Três dias seria o timing ideal para estar em Dublin?
Ficámos três noites, na verdade, dois dias e meio que afinal se revelaram
insuficientes.
Dublin é uma cidade atraente, fresca, relaxante. O seu centro
e principais pontos de interesse percorrem-se facilmente a pé, na realidade não
usámos uma única vez qualquer tipo de transporte, à exceção da manhã em que
entregámos o Seat alugado e aproveitámos para uma pincelada visual pela zona moderna, à beira rio.
À beira do rio Liffey
E, no final, o Airlink express bus para chegarmos ao
aeroporto (aliás, revelou-se uma boa solução. Os bilhetes podem comprar-se em
inúmeros pontos da cidade, perto da Ha’ penny Bridge, por exemplo, ou na
O´Connell Street. Em 20 minutos e por 7 € chega-se confortavelmente ao
destino).
Ha’ penny Bridge ou Ponte de Metal. A sua alcunha deve-se à portagem que tinha de se pagar de 1816 a 1919 (halfpenny).
Ficámos hospedados num pequeno apartamento na zona norte, a
poucos passos de uma das mais movimentadas ruas da cidade, a O’ Connell, e onde
se ergue o Spire, uma agulha metálica de 120 metros de altura, que ali se
encontra a substituir a estátua de Nelson, destruída em 1966 por uma bomba do
IRA.
A nossa casa, a branca, num 2º andar.
A cidade é atravessada
pelo rio Liffey que divide a zona norte do sudoeste e sudoeste de Dublin e não
parece nada afetada pela tão apregoada crise dos mesmos anos negros de
Portugal. Ergue-se, cosmopolita, jovem e repleta de turistas de múltiplas
nacionalidades, sobretudo grupos de jovens, alguns em cursos de verão.
Jovens estudantes em Temple Bar
Em qualquer das zonas há sempre pontos de interesse a
visitar, ou associados à arquitetura, ou à história, ou às artes (sobretudo
literatura e música), ao lado social (este sempre acompanhado da famosa
Guiness, a célebre cerveja escura com travo a café), ou simplesmente aquela
vertente excecional que só ocorre em algumas cidades, que é deixarmo-nos ir
pelas ruas e avenidas e sermos sempre surpreendidos...
A História e os grandes
nomes da literatura
Começando pela História. Trinity College é visita obrigatória
em Dublin e, claro, a sua antiga biblioteca, sede do famoso Book of Kells.
Este é um dos maiores tesouros da Europa medieval, um manuscrito iluminado
escrito em latim que contém os quatro evangelhos do Novo Testamento. Foi criado
pelos primeiros monges cristãos por volta de 800 DC. Para além do texto e da
caligrafia, o Book of Kells é um tesouro artístico no que diz respeito
aos elementos decorativos, muitos deles ainda hoje verdadeiros enigmas.
Trinity College, fundado em 1592. O seu relvado e pátios dão
as mãos a colégios como Oxford, e situa-se no coração de Dublin.
A visita (15 €) abrange a exposição “Transformando a
escuridão em luz” e a câmara principal da biblioteca antiga, com mais de 65
metros de comprimento, mais de 200.000 livros, que continuam a ser objeto de
consulta, e acima de tudo a sensação indescritível que é estar entre inúmeros
livros e corretores infinitos de madeira e papel, sabedoria e odor seculares.
Long Room
Os “dubliners” fazem ainda questão de mostrar ao mundo o seu
valor literário, destacando os seus escritores, como Oscar Wilde, Samuel Beckett, que estudaram naquela casa.
Aliás, estes mesmos e ainda James Joyce têm direito ao seu próprio museu (Dublin
Writers Museum e James Joyce Cultural Center) e volta e meia surgem em locais
estratégicos, como é o caso dos mais refrescantes e salutares jardins
espalhados pela cidade de Dublin, ou até no interior de pubs, cantos e
recantos.
Oscar Wilde relaxando sarcasticamente no Merrion Square
Personagens de Ulisses, de James Joyce , no centro de
Dublin
Os espaços verdes
apetecíveis
Não esquecer que estes espaços verdes são sempre muito
procurados por locais e turistas nos alegres dias de sol (e nos nossos “três”
dias na cidade, o sol foi-nos sempre sorridente), quer para passeios, quer como
zona de piquenique à hora do almoço.
Jardim de Merrion Square
Por falar em refeições, Dublin, assim como a restante ilha,
serve umas boas sandes frescas, preparadas no momento com ingredientes à escolha,
em certos supermercados. É sempre uma boa alternativa ao famigerado hambúrguer
dos pubs ou outras casas de pasto, mais ainda quando se pode comer ao ar
livre e percorrer um simpático jardim, como o de St. Stephen ou o Merrion Square.
Ambos os jardins se situam na zona sudeste, sobranceiros aos bairros
e longas avenidas de casas georgianas, uma delícia para a vista. Muitas têm
portas pintadas de cores alegres e às vezes elementos originais, assim como
varandas de ferro forjado e batentes ornamentados.
