realizaria nesses dias um encontro de motards
no espaço que eu sonhava calmo e idílico. Optámos por outro camping, apesar de eu não ser fortemente
adepta dos mesmos: o do Sameiro a meia dúzia de quilómetros de Manteigas e bem
inserido em plena natureza.
Quase vazio, uma família em tendas e roulottes , duas AC. Fora estes, o restante
camping já está transformado em
bairro de roulottes e barracas , o habitual em Portugal.
As expetativas
realizaram-se: a temperatura desceu, durante a noite nevou… enquanto subíamos a
serra , no dia seguinte, uma mão gigante havia salpicado as montanhas de
farinha. Mais à frente, já nas Penhas Douradas, a farinha transformou-se em manto branco e já parecia natal novamente em
vez de carnaval. Brincámos pois, disfarçados de friorentos apesar de o termómetro
marcar apenas um grau que não chegava a negativo. A cadelita ficou feliz a confundir-se
com o branco da alcatifa e nós também.
Antes
Depois
Nova
surpresa uns quilómetros mais abaixo já em Seia: uma feira de queijo e enchidos
com gente, cheiros e música alegre dos Pauliteiros de Miranda. Acompanhada de
vinho tinto e arroz de entrecosto com pimenta, a coisa compôs-se. Ah ! E a
chuva parou.
Só depois de
muitas curvas, já fora do perímetro da Serra da Estrela , ali a meias já com o
Açor, é que a nossa perseguidora voltou. Nós a pararmos na tão divulgada ASA de
Barril de Alva e ela a chegar novamente. Felizmente a “molha parvos”. Estreámos
pois o Barril, mas como estreantes não tivemos a sorte de ser batizados pelo
Presidente da Junta . Passou sempre quando não estávamos e olhem que por lá
pernoitámos duas noites! Numa das manhãs ainda deu para ver o rio ( o Alva,
claro!) e a aldeia.
Adiámos a ida à praia do Urtigal para o dia seguinte e foi
asneira, nestas coisas do tempo há que aproveitar a aberta , no dia seguinte
nunca se sabe e naquele que chegou só se soube a lama do caminho…
O “projeto" de conhecer as 5 aldeias do grupo Açor não foi adiado , mas ainda assim não se
realizou totalmente. Percursos pedestres, nem vê-los , quanto mais fazê-los… Ficámo-nos
pela Aldeia das Dez e Benfeita com a casa às costas. A primeira revelou-se
pouco interessante. Com chuva e quase deserta foi um assombro de desolação e
solidão.
Já Benfeita sorriu um pouco mais e tudo porque se na primeira o xisto
era inexistente na segunda lá foi surgindo nalguns pontos: ao lado da cascatazinha do rio e praia fluvial
e na altaneira torre da da Paz, aquela que no dia 7 de
maio de 1945 anunciou o fim da guerra. Ainda hoje assinala essa data tocando
naquele dia 1620 badaladas.
O título “Aldeias
de xisto”, já se vê, não estava em alta por estas bandas, a pouco menos de 30 quilómetros,
em Piodão , já se sabe, o título cairia que nem uma luva mas a chuva e a falta de coragem para
enfrentar tanta curva em AC ainda não foi desta que se venceu.
Com pouco xisto
mas todas elas banhadas pelo Alva e rejuvenescidas pelas suas praias fluviais (
no verão, pois então) ainda revisitámos Avô e Coja, esta última de todas elas
a mais animada e movimentada.
Avô
Coja
No dia de
entrudo ainda mantém o seu desfile do qual apenas ouvimos os ecos do seu ensaio
na manhã de terça-feira, na vizinha Barril.
Curiosamente
o nome Barril relaciona-se com a chuva: num dia de grandes cheias, vários barris eram
arrastados pelas águas do Alva e foi então que um moleiro, ao conseguir
levá-los para a margem, atingiu o feito de fazer com que a produção de vinho
desse ano aumentasse.
O Alva lá
estava, o moleiro não vimos, o vinho só se o comprasse, mas o barril
jocosamente lá estava…
Depois da
partida, faltava Góis, outro destino alegre no verão, agora sem vivalma e uma
miragem daquilo que foi… Numa aberta ainda deu para uma breve espreitadela da
praia fluvial.
Faltava Coimbra
para a última noite. As águas corriam, quer da chuva quer do Mondego, e pensar
que em janeiro tudo galgaram até chegar ao mosteiro de Santa Clara , ainda a recompor-se devagar
da invasão.
A chuva aumentou, nem apeteceu um salto à Briosa
e logo por azar a sorte não sorria mesmo: comer uma francesinha no café Atenas foi
mais um projeto adiado, o dono devia estar a brincar ao carnaval…
Fica para
a próxima, assim como sol , assim como o
passeio. A chuva veio para ficar e acompanhou-nos até casa, valha-nos a páscoa,
a tradição não pode falhar.
2 comentários:
lindo o relato, até fico envergonhado a pensar que não sai pelos mesmos motivos,chuva,chuva, chuva.
Ora pois... aquela cena do /Sameiro/podia bem ser evitads ja que ali pertinho em Manteigas... net teriam... sem sair da toca... kkk
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