Férias 2015: Dias 3 e 4
28 e 29 de Julho
Chega de preguiça, há que
enfrentar a estrada e apreciar a rota.
O GPS continuava a assinalar
muitos quilómetros até ao destino. Depois de Anglet, Bordéus, Angoulême,
Limoges… e por aí fora até à Alsácia.
Sem destino traçado para esse
dia, apenas rota, aplicámos a técnica de olhar para o mapa Michelin e procurar
um local de interesse, sublinhado a verde. Depois de consultar o guia de França,
no percurso até Limoges ou Guéret ou Montluçon
ou… (dependendo do cansaço, estado de espírito ou outros fatores), destacou-se
um nome. Aliás, mais do que um nome, uma história hedionda, feia. Uma história
que relatava o massacre ignóbil de uma vila inteira pelos nazis. Triste desconhecermos
tal, daí estar na hora de conhecer já. Apontámos pois para Oradour-sur-Gaene, a
chamada “vila mártir”.
Antes porém, a meio da tarde, o corpo pediu descanso e
Rochefoucald foi a paragem apetecida. Apenas porque havia um castelo e os
castelos franceses têm sempre um “je ne sais quoi” que atraem como íman.
Situado na vila pacata do mesmo
nome provocava uma forte impressão com as suas torres a lembrar Os pequenos vagabundos (que afinal são
belgas e não franceses), infelizmente acertámos no dia da semana em que estava
fechado a visitas. Pouco ficámos a saber sobre o mesmo, apenas o que
consultámos depois: palácio de um tal Sr.
de la Roche, do séc. XI, à beira do rio Tardoire e
rodeado de floresta.
Nada mais havendo a tratar
chegámos ao final da tarde a Oradour-sur- Gaene, infelizmente debaixo de forte
chuvada o que nos impediu de visitar a vila mártir. Alias, a mesma, apesar de
estar a céu aberto, tinha as suas entradas fechadas, já que se transformou num
Centro de Memória” e é necessário retirar ingresso (grátis). Do lado exterior,
estacionados num parque de estacionamento misto ( N 45º 55´52,1´´ E 1º 02´ 04,7'' ) onde já havia outras AC (existe área de
serviço na povoação mas muito longe do Museu), víamos uns muros silenciosos e
opressivos, lá dentro espreitava a carcaça de um carro antigo.
A nova Oradour estava aberta,
apesar de quase deserta e fantasmagórica: três hotéis - um deles Hotel Milady
como o original , da vila massacrada - um supermercado, dois cafés, dois
cabeleireiros … e silêncio à noite.
Depois de uma noite de chuva e um
tráfego constante que mal nos deixou pregar olho, a manhã acordou com um sol
fraquinho, chuviscos e muitos ingleses estacionados ao nosso redor. Dir-se-ia
que os Aliados haviam chegado… tarde de mais.
Para entrar na “Vila Mártir” desce-se uma escadaria do atual
Centro de Memória, depois de um túnel entra-se numa das ruas da antiga Oradour,
um museu tenebroso a céu aberto, um testemunho silencioso e escuro do dia 10 de
junho de 1944.
Sem que se perceba muito bem porquê, talvez porque sim, os SS ,
na sua travessia de França até à costa, na Normandia, para combaterem os Aliados que chegavam depois
do Dia D, tomaram a decisão de exterminar toda uma cidade. 642 pessoas
assassinadas, entre elas homens , mulheres e crianças. Os homens fuzilados e
queimados em pontos estratégicos da vila, as mulheres fuziladas e consumidas
pelas chamas na igreja local. Sobreviveram cindo homens e uma mulher, conseguiram
fugir à barbárie, no meio da confusão. Depois do hediondo crime, os SS lançaram
fogo a Oradour. Hoje, para além das paredes que ainda se mantêm de pé ( e que
vão sendo ajudadas para que não caiam) , sobreviveram os objetos de ferro que para ali estão, olhando-nos gravemente.
O tempo parou literalmente. Pedem-nos
para não esquecer, olhamos perplexos, atónitos. Caminhamos em silêncio, como se
incomodássemos os mortos; caminhamos em silêncio, como se os SS pudessem corporizar-se e regressar. Nas
portas e paredes nomes e profissões de pessoas que foram de carne e osso e não
os deixaram Ser mais. Não é um cenário de filme, apesar de o tempo ter parado.
Não são nomes fictícios. O tempo parou literalmente.
No cemitério , o Memorial, nome
após nome, de todos quantos deixarem de Ser naquele 10 de junho; um frasco com restos
mortais consumidos pelas chamas e alguns objetos mais íntimos, mais pequenos. “Lembra-te”,
pedem-nos. Como é que se pode esquecer ?
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