domingo, 26 de agosto de 2018

Açores - Os banhos quentes



(consultar roteiro)



Deus criou o mundo em sete dias, dizem alguns, e espanta-me como ainda teve tempo para criar, na terra, ilhas grandes e pequenas, e, dentro destas,  fenómenos tão díspares e tremendos como os vulcões. Ou não, não terá sido esse Deus, Vulcano, sim, é o responsável… Ou não novamente, tudo se resume a magma e gases e outras partículas e substâncias e ações que a vulcanologia explicará…


Com deuses ou ciência, o certo é que um vulcão ativo é como um imenso dragão incontrolável, destruidor e malévolo. No entanto, quando este dorme encerrado pelos séculos, há certos fenómenos terrestres que gostamos de apreciar. Em S. Miguel, Açores, são vários.

As caldeiras ou fumarolas brotam da terra em favos, em locais específicos como as Furnas. Ao lado da lagoa do mesmo nome, espalham-se por um vasto território, que impregnam o ar de enxofre e a paisagem de fumo.




Dir-se-ia um cenário do Hades e não de Vulcano, mas ainda assim visita-se e paga-se para o ver. Mais ainda: o Homem, com a sua eterna criatividade, inventou para esse terreno borbulhante um sistema único de fogão para panelas de pressão naturais. É bizarro sentir o cheiro a ovos podres e ver espalhadas as placas anunciando restaurantes que depois nos presentearão com o exclusivo cozido à moda das Furnas! 



Falar do seu sabor e aspeto é conversa para outro capítulo, agora é hora de falar em poças que fumegam…

Estas, ao lado da lagoa das Furnas, e as outras na própria localidade, com um cheiro ainda mais intenso e um barulho ensurdecedor de lava e fumo da terra zangada.


Também na povoação da Caldeiras, em Ribeira Grande, um tanque imenso borbulha e ali perto, no Miradouro das Caldeiras, o guarda dos cozidos explica-nos que está ali desde a madrugada velando os cozidos alheios, até que os donos os venham levantar. 







Em boa hora chegaram, e lá os vimos a sair do fogão. Era o final do dia e a família “Silva” (nome fictício que assenta que nem luvas a qualquer família portuguesa), ia saciar-se num belo convívio familiar em mesas de piquenique com duas panelas cheias (as zonas de piquenique proliferam na ilha e os micaelenses sabem bem aproveitar o cenário que Deus lhes deu).



Cozidos à parte, esta questão do vulcanismo proporciona ainda outra atração mais agradável, sobretudo terapêutica e relaxante: a possibilidade de banhos quentes em locais chamados termais com direito a enquadramento paisagístico exótico e paradisíaco.

Aquele que tem mais “glamour” pela grandiosidade da “poça” e pela flora circundante é o Parque Terra Nostra. 









Num terreno com nascentes, há muitos séculos atrás, um abastado americano lembrou-se de ali construir a sua casa de madeira e uma piscina com uma ilha no centro. Mais tarde, veio um visconde que lá construiu a sua mansão e a sua esposa que lá concebeu um místico jardim e mais tarde ainda um imaginoso jardineiro inglês desenvolveu o Éden e agora é um vê se te havias de gente a querer saborear as águas e o espaço.

Só vos digo, entrar na piscina morna e barrenta ( ou nos jacuzzis) debaixo dos salpicos generosos da chuva é uma sensação que só se sabe provando-a… 



E percorrer os trilhos e alamedas do jardim é uma viagem pelos sentidos, sobretudo o visual, conhecendo a flora nativa mas também de outros climas que nada têm a ver com os Açores.








Também na localidade das Furnas, destaca-se a propriedade privada “Poça da Dona Beija”( sim , o nome tem mesmo a ver com aquela novela brasileira…) , formada por várias piscinas termais num cenário exótico fabricado mas muito apetecível.




O ideal seria mesmo um banho noturno, as altas temperaturas das águas não combinam com o sol e calor do dia, mas apenas se se tiver por perto uma cama para de imediato se ir sonhar e relaxar…

Na zona da Ribeira Grande há ainda um outro Parque, uma reserva natural, a Caldeira Velha, com várias piscinas e uma cascata. Verde e sublime! No entanto, apesar de ter um limite diário de pessoas por dia, pareceu-me que a contagem não tinha sido contabilizada naquele dia…  Pensei com os meus botões que o melhor seria ir lá no Inverno.. Mas como há que aproveitar o dia e o Inverno ainda está longe, o melhor foi aproveitar e misturar banhos quentes com frios.



Banhos frios seja… para o próximo capítulo!

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