Uma pausa para uma
Guiness em Temple Bar
É claro que a visita a Dublin obriga necessariamente a um
intervalo num pub, caindo a escolha necessariamente na zona de Temple
Bar. Para quem apreciar a confusão, a noite é a hora eleita, mas se preferir mais
sossego, aconselho a hora do lanche.
Escolhemos precisamente Temple Bar, um dos pubs mais icónicos e antigos,
na zona com o mesmo nome. Homenageia um dos seus antigos frequentadores, um escritor
para variar, o pai de “Dubliners”, e recebe-nos com umas suculentas ostras de
sabor intenso a mar e um cardápio variado de cerveja, Guiness no topo da lista.
James Joyce, in Temple Bar
Peça uma “pint” e acompanhe com “oysters”😊
E pronto, já que a mencionei, tenho de referir a “fábrica”
ou loja ou atração do top de Dublin. Refiro-me obviamente à “Guiness
Storehouse”, uma experiência que todos os visitantes querem ter quando vão a
Dublin, mas a qual não me seduziu ao rubro. Trata-se sobretudo de uma excelente
aposta numa visita do tipo interativo, no interior de um magnífico edifício de
vários pisos, com direito à degustação de uma cerveja mais paisagem “aérea” e
em 360 º da cidade; falta-lhe o contacto direto e real com tudo o que é uma
antiga e atual fábrica de cerveja, ou seja, os 25€ não justificam a
experiência.
Vista do Bar
As “nossas”, na fase de repouso; a Harpa, símbolo da Irlanda
Não optando pela experiência da cerveja, existe a alternativa
do whisky, em Jameson Distillery Bow. Também inclui degustação do
precioso líquido que mete irlandeses a lutar com escoceses (qual é o berço de
origem?). Pormenores da experiência desconheço, terão de ser os leitores apreciadores
a contar…
Destilaria Jameson
Não optando por Temple Bar, qualquer zona é boa para entrar
num pub, como o Murrays, na O´Connell Street. A ementa, já se sabe, não é muito
variada (nesta altura da viagem outros pubs nos tinham passado “pelas mãos”):
a doce sopa de marisco, o habitual hambúrguer, o “steaw” e os famosos
“fish & chips”. O melhor mesmo é a alegria do ambiente, no qual a música tradicional
é sempre rainha. E, claro, sempre e inevitavelmente, a simpatia dos irlandeses.
Com um ar sempre relaxado e afável, chegam a parar na rua quando consultamos
aéreos (e certamente com ar de idiotas perdidos) o mapa, para nos perguntarem se
precisamos de ajuda.
Andar ao sabor do
movimento e daquilo que a visão nos dita
Muitas vezes não estamos perdidos, apetece-nos é deambular ao
sabor de uma qualquer onda... a dos outros, a das multidões, a da ausência de
multidões…
E foi assim que encontrámos, por exemplo, o jardim Dubh Linn,
com o seu relvado celta (nas traseiras do castelo de Dublin); ou a National
Gallery, onde, perante a quantidade de salas e a falta de tempo, apontámos para
o contemporâneo. “Vamos lá ali cumprimentar um Picasso e um Degas e , de
caminho, quem sabe, conhecer um Patrick Swift" ; ou a National Library, com a sua magnífica
sala de leitura circular.
jardim Dubh Linn
Mais um "Dubliner": Patrick Swift
Monumentos: o novo e o
antigo
Outras vezes procurámos mesmo:
Mercados, como Covered Market, com artigos de segunda mão e
algum artesanato simpático ou a Powerscourt Townhouse, um centro comercial
erguido num antigo palácio, com galerias de arte, joalharia e cafés.
Covered Market
E as igrejas. Curiosamente, Dublin apresenta duas catedrais.
A Christ Church Cathedral e a St. Patrick´s Cathedral. Ambas
imponentes e com relvados aprazíveis, a primeira, classificada como o edifício
mais antigo em Dublin.
Christ Church Cathedral
St. Patrick´s Cathedral
E depois ainda um Museu Viking (o Dublinia) ou um cruzar nas
ruas com um anfíbio louco transportador de capacetes e uivos de felicidade
vikings; ou o Castelo da cidade, ou, ou….
castelo de Dublin
As ruas animadas, a
música...
A animação está sempre presente, basta entrar ou passar perto
de um pub a qualquer hora do dia. Por isso, em Temple Bar, há um museu em
nome da música, Rock ´N´Roll Museum. Se não quiser entrar (as entradas não têm preços
muito convidativos), contente-se com a “Parede da Fama”, na qual se destacam os
grandes vultos musicais irlandeses, como os U2.
Wall of Fame
Percorrendo as ruas mais comerciais, como a Grafton Street, a
música está sempre na ordem do dia e ao vivo, assim como outro tipo de
animações. Uma cidade viva e musical!
Molly Malon, a vendedora de peixe e frutos do mar,
eternizada em música e estátua, na Grafton Street
Animação na rua
A repetir
Não houve tempo para tudo, nem os cordões da bolsa esticaram
para tudo, fica sempre algo para trás, a pensar, "pode ser que cheguemos aos cem
e que a reforma seja farta e um dia quem sabe aqui voltaremos"... Não foi a
primeira e não será a última visita, aqui fica o voto!
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