(consultar roteiro)
Deus criou o mundo em sete dias, dizem alguns, e espanta-me
como ainda teve tempo para criar, na terra, ilhas grandes e pequenas, e, dentro
destas, fenómenos tão díspares e
tremendos como os vulcões. Ou não, não terá sido esse Deus, Vulcano, sim, é o
responsável… Ou não novamente, tudo se resume a magma e gases e outras
partículas e substâncias e ações que a vulcanologia explicará…
Com deuses ou ciência, o certo é que um vulcão ativo é como
um imenso dragão incontrolável, destruidor e malévolo. No entanto, quando este
dorme encerrado pelos séculos, há certos fenómenos terrestres que gostamos de
apreciar. Em S. Miguel, Açores, são vários.
As caldeiras ou fumarolas brotam da terra em favos, em locais
específicos como as Furnas. Ao lado da lagoa do mesmo nome, espalham-se por um
vasto território, que impregnam o ar de enxofre e a paisagem de fumo.
Dir-se-ia um cenário do Hades e não de Vulcano, mas ainda assim
visita-se e paga-se para o ver. Mais ainda: o Homem, com a sua eterna
criatividade, inventou para esse terreno borbulhante um sistema único de fogão
para panelas de pressão naturais. É bizarro sentir o cheiro a ovos podres e ver
espalhadas as placas anunciando restaurantes que depois nos presentearão com o
exclusivo cozido à moda das Furnas!
Falar do seu sabor e aspeto é conversa para
outro capítulo, agora é hora de falar em poças que fumegam…
Estas, ao lado da lagoa das Furnas, e as outras na própria
localidade, com um cheiro ainda mais intenso e um barulho ensurdecedor de lava
e fumo da terra zangada.
Também na povoação da Caldeiras, em Ribeira Grande, um tanque
imenso borbulha e ali perto, no Miradouro das Caldeiras, o guarda dos cozidos
explica-nos que está ali desde a madrugada velando os cozidos alheios, até que
os donos os venham levantar.
Em boa hora chegaram, e lá os vimos a sair do
fogão. Era o final do dia e a família “Silva” (nome fictício que assenta que
nem luvas a qualquer família portuguesa), ia saciar-se num belo convívio
familiar em mesas de piquenique com duas panelas cheias (as zonas de piquenique
proliferam na ilha e os micaelenses sabem bem aproveitar o cenário que Deus
lhes deu).
Cozidos à parte, esta questão do vulcanismo proporciona ainda
outra atração mais agradável, sobretudo terapêutica e relaxante: a possibilidade
de banhos quentes em locais chamados termais com direito a enquadramento
paisagístico exótico e paradisíaco.
Aquele que tem mais “glamour” pela grandiosidade da “poça” e pela flora circundante é o Parque Terra Nostra.
Num terreno com nascentes, há
muitos séculos atrás, um abastado americano lembrou-se de ali construir a sua
casa de madeira e uma piscina com uma ilha no centro. Mais tarde, veio um
visconde que lá construiu a sua mansão e a sua esposa que lá concebeu um místico
jardim e mais tarde ainda um imaginoso jardineiro inglês desenvolveu o Éden e
agora é um vê se te havias de gente a querer saborear as águas e o espaço.
Só vos digo, entrar na piscina morna e barrenta ( ou nos jacuzzis) debaixo dos
salpicos generosos da chuva é uma sensação que só se sabe provando-a…
E percorrer os trilhos e alamedas do jardim é uma viagem pelos
sentidos, sobretudo o visual, conhecendo a flora nativa mas também de outros
climas que nada têm a ver com os Açores.
Também na localidade das Furnas, destaca-se a propriedade
privada “Poça da Dona Beija”( sim , o nome tem mesmo a ver com aquela novela
brasileira…) , formada por várias piscinas termais num cenário exótico
fabricado mas muito apetecível.
O ideal seria mesmo um banho noturno, as altas temperaturas
das águas não combinam com o sol e calor do dia, mas apenas se se tiver por
perto uma cama para de imediato se ir sonhar e relaxar…
Na zona da Ribeira Grande há ainda um outro Parque, uma reserva
natural, a Caldeira Velha, com várias piscinas e uma cascata. Verde e sublime!
No entanto, apesar de ter um limite diário de pessoas por dia, pareceu-me que a
contagem não tinha sido contabilizada naquele dia… Pensei com os meus botões que o melhor seria
ir lá no Inverno.. Mas como há que aproveitar o dia e o Inverno ainda está
longe, o melhor foi aproveitar e misturar banhos quentes com frios.
Banhos frios seja… para o próximo capítulo!
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