Dia 5 (Cong – Donegal – Londonderry / Derry)
Mais um dia que se avizinhava longo de estradas, e o primeiro
em solo de uma outra Irlanda, a bem dizer a mesma, mas no entanto regida por
outros nomes e outros governos.
Seria dia para furar um pouco o desenho do trajeto e parar em
Cong, um pequeno lugarejo por onde havíamos passado na véspera e nos pareceu
atraente. E era. Foi cenário de um filme, o antigo “Quiet Man”, com John Wayne
e revelava um jardim frondoso, quase bosque, com as ruínas de uma abadia, Cong
Abbey, outrora lar agostiniano, fundada por rei irlandês.
Museu de Cong
Cong Abbey
Já quase na fronteira para a Irlanda do Norte (geográfica,
porque a física por hora não existe, sabe deus o que ocorrerá depois do
Brexit…), pausa para almoço em Donegal.
pub - Donegal
castelo de Donegal
Sempre pensei que a cidade fosse maior,
na realidade pouco havia para ver, a sua larga praça e o seu
castelo. Bisámos a sopa de peixe, e ainda bem que o fizemos, a sua qualidade
era muito superior à de Doolin.
Também foi em Donegal que não nos esqueceremos de mais um
pequeno episódio relacionado com o carro alugado, o já mencionado Adblue.
Uma luz acendeu ou acendia desde há muito, e foi em Donegal que decidimos
investigar. O sinal de falta de óleo piscava, o livro de instruções sugeria a
necessidade de adicionar Adblue, produto desconhecido para os seis
portugueses desta comitiva, na realidade trata-se de um fluido adicional para
carros diesel. Afinal resolveu-se facilmente, um telefonema para a Europcar que
nos aconselhou a comprar o dito, pedir assistência no local, guardar fatura
para futuro reembolso. Ainda ficámos um pouco perplexos porque o livro falava
que sem o “precioso” líquido, o veículo podia deixar de trabalhar. Na
realidade, foi estranho a empresa não ter cuidado devidamente do assunto, antes
de nos entregar o carro…
Quando chegámos a Londonderry (nome oficial desde o reinado
de James I)/ Derry (nome oriundo de “Doire”, que significa “bosque de
carvalhos” e denominação mais vulgar) já nos tínhamos esquecido da questão, era
hora de passeio pelas suas ruas quase desertas. Talvez por ser domingo, o
certo é que o novo apartamento ficava mesmo no centro, na Shipquay Street, e os
poucos transeuntes eram turistas como nós.
Circundámos a muralha que rodeia o centro antigo ( ergue-se a uma altura de 8 metros e foi palco do grande cerco de 1689, quando 7000 pessoas morreram de fome e doença).
Arquitetura inglesa na Shipquay Street
Circundámos a muralha que rodeia o centro antigo ( ergue-se a uma altura de 8 metros e foi palco do grande cerco de 1689, quando 7000 pessoas morreram de fome e doença).
Do alto do Butcher´s Gate, uma das suas portas, perscrutámos
o verdadeiro motivo da visita: o Bogside, ou seja, o bairro católico impregnado
de murais alusivos à luta histórica entre católicos e protestantes.
Nas vizinhanças, o monumento alusivo ao “Bloody Sunday”, o
domingo sangrento de 30 de janeiro de 1972, no qual, nos confrontos entre
católicos, protestantes e exército inglês, morreram 14 pessoas (entre eles
crianças) e mais de uma vintena sofreu ferimentos.
Os nomes estão lá gravados, o ambiente em volta nada deixa transparecer, mas no ar paira a sensação que estamos a ser apenas “voyeurs” intrometidos numa luta que ainda dói e que ainda é. A música dos U2 ecoa nos ouvidos, deslizamos incomodados.
Os nomes estão lá gravados, o ambiente em volta nada deixa transparecer, mas no ar paira a sensação que estamos a ser apenas “voyeurs” intrometidos numa luta que ainda dói e que ainda é. A música dos U2 ecoa nos ouvidos, deslizamos incomodados.
I can't believe the news today
Oh, I can't close my eyes
And make it go away
How long?
How long must we sing this song?
How long, how long?
'Cause tonight, we can be as one
Tonight
Sunday, Bloody Sunday
Sunday, Bloody Sunday
Sunday, Bloody Sunday, Sunday, Bloody Sunday (alright)
Sunday, Bloody Sunday
Sunday, Bloody Sunday, Sunday, Bloody Sunday (alright)
And the battle's just begun
There's many lost, but tell me who has won
The trench is dug within our hearts
And mothers, children, brothers, sisters torn apart
There's many lost, but tell me who has won
The trench is dug within our hearts
And mothers, children, brothers, sisters torn apart
(…)
Apesar da dor, ou por causa dela, apesar da recente liberdade,
ou falta dela, o ambiente da cidade à noite era estranho. Magotes de gente do
outro lado da ponte, numa área apelidada de Ebrington, em tudo com ar de ter
sido zona de fábricas e estar agora a ser modernizada.
Realizava-se um festival
de música, e nas redondezas, adolescentes, homens e mulheres, desde os 20 aos
60, entornavam álcool e caminhavam meio embriagados, gritando e expandindo os
corpos, invariavelmente pesados e gordos.
A festa ouviu-se pela noite dentro, quem tinha vidros duplos
conseguiu dormir. Era noite de domingo em Derry, mas não eram os U2 a cantar.
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